O jantar estava servido com perfeição, como sempre era na mansão dos Vitalle. A mesa elegante, o aroma refinado dos pratos, a taça de vinho repousando junto aos talheres. Tudo parecia em harmonia... menos o clima entre pai e filho.
Vittorio cortava silenciosamente o filé em seu prato, mastigando com calma, mas seus olhos azuis estavam frios, distantes, como se a comida não tivesse sabor algum. Elena, sua irmã caçula de quinze anos, falava sobre trivialidades da escola, tentando suavizar a tensão. Antonella sorria, elegante e serena, observando tudo ao redor. Giancarlo, porém, estava inquieto. Até que falou.
— E então... soube que a filha do velho Moretti voltou. — Giancarlo disse, casualmente, embora o tom fosse levemente acusador.
Vittorio ergueu os olhos para o pai com um sorriso sarcástico. — É. A cidade toda está sabendo. Parece que o velho fez questão de anunciar para o mundo. — Deu mais um gole no vinho. — E que ela está noiva, não é mesmo?
— Não se esqueça de quem ela é, Vittorio. — o pai respondeu, mais firme agora. — Aquilo ficou no passado. Não ouse repetir os mesmos erros da adolescência.
— Erros? — ele arqueou a sobrancelha, com um humor sombrio. — Interessante... eu só me apaixonei, pai. Como você deve ter feito um dia com a minha mãe?
— Vittorio. — a voz de Giancarlo endureceu. — Eu não vou permitir que você se envolva com uma Moretti. E muito menos com aquela garota de novo.
Um leve silêncio caiu sobre a mesa. Antonella, que até então apenas observava, levou discretamente a mão até a de Giancarlo por debaixo da mesa e apertou com firmeza.
Ele virou o rosto para ela, e no olhar dela havia uma mistura de súplica e autoridade silenciosa. Como se dissesse: “Não agora. Não assim.”
Giancarlo inspirou fundo e se calou.
Elena, com um sorriso travesso, tomou um gole de suco e murmurou entre os lábios:
— Impressionante como a mamma ainda manda no sr giancarlo da máfia...
Antonella riu, e até Vittorio esboçou um sorriso.
O jantar prosseguiu mais calmo, embora a tensão permanecesse flutuando no ar, discreta, como um perfume que teima em não se dissipar.
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Mais tarde, já em seu quarto, Giancarlo estava sentado na beira da cama, removendo os sapatos. Antonella entrou devagar, a luz do abajur refletindo suavemente em seus cabelos escuros.
— Você foi duro com ele... — ela comentou, fechando a porta.
— Eu fui justo. — ele respondeu, sem encará-la.
— Justo? — Antonella sentou-se ao seu lado. — Giancarlo, você sempre soube o que existia entre Vittorio e Isadora. Desde os quatorze anos. Você via. Eu via. Eles se amavam... ou pelo menos achavam que amavam. E talvez ainda amem. Você sabe disso.
— Ela é uma Moretti. — ele disse entre dentes. — O que você quer que eu faça? Abençoe esse absurdo?
Antonella segurou a mão dele com firmeza. — Eu quero que você não faça com o nosso filho... o que talvez teriam feito com a gente se pudessem. Você me ama, não ama? E se o mundo tivesse impedido você de me amar? — Ela o encarou. — Se for preciso... se esse amor for real, Isadora vai provar que pode estar ao lado dele sem trair quem somos. Mas não trate seu filho como se ele estivesse traindo você por seguir o coração dele.
Giancarlo a olhou por longos segundos, seu semblante carregado de dúvidas e fúria contida... até que suspirou, vencido.
— Eu... vou pensar. — disse, por fim, de forma resignada.
Antonella sorriu com ternura, beijou sua bochecha e sussurrou:
— Pense com o coração, Giancarlo.
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O som do motor do avião era constante, quase hipnótico. Lá fora, nuvens cobriam tudo como um manto branco. Isadora fitava a janela, mas não via nada além do que deixara para trás.
Vittorio.
O nome dele ainda ardia como brasa em seu peito.
Ela tentou ser forte. Tentou acreditar que partir seria melhor. Que o tempo curaria. Que esquecer era possível.
Mas como esquecer o único olhar que fez o mundo parecer suportável?
Isadora apertou as mãos sobre o colo. Lembrava-se das tardes escondidas, dos sorrisos cúmplices, do calor das mãos dele nas suas, da forma como ele dizia seu nome — como se fosse a única verdade que ele conhecia. Com Vittorio, ela se sentia viva. Ela era ela, não a filha moldada por seu pai, nem a peça de um tabuleiro de alianças e poder.
Ela havia prometido que o amaria. E amou.
Mesmo sem poder.
Mesmo sendo proibido.
E agora,
Sem saber que o pai dela destruiu tudo antes que ela pudesse lutar.
A dor era insuportável. Deus sabe o quanto não quis.
Uma lágrima escorreu silenciosa. Isadora fechou os olhos, tentando conter o choro que ameaçava vir com força. Dentro de si, a imagem dele era um grito abafado. A voz que ela sonhava ouvir de novo, só mais uma vez. Para explicar. Para pedir perdão. Para dizer que seu coração ainda era dele.
Mas então, um pensamento lhe cortou como faca. Le trazendo para a realidade do hoje
O anel.
O noivado.
Abriu os olhos subitamente, como se quisesse acordar de um pesadelo. Seu estômago se revirou.
O noivado com o herdeiro da família Heintz. Um acordo selado por seu pai com meses de antecedência. Um jogo político frio que a tratava como moeda de troca.
Isadora sentiu o gosto amargo subir à garganta.
Ela não o amava. Nunca amaria.
Era apenas mais uma peça em um castelo construído por homens que achavam que sabiam o que era o melhor.
Mas o que o pai dela não sabia — ou fingia não saber — era que o coração de Isadora já tinha dono. E ele se chamava Vittorio.
Por mais que ela fingisse, por mais que sorrisse nas fotos ou usasse o anel que não queria… dentro dela, aquele amor proibido ainda vivia.
E doía.
Suspirou, olhando de novo pela janela. Talvez Vittorio a odiasse agora. Talvez jamais quisesse vê-la.
Mas… ela ainda o amava. E mesmo entre os Alpes, a neve e os sorrisos falsos do noivo perfeito, o nome dele viveria dentro dela como um segredo impossível de apagar.
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🖤Fim de capitulo 🖤
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Munique Silva Peçanha
Antonella deu um tapa sem mão no marido.
2025-08-24
2
Ely Ana Canto
Antonella não tem sangue Morete, ele não ama a esposa ,porque impedir o filho,affs
2025-09-08
0
Summer 🔥
Sábias palavras!
2025-08-13
1