Capítulo 3- O contato

Aurora caminhava pelas ruas silenciosas de Milão naquela madrugada fria, o casaco apertado contra o corpo, o anel guardado no bolso. A mensagem anônima não a assustava — só aumentava sua determinação.

Ela tinha marcado um encontro com alguém que poderia ser a chave para tudo aquilo: um antigo jornalista investigativo chamado Enzo Marchetti, que há anos dedicava sua carreira a expor as máfias europeias, mas que sumira depois de um caso explosivo envolvendo os Bellucci.

Ao chegar ao endereço, uma pequena cafeteria discreta numa rua pouco movimentada, Aurora entrou devagar, olhando em volta. Enzo a esperava em uma mesa ao fundo, a barba grisalha e o olhar cansado, mas vivo.

— Você é Aurora? — ele perguntou sem rodeios.

— Sou. E preciso de respostas.

— Você sabe o que está se metendo, garota?

— Sei que não posso mais fugir.

Enzo suspirou e puxou uma pasta cheia de documentos. Fotografias, recortes de jornais, mapas da cidade com locais marcados. Ele explicou sobre a guerra silenciosa entre famílias mafiosas, sobre traições que marcaram gerações, e sobre o patriarca Vittorio Bellucci — homem tão poderoso que quase ninguém ousava enfrentá-lo.

— E você... — Enzo apontou uma foto antiga de uma criança ruiva, com um anel no pescoço — você é a herdeira perdida, a criança que desapareceu há 23 anos.

Aurora sentiu um misto de medo e esperança.

— Mas por que me deixaram no orfanato? — perguntou.

— Segredos de família, disputas, inimigos... — Enzo respondeu. — Alguns dizem que foi uma tentativa de proteção. Outros, um castigo. A verdade nunca veio à tona.

Aurora respirou fundo, pronta para continuar a luta.

— Eu quero saber tudo. Preciso estar preparada.

Enzo fechou a pasta lentamente, olhando nos olhos de Aurora como se pesasse cada palavra.

— Ouça com atenção. — Ele inclinou-se para frente. — A família Bellucci não é só uma dinastia de poder, é uma teia de sangue, lealdades e traições. Muitos morreram por ambição, outros desapareceram por segredos que nunca deveriam ter vazado.

Aurora apertou o anel no bolso, sentindo o peso da responsabilidade.

— E você acha que meus pais adotivos estavam certos em me esconder? — perguntou, a voz carregada de dúvida.

— Talvez sim, talvez não. — Enzo respondeu, ajeitando os óculos no rosto. — A verdade é que existe uma promessa antiga. Um pacto que mantém os Bellucci unidos — e perigosos. Você... você é a peça que pode quebrar esse pacto.

Aurora franziu o cenho, tentando entender.

— Que pacto?

— A promessa de que o herdeiro verdadeiro, o sangue mais puro, nunca cairia nas mãos erradas. Mas com você fora, por tanto tempo... os outros tentaram assumir o controle. Isso causou divisões internas, mortes. Você representa tanto uma ameaça quanto uma esperança para eles.

Enzo passou a mão pelos cabelos grisalhos, cansado.

— Eles vão querer você de volta. Talvez para protegê-la. Talvez para usá-la. Mas ninguém vai abrir mão do poder tão facilmente. Você precisa se preparar para isso.

Aurora engoliu em seco.

— Por onde eu começo?

— Primeiro, entenda seus inimigos e seus aliados. Vou te passar contatos de pessoas que confiam em mim — ou que pelo menos não querem ver os Bellucci dominando tudo. Mas cuidado: nem todos são o que parecem.

Ele entregou a ela um envelope selado, contendo nomes, endereços, números de telefone.

— Você vai precisar de tudo isso.

Aurora guardou o envelope com cuidado, o coração acelerado. Aquele era só o começo.

Ela não estava mais sozinha.

Mas também não estava segura.

Aurora guardava o envelope quando, de repente, a porta da cafeteria se abriu com um estrondo. Dois homens entraram apressados, olhando ao redor com olhos frios e calculistas. Enzo franziu o cenho, seus músculos tensos.

— É melhor você sair daqui, agora — sussurrou ele, puxando Aurora pelo braço.

Mas antes que pudessem se mover, um dos homens apontou para eles:

— Enzo Marchetti! Acabou a brincadeira. Está na hora de parar de fuçar no passado dos Bellucci.

Aurora sentiu o sangue gelar. Aqueles homens não vinham para conversar.

Enzo encarou os invasores com a calma de quem já enfrentou muito mais.

— Vocês sabem que isso não vai acabar bem, não sabem?

O mais alto dos homens sacou uma arma, mas antes que apertasse o gatilho, a sirene da polícia soou ao longe.

Os dois intrusos hesitaram, trocaram um olhar e, num movimento rápido, desapareceram pela porta dos fundos.

Aurora respirou fundo, o coração disparado.

— Isso só piorou — disse Enzo, com um olhar grave.

Ela apertou o envelope contra o peito.

— Agora não tem volta.

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Comments

Yessica Gutierrez Mamani

Yessica Gutierrez Mamani

Ansiosa pelo próximo capítulo!

2025-07-26

1

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