capítulo 4

Antes de Salvador, Diogo estava sentado na varanda do apartamento dos pais, em Ipanema, com um copo de whisky na mão, reclamando do calor — mesmo com o ar-condicionado ligado. Era início de agosto e ele tinha tudo, menos preocupação. A vida sempre foi leve pra ele. Ou, pelo menos, fácil.

Filho único de um casal de classe alta do Rio, Diogo cresceu entre clubes de tênis, viagens internacionais, carros automáticos e escola particular. Nunca soube o que era faltar. E, talvez por isso, também nunca soube o que era querer muito alguma coisa.

Tinha 28 anos, nunca havia tido um emprego de verdade e mudava de paixão como quem muda de música na rádio. Mulheres? Muitas. Raras as que passavam de uma semana. Ele era bonito, articulado, gentil quando queria — e isso bastava. Costumava dizer que “não era feito pra rotina” e que “o mundo era grande demais pra ele se prender”.

A última briga com o pai aconteceu uma semana antes da viagem para Salvador.

— Você tem quase trinta anos, Diogo! Vai viver de quê?

— De experiências, pai. De vida. De sentimento.

— Você vive de cartão de crédito, é o que você vive!

A discussão terminou com Diogo pegando uma mochila, o melhor amigo Rafa, e comprando duas passagens de ônibus pra Bahia. Sem roteiro, sem plano. Só fuga.

 

Em Salvador, tudo parecia um filme. As cores, os sons, o povo sorrindo até com o sol batendo forte no meio da testa. Ele se encantou rápido — como sempre se encantava.

E então veio Dora.

A princípio, mais uma figura interessante. Bonita, braba, cheia de atitude. O tipo de mulher que ele não encontrava nas rodinhas da Zona Sul. E foi isso que prendeu o olhar dele.

Mas havia algo diferente ali. Dora não sorria fácil. E não entregava nada de graça.

Ela falava de sonhos com os pés firmes no chão, enquanto ele andava o mundo todo com a cabeça nas nuvens. Ela economizava cada moeda, enquanto ele usava o dinheiro como se brotasse em árvore.

Ele sabia disso. E talvez soubesse, no fundo, que não era justo entrar na vida dela sem contar quem realmente era.

Mas também sabia fingir muito bem.

Viu nos olhos dela uma admiração que nunca sentiu que mereceu. Ela falava com orgulho do trabalho, das conquistas pequenas. E ele... não tinha nada disso pra mostrar.

Dora achava que Diogo era um cara leve, aventureiro, que largou tudo pra se reencontrar. O que ela não sabia era que ele nunca teve nada real pra largar.

na volta para casa Diogo teve um pensamento que não costumava visitar:

> Será que ela continuaria me olhando do mesmo jeito se soubesse a verdade?

pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu uma coisa que não sabia nomear — um aperto estranho no peito, um peso que nem o sorriso bonito, nem o charme podiam aliviar.

Era o início de algo diferente. Ou talvez... era só o começo de um conflito que ele não poderia evitar por muito tempo.

Mais populares

Comments

Ryoma Echizen

Ryoma Echizen

Eu não consigo parar de ler, você é demais!

2025-08-12

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!