5 Reencontro proibido

O restaurante mais sofisticado da cidade estava movimentado naquela noite. Luzes baixas, música ambiente elegante e sorrisos ensaiados preenchiam os salões com aparente harmonia. Sentada à mesa com seus pais e o noivo que não escolheu, Isadora vestia um sorriso educado, mas vazio.

O vestido azul-marinho que usava realçava sua beleza clássica, embora seus olhos, por trás de discretas maquiagens, denunciassem o cansaço emocional de alguém que estava apenas… suportando.

Vittorio estava a poucos metros dali. Ocupava uma mesa mais reservada, quase nas sombras, com dois dos seus homens ao redor. Não era comum ele ir até restaurantes públicos, muito menos permanecer tanto tempo em um. Mas naquela noite não era comum.

Seu coração havia disparado assim que soube que ela estava ali. Isadora. A mulher que ele nunca esqueceu. A que arrancaram dele como um castigo, e que agora, depois de anos, respirava o mesmo ar — mesmo que sentada ao lado de outro homem.

Seus olhos não a deixavam. Cada gesto, cada riso forçado, cada toque do noivo dela em sua mão era uma punhalada no peito dele.

— Ela não parece feliz — murmurou Enzo, seu braço direito.

— Porque não está — Vittorio respondeu seco, sem tirar os olhos dela. — Aquilo ali não é amor.

Enzo ficou em silêncio. Sabia o que aquele olhar significava. Vittorio estava se segurando com cada fibra do seu autocontrole para não se levantar daquela cadeira e reivindicar o que considerava seu por direito.

E então ela se levantou.

Isadora se desculpou brevemente da mesa e caminhou com elegância para o banheiro feminino. Assim que a porta se fechou atrás dela, Vittorio já estava de pé.

— Vittorio… — Enzo chamou em advertência, mas era tarde.

Em passos rápidos e silenciosos, ele entrou logo atrás dela, empurrando a porta pesada do banheiro feminino com força controlada. O coração de Isadora quase saiu pela boca quando a porta se fechou com estrondo e ela se virou, assustada.

E ali estava ele. O fantasma mais vivo que ela já enfrentou.

— V-Vittorio?! — sua voz saiu fraca, trêmula.

Ele não disse nada por um segundo. Apenas a observou, como se precisasse ter certeza de que ela era real. Tantos anos, tantos sonhos, tantas noites imaginando esse reencontro… e agora ela estava ali, diante dele, mais linda do que jamais fora.

— Está prometida a um homem que não ama — ele disse, num tom rouco, ferido. — Fingindo sorrisos pra agradar um pai que só quer controlar sua vida.

— Você não pode estar aqui… — ela sussurrou, dando um passo para trás, mais por instinto do que por medo.

— Posso sim. — Ele se aproximou devagar. — Porque se você acha que vou ficar sentado vendo você casar com outro, Isadora, então não me conhece.

Ela sentiu as costas encostarem contra a pia. O coração disparava, o corpo inteiro tremia. Aquela presença, aquele olhar… era tudo o que ela sonhou durante anos.

— Eles não vão permitir… Vittorio… meu pai vai…

— Eu não dou a mínima pro seu pai. — Seus olhos brilharam com intensidade. — A única coisa que importa agora é o que você sente. E se ainda existir uma parte sua que me ama… — ele se aproximou mais, até que seus rostos estivessem a centímetros — …você me diga. Agora.

Ela fechou os olhos. Respirou fundo. Por um instante, todo o peso dos anos, das ordens, da distância, das dores... desapareceu. Só havia os dois. Só havia aquele amor proibido.

— Eu nunca deixei de te amar — ela sussurrou, a voz embargada.

Vittorio encostou a testa na dela, contendo-se com força sobre-humana para não beijá-la ali mesmo. Mas bastava. Aquilo bastava para reacender tudo o que estava adormecido.

— Então isso muda tudo — ele disse, num tom grave.

Antes que alguém pudesse entrar, ele saiu do banheiro com a mesma rapidez com que entrou, deixando Isadora ofegante, perdida entre o amor, o medo… e a inevitável guerra que estava prestes a recomeçar.

Continuação – O Peso da Escolha

Isadora saiu do banheiro com os olhos úmidos, mas o rosto impecável. Sabia fingir. Sempre soube. Desde menina, aprendeu a esconder dores atrás de um sorriso gentil e uma postura impecável. E agora, mais do que nunca, precisava se lembrar de como ser a filha perfeita… a noiva exemplar.

Sentou-se à mesa novamente.seu falou algo sobre política internacional, e ela apenas assentiu, sem ouvir uma palavra. Os pais sorriram, orgulhosos. Estavam certos de que estavam fazendo o melhor para ela.

Mas por dentro, tudo nela gritava.

Ela ainda podia sentir o calor da respiração de Vittorio em seu rosto. O cheiro dele em sua pele. As palavras duras… verdadeiras… cortantes como lâmina.

Ele estava certo.

Ela não o esquecera. Nunca esqueceu. Por mais que tentasse sufocar o passado, enterrá-lo em compromissos, viagens, promessas vazias… Vittorio ainda era o nome que seu coração sussurrava nas madrugadas em silêncio.

E agora, ele estava de volta. Tão real. Tão perto. Tão impossível.

Ela olhou para o noivo . Ele era educado, bonito, . Era a escolha certa. O caminho seguro. A aliança entre famílias. O que se esperava dela.

Mas naquele instante, tudo dentro de si gritava que não era o que desejava.

Terminada a noite, já dentro do carro com os pais e o noivo, Isadora manteve o silêncio. A cidade passava pelas janelas como borrões. Ao chegar em casa, deu boa noite com delicadeza e subiu rapidamente as escadas até seu quarto.

Ao fechar a porta, desabou.

Jogou os sapatos longe. As lágrimas, antes contidas, agora escorriam sem pudor. Caminhou até a janela, abraçando a si mesma. O vento da noite tocava seu rosto, mas não era o frio que a fazia tremer.

Era o medo.

Medo de se perder em um destino que não era o seu. Medo de trair a si mesma. Medo… de ainda amar alguém que nunca foi aceito.

Sentou-se diante da penteadeira. Olhou-se no espelho. Por alguns segundos, viu a garota que foi. Aquela que sonhava com liberdade. Com amor. Com Vittorio.

Mas logo, seu reflexo endureceu. A mulher que encarava agora estava presa. Em um noivado que não desejava. Em um mundo que sufocava.

E, pela primeira vez em anos, Isadora sussurrou com a voz embargada:

— Eu não quero me casar.....

A confissão pairou no ar como uma sentença.

E no fundo do peito, a chama que Vittorio reacendeu naquela noite... começava a queimar tudo que era mentira.

🖤 FIM de capitulo 🖤

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