4. O Conselho

Os passos duros caminhavam pelo extenso corredor de pinheiros. O olhar firme e penetrante analisava cada detalhe ao redor, carregando a marca de sua autoridade silenciosa. Todos os empregados se encolhiam nos cantos quando ele passava, como se pegassem fogo ao encostar nele. A atmosfera ficava pesada, quase sufocante.

O homem abriu a porta em silêncio. A sala, antes barulhenta, foi tomada por um silêncio sepulcral. Todos os presentes endireitaram suas posturas à medida que ele atravessava o ambiente, passando um por um sem sequer lançar um olhar. Como se a presença dele bastasse para exigir respeito — ou medo.

Ao chegar à sua cadeira, ele se sentou com calma. Pousou a mão sobre a mesa, revelando um grande anel de prata em seu dedo médio. A primeira a falar foi uma ômega idosa. Sua expressão era firme e controlada, mas até mesmo para ela, o homem à sua frente era perigoso.

— Senhor, o Conselho Vel’Kaun lhe saúda.

Todos se levantaram em uníssono e se curvaram, sentando-se logo após alguns segundos, em perfeita sincronia. A idosa prosseguiu:

— Precisamos resolver os problemas da nossa sociedade. Alguns ômegas estão começando a socializar com aquela escória. Eles não podem se reproduzir, pelo menos não de formas convencionais, e isso é um ultraje! Eles são defeituosos.

Sua fala era tão cortante quanto seus olhos.

O Alfa a observou em silêncio por longos segundos, então desviou o olhar para os demais membros do Conselho, que murmuravam concordância. Ele também concordava — em parte — mas precisava manter a imparcialidade.

— Eu entendo seu posicionamento, senhora Kingston — disse com a voz controlada. Seu olhar analítico revelava mais do que os outros conseguiam entender. — Mas não posso permitir que se refira a qualquer grupo dessa forma em uma reunião desse nível. Apesar dos betas serem o que são… ainda são humanos.

Kael bateu os dedos na mesa de madeira escura, medindo os rostos ao redor. Ele concordava em essência com Kingston, mas precisava manter o juramento de sua família. "Todos merecem a dádiva da vida, não importa como nasceram."

— Ah, vamos, Damien! — interrompeu um alfa do outro lado da mesa. — Você sempre defende essa escória. Não precisa seguir aquela maldita promessa se vai contra sua vontade de erradicar esses parasitas.

Kael apertou os dedos na borda da mesa. Um leve rosnado escapou de sua garganta. O alfa do outro lado encolheu os ombros, mas não abaixou a cabeça.

— Não comece com suas ladainhas, Nathan. Eu fiz um juramento. E se você não entende o peso disso, posso explicar.

Levantou-se devagar. Sua presença já era opressora sentado, mas em pé, tornava-se impossível ignorá-lo. Caminhou até a cadeira de Nathan. Pousou a mão sobre o ombro dele, sorrindo com os lábios, mas sem que o sorriso tocasse os olhos. Seus caninos brancos brilharam sob a luz pálida.

— Um juramento vai além de palavras ao vento — disse, apertando o ombro de Nathan. — Foi esse juramento que me colocou nessa cadeira. Que me tornou melhor que todos vocês aqui. E por mais que minha opinião pessoal seja divergente, eu devo zelar por todos. Até mesmo... por aqueles que eu odeio.

Sua última frase saiu como uma sentença. Ele se inclinou próximo ao rosto do alfa, os olhos percorrendo os presentes antes de voltar ao de Nathan.

— Fui claro, senhor Smith?

— S-sim...

— Que bom.

Kael retornou a seu assento com os mesmos passos firmes. Sua aura amedrontadora parecia se espalhar como fumaça densa pela sala.

— Reconheço que os betas estão crescendo em número e fazendo mais barulho. — Cruzou os braços. — Mas o que posso fazer é o que já está em prática: separá-los de nós. Não erradicarei NENHUMA raça.

Murmúrios de reprovação tomaram o salão.

O olhar dele se deslocou, calmo, até o rosto franzino do irmão. Um ômega magro, quase imperceptível naquele ambiente de feras. Tristan escrevia intensamente em seu bloco de notas.

— Tristan, o que tanto escreve? Se tem alguma ideia que não envolva matar pessoas, estou disposto a ouvir.

Kael não esperava grandes coisas ali, mas precisava formar seu irmão — ensiná-lo a falar como líder.

— Hã... — Tristan engoliu seco. Suas mãos tremiam levemente enquanto apoiava o bloco de notas no colo. — Sei que ninguém vai concordar... — mordeu o lábio, os olhos buscando apoio no irmão, mas Kael mantinha sua expressão impenetrável. — Mas... que tal escutarmos eles? Não falo em dar direitos como os nossos. Mas... se queremos que um animal pare de reclamar, damos um brinquedo.

— O que quer dizer com isso, moleque? Dar direitos pra eles? Nunca!

— Silêncio! — Kael ordenou, a voz firme e alta. — Tristan, continue.

— O ponto é... eles sempre vão protestar se não tiverem outra coisa em que se focar. Precisamos criar um plano pra distrair os betas. Eu e Kael poderíamos ir às cidades baixas, ver do que precisam... — a voz dele se ergueu um pouco — ...o que faria eles pararem de gritar por igualdade, mesmo que só por um tempo.

Kael ergueu uma sobrancelha. Um sorriso sutil se formou, quase imperceptível. A ideia fazia sentido — simples, funcional.

— Muito bem... deem seus contras. Mas falem com controle.

— Eu discordo! Isso só vai fazer eles quererem mais.

— Concordo! Betas são vermes! Isso é alimento pra que sonhem mais alto.

Kael escutou tudo, calado. Então apoiou os cotovelos na mesa e cruzou as mãos.

— Certo. E os que são contra... têm algo melhor?

O silêncio caiu como uma pedra.

Kael apenas assentiu.

— Estamos combinados, então. Hoje mesmo eu e Tristan iremos para as cidades baixas. Próximo tópico.

A reunião se arrastou por horas, discussões vazias e discursos inflamados. Kael odiava aquilo, mas fazia parte do equilíbrio frágil que ainda existia.

Quando o último conselheiro saiu, restaram apenas os irmãos. Kael acenou para Tristan se aproximar.

— O que sugere para hoje?

— Damien — disse Tristan com um sorriso de canto, sentando-se. — Existe uma loja de essências lá embaixo. Queria passar lá. Podemos aproveitar pra observar enquanto andamos. Você não precisa falar nada, só andar ao meu lado.

Kael o observou por um momento. Talvez ele fosse um irmão mimado — mas era seu irmão. E protegê-lo era algo que fazia instintivamente.

— Tudo bem. É bom que vá aprendendo sobre essas coisas também. Os seguranças estarão com a gente.

Ele se levantou, postura imponente como sempre.

— Vamos.

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Monica De Carvalho Carvalho

Monica De Carvalho Carvalho

Quem desdenha quer comprar, o ditado é simples, para os ômegas e alfas betas são escórias, mas não largam o osso.

2025-08-19

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