The Gamer

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O despertar de um Imp?

O ar era uma bofetada gelada de mofo e decomposição, carregada com o fedor metálico de sangue velho e algo mais... um cheiro rançoso e doce que Roberto Garcia Frances, o Soldado Frances, não conseguia identificar. Tentou mover-se, mas seu corpo não respondia como deveria. Era pequeno, frágil, e parecia emaranhado em algo úmido e pegajoso. Seus músculos gritavam em protesto, uma dor difusa e persistente que não vinha de ferimentos, mas de uma profunda inércia.

Abriu os olhos. Ou tentou. A escuridão era quase absoluta, mas não completa. Fracas e distorcidas, as silhuetas de estruturas rochosas retorcidas dançavam na penumbra, iluminadas por um brilho pálido e distante que parecia emanar de fungos bioluminescentes ou alguma fonte de luz subterrânea. Ele estava deitado sobre uma superfície úmida e fria, composta de terra batida e pequenas pedras afiadas que o arranhavam.

Uma sensação estranha, uma espécie de comichão profunda, agitou seu corpo minúsculo. Tentou coçar, mas a mão que se ergueu à sua frente era... errada. Pequena, de dedos finos e garras curtas e afiadas. A pele era preta, opaca e enrugada, e as unhas, que antes eram brancas e limpas, eram agora garras escuras e pontudas. Franziu o que deveriam ser sobrancelhas, mas sentiu apenas o repuxar da pele fria sobre os ossos.

Era um pesadelo. Um pesadelo vívido e aterrorizante.

O pânico começou a se instalar. Onde ele estava? O que havia acontecido? A última coisa que se lembrava era...

O calor sufocante do beco. O cheiro de pólvora no ar. Os gritos da operação. A voz do moleque, tão jovem, tão perdido. "Larga a arma, pivete! Não precisa disso!" A hesitação do garoto, os olhos arregalados de medo e raiva. A decisão, rápida e instintiva, de abaixar sua própria arma, de virar as costas para dar ao adolescente uma chance de fugir, de não ter que viver com o peso de uma vida tirada.

O lampejo. O som abafado de um disparo. A dor excruciante e imediata na nuca, como um martelo implacável. O mundo girando. Os joelhos cedendo. O gosto metálico de sangue na boca. E, nos segundos que se estenderam como séculos, a imagem distorcida do adolescente, parado ali, a arma fumegante nas mãos, os olhos fixos nele enquanto caía. Não era medo ou raiva agora, era algo frio e vazio.

Matheus. Ruan. Os rostos dos filhos. Os sorrisos. As risadas. "Pai, vamos assistir mais um anime isekai!" A dor da morte, o desespero de deixá-los, de não vê-los crescer. Um lamento silencioso. Escuridão.

Frances prendeu a respiração, um som rascante e fino que não parecia vir dele. As lembranças, cruéis e vívidas, o atingiram como um trem desgovernado, esmagando qualquer resquício de dúvida. Não era um sonho. Não era um pesadelo.

Ele estava morto. E, de alguma forma, havia "acordado" aqui.

Os animes de isekai que seus filhos tanto amavam, que ele assistia com eles para agradá-los, para ter um tempo em família... eles não eram apenas ficção. Ele estava em um. A realidade era um choque frio e brutal. Não havia caminhão. Não havia ritual. Apenas a morte e esse despertar em um corpo... demoníaco.

Olhou novamente para sua mão preta, para as pequenas garras. Tentou levantar-se. Seus membros eram fracos e descoordenados. Ele cambaleou, as pernas finas mal o sustentando, e caiu de joelhos novamente.

Uma fome lancinante o dominou, diferente de qualquer coisa que já sentira. Não era a fome humana de um estômago vazio, era uma necessidade primal e gutural que parecia devorar sua própria essência. Era a fome de um predador, de um necrófago. Seus olhos, que ele agora percebia serem grandes e brilhantes em um tom âmbar na escuridão, varreram o ambiente, buscando qualquer coisa, qualquer coisa que pudesse aliviar essa agonia.

Ele, Roberto Garcia Frances, um policial exemplar, pai de dois, agora era um... Resquício de Imp. Uma criatura minúscula, fraca, e com uma fome assustadora. A ideia de voltar para casa, para Matheus e Ruan, parecia uma fantasia ainda mais distante do que os animes que eles viam juntos. Não havia "volta". Havia apenas "agora". E o agora era sobreviver.

A fome era um rosnado constante em seu ventre, uma tortura que eclipsava o frio e o desconforto de seu novo corpo. O cheiro de putrefação, que antes causava náuseas, agora era um farol, um convite irresistível. Era um odor agridoce e pesado de carne em decomposição, mofado e úmido, que parecia impregnar cada fibra de seu ser de Resquício de Imp. Seu estômago contraía, suas novas garras coçavam. Aquilo estava errado. Roberto Garcia Frances, o Soldado Frances, jamais se imaginaria atraído por algo tão abjeto.

Mas a fome vencia.

Movendo-se com uma dificuldade surpreendente para seu tamanho, Roberto começou a rastejar. Seu corpo pequeno e frágil parecia malfeito, desajeitado. Ele usava as garras para se impulsionar sobre o solo frio e úmido da caverna subterrânea, as pernas finas e frágeis tremendo a cada movimento. A escuridão era uma constante ameaça, mas seus olhos âmbar pareciam cortar a penumbra com uma nova acuidade, captando os brilhos fracos dos fungos bioluminescentes nas paredes e a silhueta de estalagmites e estalactites grotescas.

O cheiro ficava mais forte a cada centímetro, preenchendo sua boca com uma saliva espessa e amarga. Roberto tentava racionalizar, tentava se convencer de que o que quer que estivesse causando aquele odor repugnante, não se pareceria com o cheiro. Que talvez fosse uma planta exótica, ou um mineral estranho. Uma esperança ingênua para um mundo que ele já sentia ser cruel e indiferente.

Os túneis se estreitavam e se alargavam, labirínticos, ecoando com o gotejar incessante de alguma fonte de água subterrânea. O som se misturava ao farfalhar de algo pequeno se movendo nas sombras, talvez insetos, talvez outras criaturas rastejantes. Roberto evitava o que podia, mas sua prioridade era o cheiro, o alívio que ele prometia.

Eventualmente, o túnel se abriu em uma pequena câmara. O ar ali era quase sólido com o fedor. No centro, sob o brilho mais intenso de um aglomerado de fungos luminosos, jazia o que parecia ser o cadáver de um pequeno goblin. Era uma criatura patética, verde-acinzentada, com uma faca de osso ainda cravada em seu peito, indicando uma morte violenta e recente. Seus olhos perolados estavam vidrados, e uma poça de sangue escuro e seco formava uma auréola fúnebre ao seu redor.

Roberto parou, a centímetros do corpo. Seus novos sentidos gritavam. A visão do corpo o repeliu. Era grotesco. A voz do Soldado Frances em sua mente gritava "Nojo! Errado!". Mas a fome. A fome era um fogo consumidor, um inferno que ele não podia mais ignorar. Ela ofuscava todo e qualquer preceito moral que ele carregava de sua vida anterior.

Aproximou-se hesitantemente, seu pequeno nariz se contorcendo. Tocou o corpo frio com uma de suas garras. A pele era áspera e irregular. A necessidade era avassaladora. Sem pensar, sem dar-se tempo para que o nojo vencesse, ele se curvou.

E devorou.

As pequenas garras rasgaram a carne fria e resistente. Os dentes, antes humanos, agora pontiagudos e pequenos, mastigavam com uma ferocidade que o assustou. O gosto era metálico e podre, uma explosão de sensações que deveria ser nauseante, mas que, estranhamente, trazia um alívio imediato e visceral. Cada pedaço ingerido era como uma dose de energia que percorria seu corpo frágil.

Uma luz esverdeada e translúcida piscou diante de seus olhos, visível apenas para ele. Era um holograma, flutuando no ar.

[Habilidade 'Devorar Cadáver' Ativada!]

+30 HP

+15 MP

+20 SP

+25 EXP

A barra de experiência no canto da tela subiu visivelmente, uma pequena fração preenchida com um brilho vibrante. Seu corpo sentiu-se mais forte, a fome diminuiu para um murmúrio distante. O alívio foi indescritível, quase eufórico.

O corpo do goblin estava um horror disforme, dilacerado pelo seu banquete inesperado. Roberto recuou, ofegando. O nojo voltou em ondas, misturado com uma pontada de vergonha. Ele havia feito aquilo. Havia se tornado aquilo.

Ele era um Resquício de Imp. Um monstro. Mas estava vivo.

Capítulos
1 O despertar de um Imp?
2 O primeiro combate como Resquício de Imp.
3 O diálogo da sobrevivência.
4 A evolução do Imp.
5 O choro da Súcubo inútil.
6 Comer ou ser comido.
7 De volta à caça.
8 Onde não existe espaço para fraqueza.
9 Um avanço: O segredo sobre o Sistema.
10 O objetivo do Imp carnívoro.
11 Quando o predador se torna a presa.
12 O bosque das fadas.
13 Os deuses gêmeos e o aviso da fada.
14 O confronto inevitável, o Imp vs a fada.
15 Uma revelação inesperada.
16 O Aviso e a Passagem e a nova missão.
17 O Rastro do Lutador e a emboscada.
18 O Olhar Repulsivo e o Início da Batalha.
19 O Presente Amargo do Duende.
20 O Sequestro e o Confronto Alado.
21 O Rastro Perdido e a Promessa de Reencontro.
22 O Combate Aberrante.
23 Ascensão e uma Nova Habilidade Sombria.
24 Fúria Primordial Contra Yanha’ri, a Mãe do Labirinto.
25 A Barreira Inquebrável e o Toque do Caos.
26 O Lamento Final e a Ascensão do Carniceiro.
27 A Elfa Curiosa e o Pedido de Ajuda.
28 O Segredo Revelado.
29 A Caverna da Besta.
30 O Ataque Implacável.
31 O Troféu e o Convite Relutante.
32 O Julgamento da Aldeia e a recompensa.
33 O Chamado da Serpente Akoki.
34 A Queda da Akoki e o terrível mal entendido.
35 A Fúria Despertada.
36 O Preço da Fé e a Intervenção.
37 Uma Ameaça e Uma Intervenção.
38 Confronto com a Abominação.
39 O Plano do Demônio Carniceiro.
40 O Balé Mortal do General e o Carniceiro.
41 A Retirada das Sombras e a aliança inesperada.
42 A Jornada ao Castelo Negro.
43 O Plano de Invasão e a Opinião Inesperada.
44 A Dança das Espadas e o giro do martelo.
Capítulos

Atualizado até capítulo 44

1
O despertar de um Imp?
2
O primeiro combate como Resquício de Imp.
3
O diálogo da sobrevivência.
4
A evolução do Imp.
5
O choro da Súcubo inútil.
6
Comer ou ser comido.
7
De volta à caça.
8
Onde não existe espaço para fraqueza.
9
Um avanço: O segredo sobre o Sistema.
10
O objetivo do Imp carnívoro.
11
Quando o predador se torna a presa.
12
O bosque das fadas.
13
Os deuses gêmeos e o aviso da fada.
14
O confronto inevitável, o Imp vs a fada.
15
Uma revelação inesperada.
16
O Aviso e a Passagem e a nova missão.
17
O Rastro do Lutador e a emboscada.
18
O Olhar Repulsivo e o Início da Batalha.
19
O Presente Amargo do Duende.
20
O Sequestro e o Confronto Alado.
21
O Rastro Perdido e a Promessa de Reencontro.
22
O Combate Aberrante.
23
Ascensão e uma Nova Habilidade Sombria.
24
Fúria Primordial Contra Yanha’ri, a Mãe do Labirinto.
25
A Barreira Inquebrável e o Toque do Caos.
26
O Lamento Final e a Ascensão do Carniceiro.
27
A Elfa Curiosa e o Pedido de Ajuda.
28
O Segredo Revelado.
29
A Caverna da Besta.
30
O Ataque Implacável.
31
O Troféu e o Convite Relutante.
32
O Julgamento da Aldeia e a recompensa.
33
O Chamado da Serpente Akoki.
34
A Queda da Akoki e o terrível mal entendido.
35
A Fúria Despertada.
36
O Preço da Fé e a Intervenção.
37
Uma Ameaça e Uma Intervenção.
38
Confronto com a Abominação.
39
O Plano do Demônio Carniceiro.
40
O Balé Mortal do General e o Carniceiro.
41
A Retirada das Sombras e a aliança inesperada.
42
A Jornada ao Castelo Negro.
43
O Plano de Invasão e a Opinião Inesperada.
44
A Dança das Espadas e o giro do martelo.

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