Finalmente chegaram na casa de Pedro.
— Chegamos, dorminhoca.
Rebeca abre os olhos e vê uma casa grande ao lado. Há uma bela varanda e um banco de balanço.
— Eu dormi? Só fechei os olhos por alguns instantes.
— Por três minutos, sem falar nada e completamente imóvel. Parecia que estava no mundo dos sonhos. E... você babou um pouco.
Rebeca limpa a boca rapidamente.
— Que constrangedor...
— Estamos em família. Não há do que se sentir constrangida — ele ri — Todo mundo baba!
Rebeca sorri sem graça e muda de assunto.
— Então essa é a sua casa?
— Sim.
— Ela é ainda mais linda de perto! Nas fotos que você me mandou já dava pra ver que era bonita... Mas, de perto, é ainda mais encantadora.
— Obrigado. Ela é bem grande... Era muito solitário pra mim ficar nela sozinho. Mas agora não vou mais me sentir só. Tenho você aqui comigo.
— Fala sério, padrinho. E a Lúcia? Ela não te faz companhia?
Pedro engole seco.
— Vamos descer. Venha conhecer sua nova casa.
— Olha ele mudando de assunto...
Eles descem do carro. Pedro vai até o porta-malas e pega a mala de Rebeca. Uma mulher de olhos azuis se aproxima, com um enorme sorriso.
— Oi, Pedro.
— Oi... Está chegando da rua agora?
— Sim. Então... essa é a famosa Rebeca de quem você tanto falou?
— Nossa, já sou famosa por aqui? — Rebeca ri, um pouco surpresa — Oi, Lúcia. É um prazer conhecê-la. Seja muito bem-vinda.
As duas se cumprimentam.
— Obrigada. Você é a Lúcia? — Rebeca ergue uma sobrancelha, olha para o padrinho e abre um sorriso provocador. Pedro desvia o olhar. — Quer dizer, é um prazer conhecê-la também. Espero que possamos nos conhecer melhor no futuro.
— Também espero. Mas agora preciso ir. As crianças e o Beck devem estar me esperando... Tomara que a casa não esteja de cabeça pra baixo — ela ri e toca o ombro de Rebeca — Seja muito bem-vinda novamente.
— Obrigada. sorrindo
Lúcia entra na casa ao lado da de Pedro.
— Então essa é a Lúcia... Lúcia... Lúcia... Ela é muito linda. Mas pelo que entendi, ela tem filhos e é casada com esse tal de Beck. Então seu amor, padrinho, é platônico.
Pedro abre o portão. Rebeca entra primeiro. Ele entra em seguida enquanto continuam conversando. Pedro destranca a porta, eles entram e se sentam no sofá.
— Na verdade, você errou uma parte. É verdade que Lúcia tem filhos — um casal, um menino de 9 e uma menina de 7 — mas o Beck não é marido dela. Ele é primo. As crianças são apegadas a ele. E ele tem a sua idade. Espero que vocês se tornem amigos.
— Então... Lúcia é divorciada? Ou viúva?
— Abandonada. O marido, pai das crianças, foi embora com a amante há uns três anos. Sumiu, sem nem pedir o divórcio. Lúcia acha que um dia ele pode voltar... Quando isso acontecer, ela vai estar preparada com os papéis em mãos.
— E ela sabe dos seus sentimentos?
Pedro confirma com a cabeça.
— Eu me declarei. Faz tempo que sou apaixonado por ela. Desde que me mudei pra cá. A primeira vez que a vi, ela estava regando as plantas. E eu... senti algo. Mesmo sem trocarmos uma palavra, já sabia que tinha algo ali. Com o tempo, fomos nos encontrando em vários cantos da cidade, até virarmos amigos. E quanto mais eu a conhecia, mais apaixonado ficava.
— Amor à primeira vista?
— É. Muita gente não acredita nisso. Eu também não acreditava. Até conhecer Lúcia. Mas aí descobri que ela era casada. E quando a vi com o marido, ela parecia feliz. Mas era só aparência. Ele não gostava da nossa amizade. Nunca nos demos bem. Nos conhecemos há sete anos.
Pedro respira fundo.
— Depois que ele foi embora, ela ficou insegura. Acha que o amor não é pra ela. Quando me declarei, ela disse que não poderia me corresponder. Mas... dá pra perceber que ela sente o mesmo. Hoje, tudo que ela quer é dar um bom futuro para os filhos. Eu amo os filhos dela também. Os vejo como se fossem meus. E faria de tudo pra ser um bom padrasto.
— Nossa, padrinho... que sofrimento. Coitada da Lúcia... E de você também. Guardar isso por sete anos... É muito tempo. Mas ainda tenho esperança de que vocês fiquem juntos. Você nunca se apaixonou por outra mulher antes dela?
— Já. Antes de Lúcia, me apaixonei por uma mulher muito rica, de família influente. Ela era cerca de 13 anos mais velha do que eu. Achei que fosse a mulher da minha vida. Mas ela não queria as mesmas coisas que eu. Eu queria casar, ter filhos... Ela não. Dizia que já tinha passado da idade pra ser mãe. Queria crescer na empresa do pai, mostrar que também tinha ambição.
— E o que aconteceu?
— Sumiu. Sem se despedir. Fiquei sem chão. Então fui embora da minha cidade natal... e vim parar aqui.
Rebeca coloca a mão no peito, depois toca no seu pingente e o aperta.
— Acho que o amor não é pra mim...
Pedro se encosta mais ainda no sofá.
— Que isso, padrinho? O amor é pra todos. Você só não teve sorte... ainda. A primeira foi puro azar. A segunda... tenho certeza de que Lúcia vai ceder. E espero que não seja tarde demais.
Pedro se endireita no sofá e encara Rebeca.
— Prometi pra mim mesmo que nunca ia te contar essas coisas... Mas agora quero saber de você. Já se apaixonou?
Rebeca fica sem graça, desvia o olhar e tenta mudar de assunto. Levanta-se do sofá, fingindo admirar a casa.
— Nossa, padrinho! A gente chegou, sentou no sofá, ficou no converseiro... e eu nem admirei como sua casa é linda! Por dentro e por fora...
Pedro se levanta lentamente.
— Minha aluna aprende rápido quando o assunto é mudar de assunto...
Rebeca suspira. Percebe que está sendo injusta e decide se abrir.
— Tá bom, padrinho... Vou falar a verdade. Eu nunca me apaixonei. Nunca nem namorei.
— O quê?! Como isso é possível? Você é linda, gentil... Uma garota de outro mundo. Impossível que nenhum garoto tenha sentido algo por você.
— Obrigada pelos elogios... Já tive admiradores. Teve até quem me mandasse carta no Dia dos Namorados. Mas... nenhum deles me fazia sentir o que você sente pela Lúcia. Ou o que papai e mamãe sentem um pelo outro. Estou esperando alguém que me faça sentir isso. Sabe? Borboletas no estômago. Todo mundo fala disso quando se apaixona... Eu queria sentir isso.
Ela sorri ao pensar.
— Mamãe até me deu umas aulas sobre... certas coisas. E sobre como me prevenir. Eu morria de vergonha quando ela tocava nesses assuntos...
Pedro coloca a mão no ombro de Rebeca.
— Essas conversas são essenciais. Te ajudam a entender muita coisa. Espero que você sinta isso. É a melhor sensação do mundo. Mas... o amor também pode doer. Não fique brava se ele não for correspondido. Mas, se for... aproveite. E seja muito feliz.
Eles sorriem um para o outro.
— Chega de conversa. Vamos subir. Quero te mostrar seu quarto.
Pedro estende o braço. Rebeca segura, e os dois sobem as escadas juntos.
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Atualizado até capítulo 26
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