Tem gente que pergunta por ele.
Com cuidado, como quem pisa em cacos de vidro.
Outros nem falam, só olham de canto, com pena disfarçada.
“E o pai dela? Ajuda?”
Ajuda?
Ajuda o quê?
A esquecer?
A suportar?
Não.
Ele não ajuda.
Não liga.
Não pergunta.
Não manda mensagem nem pra saber se você tá viva.
No começo, isso me rasgava.
Cada vez que meu celular vibrava, eu esperava ser ele.
Mas nunca era.
Agora, já nem espero mais.
A ausência dele virou um buraco no chão que eu aprendi a desviar.
Mas mesmo desviando, eu ainda sei que ele tá ali.
O pior é que, um dia, você vai perguntar.
Vai querer saber.
E eu não sei como vou te explicar sem te machucar.
Sem mentir.
Sem odiar.
Só sei que, quando esse dia chegar, eu vou te abraçar.
E dizer que ele perdeu.
Que ele teve a chance de conhecer a melhor parte do mundo…
E escolheu virar as costas.
Diário – Capítulo 14
"Quando você dorme, eu existo um pouco."
Tem noites em que, quando você finalmente dorme, eu fico acordada.
Não por obrigação.
Mas por desespero.
Por vontade de existir além da maternidade.
Coloco você no berço.
Checo se tá tudo certo.
Se respira bem.
Se o lençol tá no lugar.
E então me sento.
Sozinha.
Abro o caderno.
Escrevo.
Ou fico só olhando pro vazio, tentando lembrar o que eu gostava antes.
Gosto de escrever.
Sempre gostei.
Mas agora, quando escrevo, cada palavra vem coberta de leite, sono, culpa, medo.
E ainda assim, escrever me salva.
É quando respiro.
É quando lembro que sou mais do que mamadas e fraldas.
Que sou mais do que uma adolescente que “errou”.
Que sou mulher.
Mãe.
Pessoa.
Você dorme.
E eu existo.
Por um instante.
E é o bastante por hoje.
Diário – Capítulo 15
"Ser mãe me ensinou a morrer e nascer todos os dias."
Filha,
Ninguém me contou que ser mãe é morrer.
Morrer pra antiga vida.
Pros antigos planos.
Pros antigos sonhos.
Morro cada vez que desisto de algo pra te priorizar.
Morro toda vez que engulo o choro pra não te assustar.
Morro um pouco quando vejo meninas da minha idade saindo, rindo, sonhando sem peso.
Mas também…
Nasço.
Nasço quando te vejo sorrir.
Quando escuto sua gargalhinha sem dente.
Quando você segura meu dedo com sua mãozinha gordinha e confia em mim sem saber de nada.
Nasço quando percebo que sobrevivi a mais um dia.
Quando vejo que, apesar do cansaço, estou inteira.
Ou quase.
Mas suficiente.
A maternidade me destruiu de um jeito que eu nunca imaginei.
Mas também me reconstruiu com peças novas.
Mais firmes.
Mais reais.
E mesmo com medo…
Eu sigo.
Porque amar você me refaz.
Mamãe te ama de mais minha pequena princesa do céu. Seu papai não sabe o que ele está perdendo por deixar esses momentos tão importantes sem te procurar para saber coisas básicas ou te dar um oi , oi pelo menos um bom dia , para animar eu e vc a seguir o nosso dia com um sorriso no rosto .
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Atualizado até capítulo 23
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