Capítulo 5 - Almoço na casa de Lúcia

Já é o início da tarde.

Depois do banho, Rebeca está em frente ao espelho, penteando o cabelo e já toda arrumada.

— Toc, toc...

— Pode entrar, padrinho — disse ela, sorrindo.

Pedro girou sobre os próprios pés, como se desfilasse.

— E então? Como estou?

— Uau! Tudo isso é só para impressionar a Lúcia?

Pedro soltou uma tosse forçada, tentando disfarçar.

— Que é isso? Será que eu não posso ficar bem arrumado só para um almoço na casa da nossa querida vizinha?

— Vou fingir que acredito no senhor... E eu, como estou? Diferente do senhor, não estou me arrumando pra impressionar um crush. Quero só causar uma boa primeira impressão. Espero que gostem de mim.

— Você está muitíssimo linda. E não se preocupe, eles vão te adorar. Principalmente as crianças. Sei o quanto você se dá bem com elas. Vamos? Devem estar nos esperando.

Rebeca assentiu com a cabeça, e os dois saíram juntos.

---

Dois minutos depois, eles chegaram à casa de Lúcia. Pedro tocou a campainha, e logo ela abriu a porta, com um sorriso largo.

— Vocês chegaram! Entrem, a comida tá quase pronta.

Num gesto impulsivo, Lúcia abraçou Pedro. Os dois ficaram alguns segundos envergonhados. Em seguida, ela se recompôs e cumprimentou Rebeca, que riu da cena entre os dois.

— Venham! Rebeca, quero te apresentar meus três amores. Esse é o Léo, meu primogênito. Não se engane com essa carinha — num piscar de olhos ele vira a casa de cabeça pra baixo.

Léo, com sua expressão sapeca, sorriu de lado.

— Essa é a Amanda, a minha caçula.

— Você é muito bonita — disse Amanda, olhando para Rebeca.

— Obrigada. Você também é muito bonita. É um prazer conhecê-los.

— Bom... e o meu terceiro amor... Cadê ele? Cadê o tio de vocês?

— Me procurando?

— Ah! Aí está você!

Um garoto de cabelos castanhos e olhos azuis descia as escadas. Quando Rebeca o viu, sentiu seu coração bater mais forte. Instintivamente, levou a mão ao pingente e o apertou levemente.

— Boa tarde, Pedro — cumprimentou ele.

— Boa tarde, Beck!

— Beck, essa é a Rebeca, afilhada do Pedro. Ela chegou hoje e vai morar com ele agora. Rebeca, esse é meu primo Beck, mas o considero como um irmãozinho.

— Oi, é um prazer conhecê-la — disse ele, estendendo a mão.

Rebeca ficou alguns segundos paralisada. Pedro deu um leve tapa em seu ombro, e ela despertou do transe.

— Oi... também é um prazer conhecê-lo — respondeu ela, apertando a mão dele.

Pedro riu ao ver a reação da afilhada.

— Vamos para a mesa? — disse ele, estendendo o braço como um cavalheiro.

Rebeca ficou um pouco para trás. Quando se aproximou de Pedro, ele cochichou, sorrindo:

— Será que Rebeca está sentindo borboletas na barriga?

— O quê?! — exclamou ela, alto demais.

Todos olharam para ela, curiosos.

— Me desculpem... — murmurou, constrangida.

Pedro riu discretamente.

— Não diga isso, padrinho! Acabei de conhecê-lo.

— Eu fiquei do mesmo jeito quando vi Lúcia pela primeira vez. Depois descobri que era amor à primeira vista...

— Padrinho...

— O que vocês dois estão cochichando aí? Venham logo almoçar! — chamou Lúcia da cozinha.

Eles se aproximaram da mesa, e Pedro comentou:

— Hmm, que cheiro gostoso!

— Fiz com amor. Temos arroz soltinho, feijão fresquinho, carne assada com batata... comida de mãe. Vocês vão se sentir em casa.

Pedro puxou uma cadeira para Rebeca.

Ela observou ao redor: fotos de família, desenhos infantis colados na geladeira... e sorriu, sentindo um certo alívio.

— Podem se servir!

Todos começaram a se servir. Rebeca e Beck foram pegar os pratos ao mesmo tempo e suas mãos se tocaram. Eles trocaram um olhar rápido. Rebeca se afastou, constrangida, e Beck, sorrindo discretamente, entregou o prato a ela.

— Aqui!

— Obrigada...

Quando olhou para frente, viu Pedro do outro lado da mesa levantando uma sobrancelha, sorrindo. Rebeca desviou o olhar.

— Beck, como vão os dias de solteiro? Agora que você não está mais com a Daphne? — perguntou Pedro, lançando um olhar para Rebeca.

— Estão indo bem. Sinto até um certo alívio. Nunca deveria ter me envolvido com ela. O que sentia era apenas carinho, não amor. Quando propus que continuássemos amigos, ela não gostou... jogou suco na minha cabeça. Quando as aulas voltarem mês que vem, aposto que ela vai mudar de corredor só pra não me ver. Então, tá tudo ótimo.

— Nossa... bela resposta. Está certo.

— Agora não quero saber de namoro. Quero focar nos meus hobbies e nos estudos.

— Beck está certo. Primeiro os estudos, depois, quem sabe, o namoro... ou até o casamento — disse Lúcia, trocando um rápido olhar com Pedro.

— Eu tenho namorada! — exclamou Léo, entrando na conversa.

— Você tem namorada? Mas é muito novo pra isso — disse Rebeca, sorrindo.

— Posso saber quem é? Ela tem quantos anos? Traga ela aqui. Quero conhecer a minha nora — brincou Lúcia.

Quando Léo ia responder, Amanda se intrometeu:

— O nome dela é Marcela. Ela tá na sexta série. Tem 11 anos.

— Sua intrometida! — reclamou Léo.

— Então você tá namorando uma menina dois anos mais velha? — disse Lúcia, surpresa.

— É isso aí, garoto! — falou Pedro, levantando o punho. Léo bateu o punho de volta.

Lúcia deu um tapinha no ombro de Pedro.

Rebeca e Beck observavam a cena sorrindo. Beck comentou:

— Vocês parecem um casal... com dois filhos. Pedro até parece o pai biológico das crianças.

Rebeca concordou.

— Verdade. Se eu não os conhecesse, diria que são casados há anos.

Lúcia e Pedro ficaram visivelmente constrangidos. Léo franziu o cenho:

— Meu pai é o Ronaldo. Ele é meu único pai. Vai voltar a qualquer momento, vai voltar pra minha mãe e pra mim. Então parem com essas brincadeiras sem graça.

O silêncio se instalou na mesa. Todos ficaram constrangidos.

---

Depois do almoço, as crianças foram para a sala assistir a um filme. Lúcia começou a recolher os pratos. Pedro, Rebeca e Beck ainda estavam sentados.

Rebeca olhou na direção de Léo e comentou:

— Me desculpe, Lúcia... Não imaginei que Léo reagiria assim ao comentário.

— Não precisa se desculpar. Léo era muito apegado ao pai. Não aceita que aquele cafajeste nos abandonou.

— Fui eu quem começou com a brincadeira — disse Beck. — Você só entrou no clima. Eu sabia da relação do Léo com o pai, então a culpa foi minha.

— Tá bom, tá bom. Nenhum de vocês tem culpa. Não precisam se desculpar — disse Pedro, levantando-se. — Eu ajudo você, Lúcia. Rebeca e Beck, limpem a mesa.

— Não precisam. Vocês são nossos convidados.

— Que é isso, Lúcia? Vai ser um prazer ajudar.

Rebeca pegou os pratos das mãos de Lúcia e os levou até a pia. Beck levou os que restaram, enquanto Pedro e Lúcia ficaram limpando a mesa.

Enquanto Rebeca lavava os pratos, Beck apareceu ao lado.

— Precisa de ajuda?

— Claro! Pode ir enxugando os pratos?

— Ok!

Beck pegou um pano e começou a enxugar. Ficaram em silêncio por alguns instantes.

— Então... você mora com a Lúcia há muito tempo? — perguntou Rebeca, quebrando o gelo.

— Na verdade, não moro aqui de verdade. Mas essa é minha segunda casa. Moro com meu pai. Desde que minha mãe faleceu, há uns sete anos, comecei a passar mais tempo aqui. Aquela casa me traz muitas lembranças... e é doloroso. Meu pai também não para muito por lá. Quase sempre está no trabalho ou viajando. Quando ele tira folga, vamos nos divertir em algum lugar juntos.

— Sinto muito...

— Eu tenho uma babá... ou melhor, uma segunda mãe. Ela cuidou da minha mãe quando ela estava grávida de mim, porque havia risco de aborto. Depois que nasci, ela continuou com a gente.

— Que história linda... e triste. Eu também tenho uma segunda mãe — disse Rebeca, enquanto Beck a observava. — Só que no meu caso, eu não sabia. Descobri aos 15 anos, pouco depois da morte da minha irmã, que era quatro anos mais velha. Estava andando pela casa e ouvi meus pais conversando. Foi assim que descobri que a mulher que me criou não era minha mãe biológica. A minha verdadeira mãe morreu no parto. Fiquei revoltada... passei dias sem falar com eles e com meus irmãos, que também sabiam. Mas depois os escutei. E perdoei.

— Você deve ter sofrido muito.

— Muito. Foi muita coisa ao mesmo tempo. Eu não sabia lidar com minhas emoções.

— Coisa de adolescente. Nenhum de nós sabe lidar muito bem com isso. E ainda vamos fazer muita besteira até aprendermos.

Rebeca assentiu com um sorriso.

— Ei, vocês dois! Já terminaram de lavar as vasilhas? — chamou Lúcia. — Venham, ainda tem sobremesa!

— Já estamos indo — respondeu Beck. — Vamos?

— Vamos! E vamos levar um pouco depois — brincou Rebeca.

Os dois riram e foram juntos em direção à sobremesa.

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