Capítulo 2. "As Primeiras Colheitas de Bluberry."

A manhã nas montanhas de Bluberry tinha um brilho diferente. O orvalho cintilava sobre as folhas, e o ar fresco trazia o perfume adocicado das flores silvestres que se misturavam às lavandas e mirtilos. Fiama acordou cedo, como sempre fazia, quando os primeiros raios de sol ainda lutavam para atravessar as janelas de madeira da nova casa da família.

Desde que haviam se mudado para aquela casa modesta, ao lado do hotel, tudo parecia ter mudado. O antigo lar, onde os dias corriam tranquilos, ficara para trás, junto com as lembranças de um tempo em que não precisavam contar cada moeda. Agora, a família depositava toda a esperança naquele hotel — o Bluberry — que havia sido reformado com tanto esforço, mas ainda carregava os fantasmas das dívidas e do passado.

Fiama espreguiçou-se, deixando que os primeiros feixes de luz dourada tocassem seu rosto. Era uma jovem de beleza singela, dessas que não chamam atenção pela extravagância, mas pela delicadeza dos gestos e o olhar sereno, quase poético. Acordou com a sensação de que aquele dia traria algo novo, embora não soubesse exatamente o quê.

Na cozinha, Daiana, sua mãe, já estava de avental, aquecendo água para o café e assando pães que enchiam a casa com um aroma reconfortante. Daiana era uma mulher de força silenciosa, com cabelos escuros sempre presos em um coque apressado e mãos calejadas pelo trabalho duro. Ao lado dela, David, o padrasto de Fiama, fazia as contas em um velho caderno de capa gasta. Ele não era um homem de muitas palavras, mas seu olhar sempre carregava uma mistura de preocupação e determinação.

— Fiama, acorde o Nick — pediu Daiana, sem tirar os olhos do pão no forno. — Hoje será um dia longo, temos muito o que preparar.

Fiama acenou e subiu a pequena escada de madeira que levava ao quarto do irmão mais novo. Nick, um garoto de apenas 7 anos, dormia profundamente, abraçado a um velho urso de pelúcia. Fiama sorriu, lembrando-se dos tempos em que tudo parecia mais simples, antes das dificuldades financeiras e da pressão para fazer o hotel dar certo.

— Nick... acorda, preguiçoso — disse, balançando-o de leve.

Ele abriu os olhos devagar e sorriu ao ver a irmã. — Já tem pão pronto?

— Quase — respondeu Fiama. — Vai lavar o rosto, vou ajudar mamãe na cozinha.

Foi nesse momento que um som inesperado interrompeu a rotina tranquila da manhã: toc-toc-toc. Alguém batia à porta.

David se levantou, mas Daiana foi mais rápida. Ao abrir, deparou-se com um dos funcionários do hotel, um homem alto, de roupas simples, que sempre ajudava na manutenção e na colheita dos mirtilos.

— Dona Daiana, bom dia! — disse ele, tirando o chapéu em sinal de respeito. — Vim avisar que a colheita dos bluberries começa hoje. Esse ano amadureceu mais cedo, e não podemos perder tempo.

— Já? — Daiana arqueou as sobrancelhas. — Pensei que teríamos mais algumas semanas...

— Pois é, mas o clima ajudou. Temos que aproveitar — respondeu ele, sorrindo com simpatia.

Enquanto conversavam, o homem olhou para a casa e, com um ar de quem refletia sobre algo, comentou:

— Sabe, Dona Daiana, eu sempre achei que um hotel como o Bluberry tem potencial pra muito mais. Café da manhã é bom, mas vocês deviam abrir pro almoço, pro jantar também. A cidade tá crescendo, os turistas adoram esse lugar.

Daiana, ficou suurpresa com a sugestão. — Humm... nunca pensamos nisso.

— Pensem sim. Dá pra ganhar um bom dinheiro com isso. O povo gosta de comida caseira, ainda mais num lugar tão bonito.

Daiana agradeceu a dica e despediu-se do funcionário, que voltou para a trilha que levava aos campos de bluberry. Quando entrou na casa, encontrou David sentado, ainda com a caneta na mão e o caderno aberto.

— O que houve? — perguntou ele, percebendo o semblante pensativo da esposa.

— O João falou sobre abrir o hotel também pra almoço e jantar. Disse que os turistas adorariam.

David coçou o queixo, pensativo. — Não é má ideia. Mas, Daiana, nós mal conseguimos pagar as parcelas da reforma. Pra abrir pra almoço e jantar, precisamos contratar mais gente, comprar mais mantimentos...

Daiana sentou-se ao lado dele, com o rosto preocupado. — Eu sei, mas não podemos continuar só com o café da manhã. As contas estão pesadas demais.

David suspirou e passou os dedos pelos cabelos, visivelmente preocupado. — Vamos ver as contas outra vez.

Os dois começaram a folhear o caderno. As páginas estavam cheias de números rabiscados, cálculos refeitos várias vezes, e anotações sobre as parcelas da reforma. O hotel Bluberry tinha sido um sonho caro, e agora eles precisavam transformá-lo em um negócio próspero.

Fiama, que escutava tudo em silêncio, sentiu um aperto no peito. Ela amava aquele hotel. Para ela, o Bluberry não era apenas um empreendimento, mas uma extensão de sua infância, das memórias com seu pai — antes da morte repentina dele, anos atrás.

Enquanto Daiana e David faziam contas, Fiama saiu para o quintal. De lá, conseguia ver os campos de bluberry, uma imensidão azulada que brilhava sob o sol nascente. O vento suave balançava as plantas, e ela sentiu uma força estranha dentro de si, como se o destino estivesse prestes a mudar.

— Fiama! — a voz de Daiana a chamou de volta. — Vamos colher alguns cestos antes do almoço. Quanto mais cedo começarmos, melhor.

Fiama correu para dentro, amarrou os cabelos em um coque e vestiu suas luvas de trabalho. Nick insistiu em ir junto, apesar de ainda parecer sonolento.

Enquanto caminhavam para os campos, David continuava pensativo. Ele sabia que a única forma de pagar as dívidas era trabalhar mais, expandir o hotel e talvez, quem sabe, buscar um sócio — ideia que, até então, ele não queria aceitar.

Mais tarde, na cozinha do hotel

Daiana preparava um bolo de bluberry para os hóspedes. Ela sabia que pequenos detalhes faziam toda a diferença: o aroma de bolo fresco, o pão quentinho, a manteiga caseira. Mas, para manter tudo isso, era preciso mais investimento.

— Precisamos de ajuda, David — disse ela, quebrando o silêncio. — O João tem razão. Se não abrirmos para almoço e jantar, nunca vamos conseguir pagar as parcelas.

David olhou para ela, como se uma ideia perigosa tivesse acabado de surgir. — E se buscássemos um sócio?

— Um sócio? — Daiana arregalou os olhos. — Você acha que alguém iria querer investir nesse hotel?

— Se mostrar potencial, sim. — Ele respirou fundo. — Eu ouvi falar de um investidor, um homem chamado Mario. Ele anda comprando partes de negócios locais. Talvez seja arriscado, mas...

Daiana ficou calada, tentando processar aquela ideia.

Fiama, que escutava escondida atrás da porta, sentiu o coração acelerar. Um sócio significaria mudanças, talvez até perder o controle sobre o hotel. E ela não gostava dessa ideia.

Mas o destino, como sempre, estava prestes a surpreender a todos.

Capítulos
1 Capítulo 01."Primavera no Coração de Bluberry."
2 Capítulo 2. "As Primeiras Colheitas de Bluberry."
3 capítulo 3." O Encontro Inesperado."
4 O Segredo de Bluberry.
5 Capítulo 4. " Fiama e a noite silenciosa."
6 Capítulo 5. "A aproximação."
7 Capítulo 6. "A Trilha para a Cachoeira."
8 Capítulo 7° "Noite no Terraço."
9 Capítulo 8° " Despedidas e Duvidas".
10 Capítulo 9°. O Décimo dia."
11 Capítulo 10°. "A Receita do Recomeço."
12 Capítulo 11. " O Retorno".
13 Capítulo 12. "O Nome por Trás do Mistério."
14 Capítulo 13. " Café Amargo."
15 Capítulo 14. "Invasão Silenciosa."
16 Capítulo 15." Sussurros Pela Porta."
17 Capítulo 16. " A Escolha do Silêncio."
18 Capítulo 17. "A Casa Que Já Não é Minha."
19 Capítulo 18. " Estrada Sem Nome."
20 Capítulo 19. " Herança Silenciosa."
21 Capítulo 20." "Permanecer"
22 Capítulo 21. “Ruptura”
23 Capítulo 22. “O Grito que Todos Ouviram”.
24 Capítulo 23. "A Coragem de Ir"
25 Capítulo 24 "Onde Está Fiama?"
26 Capítulo 25. "Do Orgulho ao Arrependimento".
27 Capítulo 26. "A Escolha que Fere".
28 Capítulo 27. 'O Homem Que Estendeu a Mão"
29 Capítulo 28. “A Joia e o Mistério”
30 Capítulo 29. “Do Ciclista ao Enigma”.
31 Capítulo 30.' “A Escolha É Minha”.
32 Capítulo 31." “Silêncios Entre Mãe e Filha”.
33 Capítulo 32. "O Que Direi a Ela?"
34 Capítulo 33. "Primeiras Impressões"
35 Capítulo 34. "O Peso das Primeiras Impressões".
36 Capítulo 35. "Justiça de Mãe" .
37 Capítulo.36 " Sob a Luz do Anel."
38 Capítulo 37." Noite de Estratégias'.
Capítulos

Atualizado até capítulo 38

1
Capítulo 01."Primavera no Coração de Bluberry."
2
Capítulo 2. "As Primeiras Colheitas de Bluberry."
3
capítulo 3." O Encontro Inesperado."
4
O Segredo de Bluberry.
5
Capítulo 4. " Fiama e a noite silenciosa."
6
Capítulo 5. "A aproximação."
7
Capítulo 6. "A Trilha para a Cachoeira."
8
Capítulo 7° "Noite no Terraço."
9
Capítulo 8° " Despedidas e Duvidas".
10
Capítulo 9°. O Décimo dia."
11
Capítulo 10°. "A Receita do Recomeço."
12
Capítulo 11. " O Retorno".
13
Capítulo 12. "O Nome por Trás do Mistério."
14
Capítulo 13. " Café Amargo."
15
Capítulo 14. "Invasão Silenciosa."
16
Capítulo 15." Sussurros Pela Porta."
17
Capítulo 16. " A Escolha do Silêncio."
18
Capítulo 17. "A Casa Que Já Não é Minha."
19
Capítulo 18. " Estrada Sem Nome."
20
Capítulo 19. " Herança Silenciosa."
21
Capítulo 20." "Permanecer"
22
Capítulo 21. “Ruptura”
23
Capítulo 22. “O Grito que Todos Ouviram”.
24
Capítulo 23. "A Coragem de Ir"
25
Capítulo 24 "Onde Está Fiama?"
26
Capítulo 25. "Do Orgulho ao Arrependimento".
27
Capítulo 26. "A Escolha que Fere".
28
Capítulo 27. 'O Homem Que Estendeu a Mão"
29
Capítulo 28. “A Joia e o Mistério”
30
Capítulo 29. “Do Ciclista ao Enigma”.
31
Capítulo 30.' “A Escolha É Minha”.
32
Capítulo 31." “Silêncios Entre Mãe e Filha”.
33
Capítulo 32. "O Que Direi a Ela?"
34
Capítulo 33. "Primeiras Impressões"
35
Capítulo 34. "O Peso das Primeiras Impressões".
36
Capítulo 35. "Justiça de Mãe" .
37
Capítulo.36 " Sob a Luz do Anel."
38
Capítulo 37." Noite de Estratégias'.

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