Cap. II
Angel
[Olhando pela janela, o rosto meio perdido]
As luzes da cidade vão se acendendo uma a uma...
O céu escurece devagar, tingido de tons azul-escuros e lilás.
O quarto tem luz morna, suave. Os móveis antigos rangem em silêncio.
Angel
Só um reencontro inocente. Certo?
Angel
[Se senta na beirada da cama]
O colchão afunda com o peso do corpo.
A mala ainda fechada no canto do quarto.
Angel
💭Leonard... ele vai estar lá...💭
Angel
💭Mas... Matt também💭
📱O celular vibra em cima da escrivaninha📱
Angel
[estica a mão pegando o aparelho e assim conferindo as notificações]
Matteo
Pai tá tentando cozinhar sozinho! 😂
Matteo
Corre antes que a gente morra intoxicado 🤧
Angel
[sorri de leve, mas os olhos não acompanham]
Angel
[abaca por deixar o aparelho de lado, pensativo, a mensagem ainda aberta na tela]
Angel
💭dramático como sempre💭
Angel
💭Engraçado como ele fala do pai com tanta leveza…💭
Angel
💭Como se fosse só mais um pai qualquer.💭
Angel
[Levanta devagar e encara o armário que sempre o pertenceu.]
Angel
[Pega uma camisa preta simples e jeans escuro. Observa por um instante antes de vestir.]
Angel
E se ele nem olhar na minha cara?
Angel
[Se aproxima do espelho.]
Angel
[O reflexo o encara de volta. Cabelos arrumados, expressão contida, mas os olhos… entregam tudo.]
Angel
Droga... [sussurro] você... no fundo sabe que não é só um maldito jantar...
As calçadas estão vazias.
A brisa da noite sopra suave, carregando cheiro de terra molhada e fumaça distante.
As luzes dos postes lançam sombras longas. O som abafado de TV e conversas escapam pelas janelas das casas enquanto Angel seguia caminhando com as mãos nos bolsos de seu casaco.
Angel
💭Meus passos me conhecem melhor do que eu.💭
Angel
💭Sabem pra onde estou indo…
Mesmo quando eu finjo não saber.💭
A frente a casa dos Reyer's se destaca...
Um verdadeiro convite à calma... pintada em um branco suave, com detalhes em madeira escura no telhado e nas portas de vidro duplo que se abrem para uma varanda acolhedora.
A luz amarela quente escapa pelas janelas e banha suavemente o chão molhado pela garoa que caiu mais cedo. Um leve vapor sobe da chaminé ao fundo da casa, denunciando o calor da churrasqueira que já trabalha firme.
O portão branco, baixo e ornamentado com detalhes de ferro, abre-se para um quintal amplo, decorado com vasos de plantas alinhados e floridos. À direita, uma mesa de madeira está posta sob a varanda, rodeada por cadeiras simples, mas elegantes.
A fumaça do churrasco mistura-se com o cheiro de carne assando, especiarias e risos abafados de vozes conhecidas, tudo embalado por uma trilha sonora no ambiente que sai de uma caixinha de som discreta, próxima à parede da varanda.
Angel
💭Foi aqui... Que tudo começou.💭
Matteo
[Aparece sorrindo, descalço, camiseta larga, com um pano de prato no ombro.]
Matteo
Pensei que tinha fugido!
Matteo
Entra logo, cara. Tá tudo quase pronto...
Matteo
[abre o portão e o abraça com força, como se nada tivesse mudado]
Angel
[sente o peito apertar e devolve o abraço logo adentrando junto do amigo]
Angel
[os passos parecendo mais pesados à medida que se aproximam dos fundos]
A luz das lamparinas penduradas no varal ilumina o quintal com tons dourados.
Plantas em vasos grandes cercam o espaço.
Um violão encostado na parede.
Uma cerveja esquecida sobre o freezer.
E ali, de costas para tudo, está ele.
A camsa social escura molda o corpo largo e bem esculpido. As mangas dobradas até a altura dos cotovelos enquanto as tatuagens e veias se mantinham à mostra...
Ele segura a pinça com firmeza, virando as carnes na grelha com calma.
Angel
[olhos sutilmente arregalados enquanto suor lhe escorria pelas têmporas]
O homem mais velho ainda se mantinha distraído e quando finalmente se vira...
O mundo desacelera por um instante.
A mesma ausência de palavras.
Foi ele quem falou primeiro:
Leonard
Angel... [voz baixa e rouca, quase num sussurrar enquanto um sorriso lhe surgia ao canto dos lábios] finalmente, chegou.
Só o estalo da brasa e o som do coração de Angel batendo alto demais para ser ignorado.
Angel
💭Eu deveria ter voltado pro quarto.💭
Angel
💭Deixado essa cidade.💭
Os olhos ainda se cruzavam.
A fumaça queima, mas não tanto quanto o que eles sentem no peito.
O cheiro da carne, o calor da brasa, tudo vira pano de fundo para aquele instante mudo.
Leonard
💭Ele tá exatamente igual…💭
Leonard
💭Ou talvez eu só tenha guardado ele perfeito demais na memória.💭
Matteo que nem percebe a tensão no ar...
Ri, colocando uma música animada no celular, pegando duas latinhas de dentro do freezer acabando por derramar farofa no chão mas ignorando a esse detalhe chama os dois para brindar.
Matteo
[entrega uma latinha na mão de Angel]
Leonard
[observando fixamente ao mais novo, pisca desviando o olhar para o filho que lhe chamava a atenção]
Angel
[sutilmente corado, envolvido pelo amigo e tentando ignorar o olhar que recaía sobre si com o peso de um predador sobre sua presa]
Matteo
Às voltas inesperadas da vida!
Matteo
E a picanha também, claro... [rindo e brindando]
Leonard
[Estende a latinha para Angel]
Os dedos se tocam sem querer.
O tilintar do atrito entre as latas é abafado internamente pelo barulho do coração de Angel, latejando no fundo do peito.
Angel
💭Eu disse que ia ser só um jantar.💭
Angel
💭Mas nada é “só” quando se trata dele.💭
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