Capítulo 4 — Instruções para um Marido Inexistente

— Isso é... surreal.

Foi a terceira vez que Rafael murmurou isso naquela manhã.

Sentado à beira da cama do quarto de hóspedes — agora seu novo “quarto” — ele observava a escrivaninha branca, o armário organizado e o roupão cuidadosamente dobrado sobre a cadeira. Tudo cheirava a lavanda e organização, como se tivesse sido pensado nos mínimos detalhes por alguém que vive para controlar o mundo.

Bianca.

Ele mal conseguia acreditar que havia sido casado com ela. Ou que havia sido seu motorista antes disso. Aquela mulher parecia mais uma CEO do que alguém que se apaixonaria por um funcionário. Mas ela falava com tanta convicção… havia um poder nos olhos dela, uma segurança que ele invejava naquele estado confuso em que se encontrava.

Ele desceu devagar as escadas, ainda tonto. Bianca já estava na sala de estar, sentada com uma xícara de chá, óculos de leitura no rosto e um fichário aberto à sua frente. Quando o viu, ergueu uma sobrancelha com a pontualidade de um alarme.

— Bom dia. Dormiu bem?

— Acho que sim. Embora tenha sonhado que eu tinha um jatinho. Acordar aqui foi meio… decepcionante.

Ela sorriu de lado, sem levantar os olhos dos papéis.

— O cérebro tenta compensar. Você sempre teve uma imaginação fértil, Rafael. Um dos seus defeitos mais charmosos.

Ele ficou de pé, esperando por instruções.

Ela fechou o fichário, tirou os óculos e cruzou as pernas.

— Vamos estabelecer algumas regras básicas enquanto sua memória não retorna.

— Regras?

— Sim. Conviver exige ordem. Especialmente porque essa casa tem rotina, e eu, ao contrário de você, trabalho de verdade.

Ele assentiu, devagar.

— Regra número um: nada de entrar no meu escritório. Nunca.

— Certo.

— Regra número dois: mantenha seu quarto arrumado. Eu não tenho paciência para bagunça. Se quiser, posso pedir que o ajudante da limpeza passe lá de vez em quando, mas preferia que aprendesse a se virar.

— Entendido.

— Regra três: não minta. Se não se lembrar de algo, diga. Se não souber fazer, pergunte.

Ele franziu a testa, confuso.

— E o que exatamente espera que eu faça?

Ela se levantou, elegante, como quem está prestes a dar uma palestra.

— Rafael, antes do acidente, você cuidava da parte prática da casa. Pequenos reparos, pagamentos de contas, eventualmente dirigia para mim. Também fazia compras de mercado, organizava as entregas e levava o Rufus para o veterinário.

— Rufus?

— Nosso cachorro. Ele morreu ano passado. Lamento pela sua perda — ela respondeu, com um toque teatral.

Ele engoliu em seco. Era bizarro sofrer por um cachorro que não lembrava de ter amado.

— Entendi. E quanto ao nosso... relacionamento?

Bianca fingiu surpresa.

— Nosso casamento?

— É. Como era?

Ela caminhou até ele, parando a poucos passos de distância.

— Cordial. Discreto. Baseado em respeito mútuo. E no silêncio.

— No silêncio?

— Sim. Nunca gostei de maridos falantes.

Ele piscou, sem saber se aquilo era uma provocação.

— Está bem — murmurou.

— Ótimo — ela respondeu, voltando para a sala. — O mercado entrega às terças. Hoje é dia de pagamento das contas online. Ah, e o café está na cozinha. Se quiser saber onde ficam as coisas, recomendo explorar. Você costumava gostar disso.

Rafael ficou ali por alguns segundos, sentindo-se como um figurante em um teatro que não ensaiou.

Mas, aos poucos, foi se movendo. Conhecendo os espaços. Abrindo portas. Rindo baixinho ao ver uma porta de vassouras onde achava que havia um armário. Tudo parecia novo — e, de alguma forma, íntimo.

No final da tarde, depois de errar a senha do aplicativo do banco três vezes e quase destruir a máquina de lavar, Rafael encontrou uma foto esquecida em uma das gavetas da sala: era ele, ao lado de Bianca, em um evento social qualquer. Ela estava séria. Ele, sorrindo. A legenda dizia: “Sr. e Sra. Belmont — Evento do Instituto de Justiça”.

Ele tocou o papel com cuidado. Aquela imagem parecia tão real quanto distante.

Mais tarde, quando Bianca passou pela sala, ele ergueu a foto.

— A gente... parecia feliz aqui.

Ela parou, observou, depois pegou a imagem de volta com delicadeza.

— Parecíamos, sim.

Capítulos
1 Capítulo 1 — Uma Casa, Dois Estranhos
2 Capítulo 2 — O Homem na Cama
3 Capítulo 3 — O Teatro Começa nos Bastidores
4 Capítulo 4 — Instruções para um Marido Inexistente
5 Capítulo 5 — O Encontro Ensaiado
6 Capítulo 6 — A Intimidade do Acaso
7 Capítulo 7 — Sinais do Mundo de Fora
8 Capítulo 8 — Pela Primeira Vez, Como se Fosse a Primeira Vez
9 Capítulo 9 — Coisas Que Não Se Apagam
10 Capítulo 10 — Ecos Que Não se Calam
11 Capítulo 11 — A Outra Memória
12 Capítulo 12 — A Fresta
13 Capítulo 13 — Ecos de um Passado Silenciado
14 Capítulo 14 — A Casa Entre Nós Dois
15 Capítulo 15 — Vozes que Não São Minhas
16 Capítulo 16 — Fragmentos da Verdade
17 Capítulo 17 — Entre Lençóis e Estratégias
18 Capítulo 18 — A Primeira Fenda
19 Capítulo 19 — Aquilo que Não se Diz
20 Capítulo 20 — Ecos do Que Eu Fui
21 Capítulo 21 — Fragmentos
22 Capítulo 22 — Provas ou Armadilhas
23 Capítulo 23 — Distâncias que Doem
24 Capítulo 24 – O Peso do Silêncio
25 Capítulo 25 – Verdades Ocultas
26 Capítulo 26 – O Jogo Vira
27 Capítulo 27 – Entre Orgulho e Desejo
28 Capítulo 28 – A Teia da Verdade
29 Capítulo 29 – O Confronto das Verdades
30 Capítulo 30 – O Dia da Verdade
31 Capítulo 31 – Ecos do Escândalo
32 Capítulo 32 – Entre Promessas e Sombras
33 Capítulo 33 – Promessas e Conspirações
34 Capítulo 34 – Entre o Passado e o Desejo
35 Capítulo 35 – O Inimigo Invisível
36 Capítulo 36 – Quando a Verdade é Sufocada
37 Capítulo 37 – O Tribunal das Sombras
38 Capítulo 38 – Sombras Reveladas
39 Capítulo 39 – O Contra-ataque
40 Capítulo 40 – A Guerra Silenciosa
41 Capítulo 41 – O Jogo em Público
42 Capítulo 42 – As Sombras da Repercussão
43 Capítulo 43 – Guerra nas Sombras
44 Capítulo 44 – O Golpe Mais Baixo
45 Capítulo 45 – Contra-ataque Silencioso
46 Capítulo 46 – O Cerco
47 Capítulo 47 – A Verdade à Beira do Abismo
48 Capítulo 48 – Depois da Tempestade
49 Capítulo 49 – O Reencontro com o Destino
50 Capítulo 50 – Eternamente Nós
51 Epílogo – O Amor Que Renasceu
Capítulos

Atualizado até capítulo 51

1
Capítulo 1 — Uma Casa, Dois Estranhos
2
Capítulo 2 — O Homem na Cama
3
Capítulo 3 — O Teatro Começa nos Bastidores
4
Capítulo 4 — Instruções para um Marido Inexistente
5
Capítulo 5 — O Encontro Ensaiado
6
Capítulo 6 — A Intimidade do Acaso
7
Capítulo 7 — Sinais do Mundo de Fora
8
Capítulo 8 — Pela Primeira Vez, Como se Fosse a Primeira Vez
9
Capítulo 9 — Coisas Que Não Se Apagam
10
Capítulo 10 — Ecos Que Não se Calam
11
Capítulo 11 — A Outra Memória
12
Capítulo 12 — A Fresta
13
Capítulo 13 — Ecos de um Passado Silenciado
14
Capítulo 14 — A Casa Entre Nós Dois
15
Capítulo 15 — Vozes que Não São Minhas
16
Capítulo 16 — Fragmentos da Verdade
17
Capítulo 17 — Entre Lençóis e Estratégias
18
Capítulo 18 — A Primeira Fenda
19
Capítulo 19 — Aquilo que Não se Diz
20
Capítulo 20 — Ecos do Que Eu Fui
21
Capítulo 21 — Fragmentos
22
Capítulo 22 — Provas ou Armadilhas
23
Capítulo 23 — Distâncias que Doem
24
Capítulo 24 – O Peso do Silêncio
25
Capítulo 25 – Verdades Ocultas
26
Capítulo 26 – O Jogo Vira
27
Capítulo 27 – Entre Orgulho e Desejo
28
Capítulo 28 – A Teia da Verdade
29
Capítulo 29 – O Confronto das Verdades
30
Capítulo 30 – O Dia da Verdade
31
Capítulo 31 – Ecos do Escândalo
32
Capítulo 32 – Entre Promessas e Sombras
33
Capítulo 33 – Promessas e Conspirações
34
Capítulo 34 – Entre o Passado e o Desejo
35
Capítulo 35 – O Inimigo Invisível
36
Capítulo 36 – Quando a Verdade é Sufocada
37
Capítulo 37 – O Tribunal das Sombras
38
Capítulo 38 – Sombras Reveladas
39
Capítulo 39 – O Contra-ataque
40
Capítulo 40 – A Guerra Silenciosa
41
Capítulo 41 – O Jogo em Público
42
Capítulo 42 – As Sombras da Repercussão
43
Capítulo 43 – Guerra nas Sombras
44
Capítulo 44 – O Golpe Mais Baixo
45
Capítulo 45 – Contra-ataque Silencioso
46
Capítulo 46 – O Cerco
47
Capítulo 47 – A Verdade à Beira do Abismo
48
Capítulo 48 – Depois da Tempestade
49
Capítulo 49 – O Reencontro com o Destino
50
Capítulo 50 – Eternamente Nós
51
Epílogo – O Amor Que Renasceu

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