Mesmo Quando Brigo e por Vc...
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📖 Capítulo 2 – Tudo Que Você Finge Que Não Sente
Soren passou o dia seguinte como se nada tivesse acontecido. Como sempre fazia.
Camisa alinhada, postura reta, olhar focado.
Só que os dedos tremiam ao digitar. E ele evitava o corredor onde Kael costumava aparecer encostado na parede, sempre sorrindo de canto como se soubesse de algum segredo.
Mas naquela tarde, ele estava lá.
E Soren viu primeiro.
O coração deu aquele susto no peito. Só não desviou o olhar rápido o bastante.
kael
— Fala, gélido — disse Kael, cruzando os braços. — Fugindo de mim, ou só fingindo que não vê?
soren
— Você vive no seu próprio show, né? — Soren respondeu, passando por ele
Kael o seguiu. Sem pressa.
kael
— E você vive se escondendo no meio da plateia. Fingindo que não sente nada.
Soren parou. Virou devagar.
soren
— Você fala como se me conhecesse.
kael
— Eu te enxergo. Isso te assusta?
O corredor estava vazio. Só eles. E aquele maldito silêncio carregado que sempre surgia entre os dois quando paravam de provocar.
soren
— E se eu disser que você tá errado? — Soren perguntou, mais baixo.
Kael chegou perto. Perto demais.
kael
— E se eu disser que você só quer que eu prove que não estou?
O olhar de Kael cravou no dele.
Soren devia ter recuado. Mas não se mexeu.
O corpo ficou. A respiração falhou.
E então… Kael encostou.
Devagar, como quem dá chance pro outro fugir.
Os lábios quase tocando os dele.
kael
— Se você não quiser… — Kael sussurrou, — diz agora.
Soren fechou os olhos.
Mas não disse nada.
O beijo veio quente. Tenso. Carregado de tudo que eles seguraram por tempo demais. Mãos nas costas, respiração entrecortada, coração acelerado.
Nenhum dos dois queria parar.
Mas Soren foi quem recuou primeiro. Com os olhos abertos e assustados.
soren
— Isso… não devia ter acontecido.
Kael apenas o olhou. Um sorriso pequeno, mas sem ironia.
kael
— Então por que parece que você tá mais vivo do que nunca?
Soren não respondeu.
Só virou as costas e foi embora.
De novo.
Mas dessa vez, Kael ficou com um gosto nos lábios que dizia uma coisa:
Soren não ia conseguir fugir pra sempre
Soren acordou no dia seguinte com a lembrança ainda grudada na boca.
O beijo.
O jeito como Kael encostou como se já soubesse que ele não ia recuar. Como se os dois tivessem esperado por aquilo mais do que admitiam.
Mas era só um beijo. Certo?
Soren se vestiu como se blindasse o corpo. Camisa cinza, paletó escuro, cabelo perfeitamente penteado. Nenhuma falha, nenhuma brecha.
Como sempre.
Só que por dentro… estava em ruína.
Na sala de aula, Kael entrou com o mesmo ar de sempre: insolente, debochado, irritantemente charmoso.
Mas os olhos... procuraram direto pelos dele.
Soren desviou.
Não porque queria. Mas porque não confiava em si mesmo.
Kael se sentou duas fileiras atrás. Não falou nada. Mas a tensão era tão espessa que dava pra cortar com uma faca.
O professor falava, mas Soren não ouvia. Só sentia.
O peso do olhar.
O gosto da dúvida.
E a lembrança daquelas mãos na sua cintura.
Mais tarde, no corredor vazio, Soren sentiu quando Kael chegou antes mesmo de vê-lo.
Era como uma presença elétrica, sempre o cercando de maneira sutil, porém constante. Como se o universo ficasse mais inquieto quando os dois estavam no mesmo lugar.
kael
— Ainda fingindo que nada aconteceu? — Kael perguntou, encostado na parede, com os braços cruzados.
Soren parou, sem encará-lo.
soren
— Eu não estou fingindo. Eu estou... lidando.
kael
— Com o quê? Com o fato de que me beijou de volta? Que queria?
soren
— Eu não queria — ele respondeu, seco. Rápido demais.
Kael deu uma risada baixa.
kael
— Você mente muito mal, Soren.
Ele respirou fundo, então o olhou, com olhos afiados como navalha.
soren
— E você se acha demais.
Kael se aproximou, devagar.
Passos silenciosos, mas intensos.
Parou a centímetros.
kael
— Não é questão de se achar. É só que... eu sinto. Tudo. Quando você olha pra mim como se odiasse, mas o olho treme. Quando fala meu nome como se quisesse me afastar, mas a voz falha.
Soren virou o rosto.
Mas Kael segurou o queixo dele. Com firmeza. Mas sem pressa.
kael
— Você sente tudo isso também, não sente?
Soren hesitou. A respiração dele estava descompassada. Os olhos, vermelhos como se segurassem o mundo inteiro.
soren
— Não posso sentir — ele disse. — Eu não posso me permitir.
Kael soltou devagar. Os dedos escorregando como uma despedida que não quer ir embora.
kael
— Então vai continuar se escondendo, é isso?
soren
— Eu... não sei como fazer diferente
Kael deu um meio sorriso, triste. Não debochado, pela primeira vez.
Silêncio.
Por um instante, tudo parou.
Até que uma voz ao fundo interrompeu:
— Soren, estão te chamando na coordenação.
Soren se afastou como se tivesse levado um choque.
Respirou fundo, arrumou o colarinho da camisa e saiu sem olhar pra trás.
Kael ficou ali.
E pela primeira vez, duvidou se conseguiria fazer Soren ficar… se ele mesmo não soubesse o que significava amar alguém que tem medo de si.
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