— Sente-se.
A voz dele cortou o ar com precisão.
Sem argumentos. Sem sorrisos. Sem gentileza.
Lívia obedeceu, sentando-se na poltrona de couro à frente da imensa mesa de vidro. Tentou manter as mãos firmes no colo, mas o frio no estômago entregava: ela estava nervosa. Muito.
Dante Ferraz a observava em silêncio.
Não havia uma pilha de currículos diante dele. Não havia tablet, laptop, nem assistente ao lado.
Apenas ele.
E ela.
— Conte-me por que devo contratar você. — ele disse, finalmente.
Sem se apresentar. Sem rodeios.
Como se ela estivesse em um tribunal.
— Tenho formação em administração, fiz estágio durante dois anos e tenho experiência com atendimento e relatórios. Aprendo rápido. E… sou boa sob pressão.
“Boa sob pressão.”
Ela quase engasgou na própria frase.
Mas o olhar de Dante não vacilou.
— Sabe com quem vai trabalhar, senhorita Andrade?
Ela engoliu seco.
— Com o senhor.
— Exato. — Ele se inclinou levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — E trabalhar comigo exige mais do que saber montar planilhas.
Paciência. Sigilo. Resistência.
Resistência.
A palavra pairou no ar com peso.
Lívia manteve o olhar firme, mesmo sentindo o rubor subir pelo pescoço.
Ele estava testando ela. Ou… provocando?
— Eu consigo lidar com isso. — respondeu, tentando soar firme.
Um pequeno, quase imperceptível sorriso curvou o canto da boca dele.
— Tem certeza?
Havia algo naquela pergunta que não era apenas profissional.
Um tom… quase desafiador.
Quase predador.
O silêncio se estendeu por segundos longos demais.
— Seu currículo é… comum. — ele disse, levantando-se. — Mas seu olhar não é. Você tem medo… e tenta esconder.
Interessante.
Ele deu a volta na mesa.
Lívia ficou tensa.
Dante Ferraz agora estava atrás dela, e sua presença era como eletricidade no ar.
— Posso fazer uma pergunta pessoal? — ele disse, a voz mais baixa.
— Sim…
— O que uma garota como você, bonita, visivelmente honesta, está fazendo tentando entrar num mundo como o meu?
Ela virou o rosto devagar, encarando-o por cima do ombro.
A pergunta ardeu. Porque ela sabia a resposta — mas também sabia que ele talvez nunca entenderia.
— Tentando sobreviver. — disse, com a voz baixa, porém firme.
Dante a observou por mais um momento. Em silêncio.
E então, com uma calma perigosa, respondeu:
— Gosto de sobreviventes.
Eles se tornam… mais obedientes com o tempo.
Obedientes?
O coração dela deu um salto.
— Pode começar na segunda. — ele completou. — Meu motorista buscará você às 6h30. Sem atrasos. Vista-se discretamente. E não me irrite.
Antes que ela pudesse responder, ele já voltava para trás da mesa.
— Está dispensada. Por hoje.
Lívia se levantou, ainda sem acreditar.
Saiu do escritório com o rosto quente e o peito acelerado.
Conseguira o emprego.
Mas, ao mesmo tempo, sentia que não tinha conseguido… escapar.
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O sol já começava a cair quando Lívia desceu do ônibus.
As mãos ainda tremiam um pouco.
Não era cansaço.
Era ele.
Dante Ferraz.
Desde o momento em que saiu da empresa, sentia como se tivesse atravessado uma linha invisível. Como se, de alguma forma, tivesse se comprometido com algo que ainda não entendia.
Ela bateu a porta do apartamento devagar. O cheiro de chá de camomila misturado ao som baixo da TV trazia uma calma familiar. E dolorosa.
— Pai? Cheguei.
— Aqui, filha. — a voz dele veio fraca da poltrona.
Lívia caminhou até a sala. O pai estava enrolado no cobertor, os óculos tortos no rosto magro, e os dedos tremendo levemente enquanto tentava mudar o canal com o controle remoto.
Ela sorriu com ternura e se agachou para ajeitar os óculos.
— Conseguiu? — ele perguntou, os olhos castanhos brilhando com esperança.
— Consegui. — ela respondeu, finalmente permitindo-se sorrir de verdade. — Começo segunda.
Ele fechou os olhos por um instante, como se aquilo fosse mais do que uma notícia boa. Como se fosse um alívio de peso. Uma pausa no sofrimento.
— Sabia que você ia conseguir. Você é como a sua mãe... decidida.
A lembrança da mãe fez o sorriso dela vacilar. Ela se levantou, indo até a cozinha improvisar algo para o jantar — ainda havia arroz, ovo, e um pouco de tomate.
Enquanto mexia na panela, a mente voltava para o escritório dele.
Para o cheiro do ambiente: couro caro, perfume amadeirado, ar-condicionado gelado.
E para a forma como ele a olhou. Como se já a possuísse.
"Vista-se discretamente." "Não me irrite."
Ele não era só um chefe. Era um homem acostumado a dominar, a controlar. E ela... precisava do emprego. Mas também precisava não se perder no meio daquela tensão que ameaçava consumi-la viva.
Mais tarde, sozinha no quarto, deitou-se sem conseguir dormir.
A mente repassava cada palavra dele.
Cada pausa. Cada olhar.
Fechou os olhos, tentando afastar a sensação de que aquele trabalho era mais que um contrato profissional.
Era um tipo de jogo silencioso.
Um teste. Uma armadilha?
Ou pior…
Um convite.
E o mais perigoso de tudo?
Ela não sabia se queria recusar.
Não esqueçam de curtir e comentar ,beijinhos a garota do livro 😻
@ysa_silvaaa_
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Atualizado até capítulo 81
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