As luzes da mansão Moretti estavam apagadas há horas, mas Isadora ainda sentia o coração bater acelerado no peito. Estava com dezesseis anos, mas amava com a intensidade de quem já conhecia a dor da perda.
Com passos leves, atravessou o corredor do andar de cima e empurrou a janela de seu quarto. Lá fora, à sombra do muro lateral, ele a esperava.
Vittorio Vitale, terno preto, cabelo levemente bagunçado, encostado no carro que estacionava duas ruas além. Ela desceu pela treliça com a destreza de quem já fez aquilo outras vezes.
Quando seus pés tocaram o chão, Vittorio se aproximou e a envolveu em um abraço firme.
— Você demorou — ele murmurou, os lábios roçando a testa dela.
— Meus pais ficaram acordados mais tempo do que o normal — ela respondeu, entrelaçando os dedos aos dele. — Mas eu viria. Sempre venho.
Naquela época, o namoro era feito de toques rápidos, encontros escondidos e beijos sob o luar.
Eles se viam às escondidas: na biblioteca deserta do colégio de elite onde estudavam, em estacionamentos escuros depois das aulas, nos corredores silenciosos dos bailes que frequentavam — sempre com o receio de serem descobertos.
— Hoje, meu pai recebeu um convite da máfia onde os Vitales vai para o evento beneficente da próxima semana — ela disse, com um sorrisinho travesso. — Claro que rasgou o envelope.
Vittorio rolou os olhos. — Seu pai me odeia sem nunca ter trocado uma palavra comigo.
— Não é pessoal. É guerra.
— Então eu estou cometendo traição? — ele brincou.
— Eu também. Mas não consigo me arrepender — ela disse, antes de beijá-lo.
Aquele amor era proibido. Famílias mafiosas rivais.
Desde pequenos ouviram que os Moretti e os Vitale jamais poderiam conviver — muito menos se misturar.
Mas entre eles, havia algo mais forte do que qualquer juramento de sangue.
— Um dia, eu vou te tirar disso — ele prometeu, acariciando o rosto dela. — Vamos sumir, começar do zero, num lugar onde ninguém se importe com sobrenomes.
Isadora sorriu, mas seus olhos estavam marejados.
— E se não der tempo?
Ele segurou seu queixo, forçando-a a encará-lo.
— Vai dar. Eu sou um Vitale, lembra? E você é a única fraqueza que eu me orgulho de ter.
Eles se beijaram como se fosse a última vez.
Como se o mundo estivesse prestes a ruir.
E naquela mesma semana, ela foi mandada para a Suíça.
Sem aviso. Sem escolha. Sem despedida.
Quando Vittorio descobriu, já era tarde.
E o que ficou para trás foi apenas uma promessa:
"Se o mundo permitir... volta pra mim."
O sol mal havia nascido sobre Florença quando Vittorio desceu as escadas da mansão Vitale, ainda com o casaco pendurado no ombro e o celular colado ao ouvido. A mensagem de Isadora, tão curta quanto confusa, não saía da sua cabeça desde a madrugada.
"Me perdoa por não me despedir. Eu te amo. Não se esqueça disso."
Ele tentou ligar dezenas de vezes. Nenhuma resposta.
Ao pisar no salão principal, encontrou Giancarlo Vitale de pé, em frente à janela, com uma taça de café amargo nas mãos e o semblante mais sério do que o normal.
— Pai, Eu preciso... — Vittorio começou, mas logo se calou ao ver o olhar gélido que o pai lhe lançou.
Giancarlo girou devagar, pousando a taça na mesinha de mármore ao lado. Vestia um terno escuro e os cabelos grisalhos estavam perfeitamente penteados. Sua postura era a de sempre: firme, autoritária, intransigente.
— Não precisa procurar mais — ele disse, a voz cortante como uma lâmina. — Ela foi embora.
Vittorio franziu o cenho, se aproximando. — Como assim, “foi embora”?
— Sua pequena aventura acabou. Isadora Moretti embarcou para a Suíça esta madrugada. Internato. Longo prazo. Sem data para voltar.
Um silêncio ensurdecedor se instalou na sala.
O coração de Vittorio martelava no peito. — Você está mentindo.
— Não minto para meus filhos — Giancarlo retrucou, frio. — Diferente de você, que mentiu para mim durante dois anos.
Vittorio sentiu o estômago despencar.
— Você sabia?
— Sempre soube. Desde a primeira vez que saiu pela janela como um moleque. Você não é tão esperto quanto pensa, Vittorio. Sua mãe me alertou. Seus olhares nos bailes, as desculpas esfarrapadas, os sumiços. Achou mesmo que esconderia algo de mim?
Vittorio respirou fundo, o sangue pulsando nas têmporas. — Ela não é como eles. Ela não é como o pai dela!
— Ela é filha de Moretti. E isso basta — Giancarlo respondeu com firmeza. — Esse relacionamento foi uma afronta à nossa história, ao nosso nome, à lealdade que exigimos dos nossos. Você é um Vitale. E um Vitale não se deita com o inimigo.
— Eu a amo — Vittorio disparou, com a voz embargada. — E você a afastou de mim como se ela fosse uma ameaça!
— Ela é uma ameaça. Ao seu foco, ao seu futuro. E, principalmente, ao legado da nossa família.
Giancarlo se aproximou, parando frente a frente com o filho.
— Considere isso um favor. Você ainda é jovem. Vai entender um dia. Mas, por agora, isso acaba aqui. Definitivamente.
Os olhos de Vittorio arderam, mas ele não chorou.
Não na frente de seu pai.
— Você pode controlar muita coisa, pai — ele disse, a voz baixa, carregada de raiva contida — mas não pode apagar o que eu sinto. Não pode arrancá-la do meu coração.
Giancarlo encarou o filho por alguns segundos, em silêncio. Depois, deu um passo para trás, recolheu a taça e virou-se para sair.
— Talvez não — murmurou antes de sumir pelo corredor. — Mas o mundo se encarrega disso.
Vittorio ficou sozinho na sala, sentindo o mundo desabar sob seus pés.
Isadora havia partido.
Sem um último abraço.
Sem um último beijo.
Sem tempo.
Mas no fundo, uma única coisa persistia, queimando em seu peito como brasas vivas.
A promessa que ela deixara:
"Não se esqueça que eu te amo."
E ele não esqueceria.
Nunca.
🖤fim de capitulo 🖤
Giancarlo sempre a frente com a faca e o queijo na mão, o homi e bom Brasil
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Raquel Lima
não acredito que Giancarlo falou isso para o próprio filho.....
2025-08-22
3
BIBI🌕🌑
não acredito ele no livro dele ele parecia tão carinhoso mas agora tá pior ele deveria aceitar o romance do filho.
2025-08-31
0