O ar era uma bofetada gelada de mofo e decomposição, carregada com o fedor metálico de sangue velho e algo mais... um cheiro rançoso e doce que Roberto Garcia Frances, o Soldado Frances, não conseguia identificar. Tentou mover-se, mas seu corpo não respondia como deveria. Era pequeno, frágil, e parecia emaranhado em algo úmido e pegajoso. Seus músculos gritavam em protesto, uma dor difusa e persistente que não vinha de ferimentos, mas de uma profunda inércia.
Abriu os olhos. Ou tentou. A escuridão era quase absoluta, mas não completa. Fracas e distorcidas, as silhuetas de estruturas rochosas retorcidas dançavam na penumbra, iluminadas por um brilho pálido e distante que parecia emanar de fungos bioluminescentes ou alguma fonte de luz subterrânea. Ele estava deitado sobre uma superfície úmida e fria, composta de terra batida e pequenas pedras afiadas que o arranhavam.
Uma sensação estranha, uma espécie de comichão profunda, agitou seu corpo minúsculo. Tentou coçar, mas a mão que se ergueu à sua frente era... errada. Pequena, de dedos finos e garras curtas e afiadas. A pele era preta, opaca e enrugada, e as unhas, que antes eram brancas e limpas, eram agora garras escuras e pontudas. Franziu o que deveriam ser sobrancelhas, mas sentiu apenas o repuxar da pele fria sobre os ossos.
Era um pesadelo. Um pesadelo vívido e aterrorizante.
O pânico começou a se instalar. Onde ele estava? O que havia acontecido? A última coisa que se lembrava era...
O calor sufocante do beco. O cheiro de pólvora no ar. Os gritos da operação. A voz do moleque, tão jovem, tão perdido. "Larga a arma, pivete! Não precisa disso!" A hesitação do garoto, os olhos arregalados de medo e raiva. A decisão, rápida e instintiva, de abaixar sua própria arma, de virar as costas para dar ao adolescente uma chance de fugir, de não ter que viver com o peso de uma vida tirada.
O lampejo. O som abafado de um disparo. A dor excruciante e imediata na nuca, como um martelo implacável. O mundo girando. Os joelhos cedendo. O gosto metálico de sangue na boca. E, nos segundos que se estenderam como séculos, a imagem distorcida do adolescente, parado ali, a arma fumegante nas mãos, os olhos fixos nele enquanto caía. Não era medo ou raiva agora, era algo frio e vazio.
Matheus. Ruan. Os rostos dos filhos. Os sorrisos. As risadas. "Pai, vamos assistir mais um anime isekai!" A dor da morte, o desespero de deixá-los, de não vê-los crescer. Um lamento silencioso. Escuridão.
Frances prendeu a respiração, um som rascante e fino que não parecia vir dele. As lembranças, cruéis e vívidas, o atingiram como um trem desgovernado, esmagando qualquer resquício de dúvida. Não era um sonho. Não era um pesadelo.
Ele estava morto. E, de alguma forma, havia "acordado" aqui.
Os animes de isekai que seus filhos tanto amavam, que ele assistia com eles para agradá-los, para ter um tempo em família... eles não eram apenas ficção. Ele estava em um. A realidade era um choque frio e brutal. Não havia caminhão. Não havia ritual. Apenas a morte e esse despertar em um corpo... demoníaco.
Olhou novamente para sua mão preta, para as pequenas garras. Tentou levantar-se. Seus membros eram fracos e descoordenados. Ele cambaleou, as pernas finas mal o sustentando, e caiu de joelhos novamente.
Uma fome lancinante o dominou, diferente de qualquer coisa que já sentira. Não era a fome humana de um estômago vazio, era uma necessidade primal e gutural que parecia devorar sua própria essência. Era a fome de um predador, de um necrófago. Seus olhos, que ele agora percebia serem grandes e brilhantes em um tom âmbar na escuridão, varreram o ambiente, buscando qualquer coisa, qualquer coisa que pudesse aliviar essa agonia.
Ele, Roberto Garcia Frances, um policial exemplar, pai de dois, agora era um... Resquício de Imp. Uma criatura minúscula, fraca, e com uma fome assustadora. A ideia de voltar para casa, para Matheus e Ruan, parecia uma fantasia ainda mais distante do que os animes que eles viam juntos. Não havia "volta". Havia apenas "agora". E o agora era sobreviver.
A fome era um rosnado constante em seu ventre, uma tortura que eclipsava o frio e o desconforto de seu novo corpo. O cheiro de putrefação, que antes causava náuseas, agora era um farol, um convite irresistível. Era um odor agridoce e pesado de carne em decomposição, mofado e úmido, que parecia impregnar cada fibra de seu ser de Resquício de Imp. Seu estômago contraía, suas novas garras coçavam. Aquilo estava errado. Roberto Garcia Frances, o Soldado Frances, jamais se imaginaria atraído por algo tão abjeto.
Mas a fome vencia.
Movendo-se com uma dificuldade surpreendente para seu tamanho, Roberto começou a rastejar. Seu corpo pequeno e frágil parecia malfeito, desajeitado. Ele usava as garras para se impulsionar sobre o solo frio e úmido da caverna subterrânea, as pernas finas e frágeis tremendo a cada movimento. A escuridão era uma constante ameaça, mas seus olhos âmbar pareciam cortar a penumbra com uma nova acuidade, captando os brilhos fracos dos fungos bioluminescentes nas paredes e a silhueta de estalagmites e estalactites grotescas.
O cheiro ficava mais forte a cada centímetro, preenchendo sua boca com uma saliva espessa e amarga. Roberto tentava racionalizar, tentava se convencer de que o que quer que estivesse causando aquele odor repugnante, não se pareceria com o cheiro. Que talvez fosse uma planta exótica, ou um mineral estranho. Uma esperança ingênua para um mundo que ele já sentia ser cruel e indiferente.
Os túneis se estreitavam e se alargavam, labirínticos, ecoando com o gotejar incessante de alguma fonte de água subterrânea. O som se misturava ao farfalhar de algo pequeno se movendo nas sombras, talvez insetos, talvez outras criaturas rastejantes. Roberto evitava o que podia, mas sua prioridade era o cheiro, o alívio que ele prometia.
Eventualmente, o túnel se abriu em uma pequena câmara. O ar ali era quase sólido com o fedor. No centro, sob o brilho mais intenso de um aglomerado de fungos luminosos, jazia o que parecia ser o cadáver de um pequeno goblin. Era uma criatura patética, verde-acinzentada, com uma faca de osso ainda cravada em seu peito, indicando uma morte violenta e recente. Seus olhos perolados estavam vidrados, e uma poça de sangue escuro e seco formava uma auréola fúnebre ao seu redor.
Roberto parou, a centímetros do corpo. Seus novos sentidos gritavam. A visão do corpo o repeliu. Era grotesco. A voz do Soldado Frances em sua mente gritava "Nojo! Errado!". Mas a fome. A fome era um fogo consumidor, um inferno que ele não podia mais ignorar. Ela ofuscava todo e qualquer preceito moral que ele carregava de sua vida anterior.
Aproximou-se hesitantemente, seu pequeno nariz se contorcendo. Tocou o corpo frio com uma de suas garras. A pele era áspera e irregular. A necessidade era avassaladora. Sem pensar, sem dar-se tempo para que o nojo vencesse, ele se curvou.
E devorou.
As pequenas garras rasgaram a carne fria e resistente. Os dentes, antes humanos, agora pontiagudos e pequenos, mastigavam com uma ferocidade que o assustou. O gosto era metálico e podre, uma explosão de sensações que deveria ser nauseante, mas que, estranhamente, trazia um alívio imediato e visceral. Cada pedaço ingerido era como uma dose de energia que percorria seu corpo frágil.
Uma luz esverdeada e translúcida piscou diante de seus olhos, visível apenas para ele. Era um holograma, flutuando no ar.
[Habilidade 'Devorar Cadáver' Ativada!]
+30 HP
+15 MP
+20 SP
+25 EXP
A barra de experiência no canto da tela subiu visivelmente, uma pequena fração preenchida com um brilho vibrante. Seu corpo sentiu-se mais forte, a fome diminuiu para um murmúrio distante. O alívio foi indescritível, quase eufórico.
O corpo do goblin estava um horror disforme, dilacerado pelo seu banquete inesperado. Roberto recuou, ofegando. O nojo voltou em ondas, misturado com uma pontada de vergonha. Ele havia feito aquilo. Havia se tornado aquilo.
Ele era um Resquício de Imp. Um monstro. Mas estava vivo.
O gosto metálico e rançoso ainda persistia na boca de Roberto, mas a dor lancinante da fome havia recuado, substituída por uma estranha plenitude. Ele havia devorado um goblin. Um goblin. O nojo inicial se misturava a uma sensação de urgência: ele precisava entender o que havia acontecido e como esse "sistema" funcionava.
Com a energia renovada, Roberto tentou se levantar novamente. Desta vez, suas pernas finas e escuras o obedeceram um pouco melhor. O corpo de Resquício de Imp era desajeitado, seus movimentos rastejantes pareciam mais adequados a uma minhoca gigante do que a um ser bípede, mas ele conseguiu se arrastar para longe dos restos macabros do goblin.
O holograma translúcido reapareceu em sua visão, piscando com informações.
[Roberto Garcia Frances - Resquício de Imp]
Nível: 1 (EXP: 25/100)
HP: 100/100
MP: 50/50
SP: 75/75
Atributos:
* Força (FOR): 3
* Agilidade (AGI): 7
* Vigor (VIG): 5
* Inteligência (INT): 12
* Sabedoria (SAB): 8
* Sorte (SOR): 1
Pontos de Atributo Livres: 0
Habilidades (Skills):
* [Devorar Cadáver (Ativa)]: Consome cadáveres para restaurar HP, MP, SP e ganhar EXP. Eficácia varia com o tipo de cadáver.
* [Visão Noturna (Passiva)]: Concede visão clara em ambientes de pouca ou nenhuma luz.
* [Furtividade (Passiva)]: Habilidade inata para mover-se silenciosamente.
Inventário: Vazio.
Missões: Nenhuma no momento.
Roberto fixou os olhos na tela. Nível 1. Isso fazia sentido. Como em um RPG. Os atributos eram baixos, pateticamente baixos para um ex-policial treinado. Força 3? Ele deveria conseguir levantar mais que um cabo de vassoura com isso. Agilidade 7, talvez por causa do corpo pequeno e rastejante. Mas Inteligência 12… isso era um alívio. Seus anos de raciocínio lógico e tomada de decisões em campo pareciam ter sido transferidos.
"Pontos de Atributo Livres: 0." Ele precisava subir de nível para ganhar mais. E para subir de nível, precisava de EXP, que vinha de devorar cadáveres. Uma cadeia alimentar bizarra para um "herói" de isekai.
Apesar do choque, a mente de Roberto, a mente do Soldado Frances, começou a funcionar em modo de crise. Análise. Prioridades.
Prioridade 1: Sobrevivência. Isso significava mais comida, mais EXP, mais níveis.
Prioridade 2: Entendimento do ambiente. Ele precisava saber onde estava, o que o esperava, quem eram as outras criaturas.
Prioridade 3: Encontrar um objetivo. Voltar para casa? Matar o adolescente que o matou? Ele ainda não sabia, mas a ideia de ter uma meta o impulsionava.
Movendo-se com mais propósito, Roberto começou a explorar a câmara. As paredes eram de rocha bruta, úmidas e escorregadias em alguns pontos. O ar, apesar do cheiro, era respirável. Pouco tempo depois, ele localizou o que parecia ser uma saída, um túnel mais largo que o anterior, com um cheiro diferente no ar – um cheiro metálico misturado com um toque de enxofre e algo que lembrava fumaça.
Ele avançou cautelosamente, usando sua recém-descoberta [Furtividade]. Seus movimentos eram quase inaudíveis agora, um rastejar suave sobre o chão rochoso. Ele confiava em seus instintos aguçados, herança talvez de sua vida anterior e aprimorados por sua nova forma.
De repente, um som. Um chiado baixo e arranhado, vindo de uma reentrância escura na parede à frente. Roberto congelou, agachando-se ao máximo que seu corpo permitia. Sua experiência em operações de risco gritava "ameaça".
Um par de olhos vermelhos, brilhantes como brasas, emergiu da escuridão, seguido por uma forma aracnídea e peluda. Era um Aracno-Menor, do tamanho de um cachorro pequeno, com oito pernas finas e um abdômen protuberante. Não parecia particularmente forte, mas suas presas gotejavam uma substância esverdeada.
Roberto sentiu o medo. Pura e simples. Ele, um policial que enfrentava criminosos armados, agora estava apavorado com uma aranha gigante. Ridículo, mas real. Ele era apenas um Resquício de Imp, e aquele era um mundo onde a morte era literal e permanente.
O Aracno-Menor chiou novamente, suas mandíbulas se estalando. Ele havia detectado algo, o cheiro de uma presa fraca. A aranha começou a avançar lentamente, suas pernas peludas tamborilando no chão.
Roberto sabia que não podia fugir. Seu corpo era lento, fraco. Tentar correr seria suicídio. Ele tinha que lutar. Ele tinha que sobreviver.
Seus olhos fixaram-se na aranha. Seus instintos de combate se reacenderam, sobrepondo-se ao pânico. Como um policial encurralado, ele procurou fraquezas, padrões. A aranha parecia previsível em seu avanço direto.
Ele precisava ser rápido. Precisava ser letal.
O Aracno-Menor avançava, suas presas gotejantes um aviso macabro. Roberto não tinha tempo para filosofias sobre seu novo corpo ou sua dignidade perdida. Havia apenas uma regra agora: sobreviver.
Como um policial em uma emboscada, ele avaliou a situação. Seus músculos de Resquício de Imp eram fracos, mas ele tinha a [Furtividade] e a [Inteligência]. A aranha, embora maior, parecia bruta, movendo-se em um padrão simples e direto. Ela não esperava resistência de uma criatura tão insignificante.
Isso era uma vantagem.
Roberto esperou. A aranha diminuiu a distância, suas pernas finas produzindo um som sutil no chão úmido. Quando estava a poucos metros, pronta para um bote, Roberto agiu. Não era um ataque frontal. Era uma tática de guerrilha, aprendida nas ruas.
Ele não correu para longe, mas rolou para o lado, para a direita, evitando o bote principal do Aracno-Menor por pouco. A aranha passou raspando por ele, batendo a cabeça contra a parede da caverna com um baque surdo, confusa. Aquele foi o seu erro.
Em um instante, Roberto usou sua agilidade recém-descoberta. Ele rastejou com uma velocidade surpreendente para debaixo do corpo da aranha. O Aracno-Menor chiou, tentando se ajustar, suas pernas se movendo desordenadamente. Mas a aranha, com seu tamanho e formato, não era feita para lutar contra algo diretamente abaixo dela.
As garras de Resquício de Imp eram pequenas, mas afiadas. Roberto as cravou nas articulações moles das pernas da aranha, onde a quitina era mais fina. A aranha se retorceu, um guincho agudo e repugnante ecoando na caverna. O líquido verde de suas presas pingou no chão.
Não bastava apenas ferir. Ele precisava ser decisivo.
Roberto rastejou mais para dentro, buscando o abdômen mole da criatura, o ponto mais vulnerável. A aranha debatia-se, tentando esmagá-lo, suas pernas batendo cegamente. O chão tremeu. Uma das pernas peludas acertou-o de raspão, e uma dor aguda percorreu seu ombro.
[HP: 90/100]
Ele ignorou a dor. O instinto de autopreservação era mais forte. Com um esforço desesperado, ele fincou suas garras com força no abdômen pálido da aranha. Um som de rasgo, seguido por um fluxo de um líquido viscoso e amarelado.
O Aracno-Menor convulsionou violentamente. Suas patas se debateram no ar, e então, com um último chiado estridente, a criatura caiu inerte, as pernas encolhidas, seus olhos vermelhos opacos.
O combate havia acabado. Roberto estava ofegante, exausto, seu pequeno corpo tremendo. O ombro doía, mas não era nada comparado ao alívio de estar vivo. Ele havia lutado. E vencido.
O cheiro de putrefação voltou, mais intenso agora com a morte recente da aranha. A fome, embora não tão desesperadora quanto antes, era um zumbido constante. Ele sabia o que precisava fazer.
Com um suspiro pesado, misto de nojo e resignação, Roberto se aproximou do cadáver da aranha. As patas peludas, os olhos vidrados, as presas... Era horrível. Mas era alimento. Era sobrevivência.
Ele devorou.
As garras dilaceraram o exoesqueleto frágil, e seus pequenos dentes rasgaram a carne branca e viscosa. O sabor era ainda mais repugnante que o do goblin, um amargo terroso e oleoso. A cada mordida, uma onda de náusea, seguida por um choque de energia.
O holograma piscou novamente.
[Habilidade 'Devorar Cadáver' Ativada!]
+50 HP (HP restaurado a 100/100)
+25 MP (MP restaurado a 50/50)
+30 SP (SP restaurado a 75/75)
+60 EXP
A barra de experiência brilhou e avançou rapidamente.
[Nível Subiu!]
Nível: 2 (EXP: 85/200)
Pontos de Atributo Livres: 5
Uma nova onda de poder e vitalidade percorreu seu corpo de Resquício de Imp. Ele sentiu uma ligeira melhora em sua força e agilidade. O sistema não era uma piada. Era real, e ele estava progredindo.
Roberto olhou para os restos da aranha, para seu corpo. Ele era um monstro, sim. Mas ele era um monstro que lutava. Um monstro que sobreviveria. E que, de alguma forma, daria um jeito de honrar o Soldado Frances que um dia foi.
O brilho do holograma persistia diante dos olhos de Roberto, convidando-o a tomar uma decisão. Cinco pontos de atributo. Eram poucos, mas a sensação de poder aumentava exponencialmente a cada um deles. Ele se afastou do que restava da aranha, seu corpo pequeno ainda vibrando com a adrenalina do combate e a energia recém-adquirida.
[Nível: 2 (EXP: 85/200)]
Pontos de Atributo Livres: 5
A incerteza apertou-o. No mundo real, como policial, suas escolhas eram baseadas em treinamento, em regras, em códigos de conduta. Aqui, era um jogo de sobrevivência cruel, onde cada ponto poderia significar a diferença entre a vida e a morte.
Força (FOR): 3. Patético. Melhorar a força o ajudaria no combate, mas ele ainda era pequeno e fraco. Seria um desperdício se tentasse lutar de frente. Sua inteligência e agilidade pareciam ser suas maiores armas.
Agilidade (AGI): 7. Foi a agilidade que o salvou contra a aranha. Rolou, rastejou, evitou. Era sua maior vantagem ofensiva e defensiva no momento.
Vigor (VIG): 5. Vigor significava mais HP, mais resistência a dano. Essencial para sobreviver a um ataque que ele não pudesse desviar.
Inteligência (INT): 12. Já era seu maior atributo. Aumentá-la talvez desse acesso a habilidades mentais, ou melhoraria sua percepção, seu raciocínio. Muito útil para analisar situações.
Sabedoria (SAB): 8. Ligada à percepção, à intuição. Poderia ajudar a detectar perigos, a entender o mundo.
Sorte (SOR): 1. Ignorável por enquanto. A sorte, para um Resquício de Imp, parecia ser um luxo inalcançável.
Ele ponderou. Sua estratégia, até agora, havia sido de esquiva e ataque a pontos fracos, como um predador oportunista. Isso pedia Agilidade. Mas ele também havia levado um golpe. Vigor seria crucial.
Ele se lembrou das aulas de tática. Uma defesa sólida e a capacidade de se esquivar eram cruciais para quem estava em desvantagem numérica ou física. E ele estava em desvantagem absoluta contra quase tudo.
A decisão foi tomada.
Roberto moveu suas garras sobre o holograma.
+2 Pontos em Agilidade (AGI)
+3 Pontos em Vigor (VIG)
[Atualizando Atributos...]
Agilidade (AGI): 9
Vigor (VIG): 8
HP: 115/115 (Seu HP máximo aumentou com o Vigor)
MP: 50/50
SP: 75/75
Pontos de Atributo Livres: 0
Ele sentiu uma leve, mas perceptível, mudança em seu corpo. Seus movimentos pareceram mais fluidos, mais leves, apesar de sua aparência pesada. O corpo de Resquício de Imp agora se movia com um pouco mais de coordenação. A sensação de robustez, de um pouco mais de "chão" sob suas patas, era reconfortante. Ele havia se tornado marginalmente mais resistente.
Com os pontos distribuídos, o holograma diminuiu um pouco, permanecendo como um fundo translúcido em sua visão periférica. Era uma ferramenta, não uma distração.
Roberto olhou para os túneis que se estendiam à sua frente. Havia um para cada lado, ambos desaparecendo na escuridão. O cheiro de enxofre e fumaça vinha de uma das direções, e ele podia discernir um ruído abafado de algo raspando, como metal contra rocha. Do outro lado, apenas o silêncio úmido da caverna.
Sua inteligência aguçada o advertia. O som e o cheiro indicavam presença, talvez de criaturas maiores ou até mesmo de outros demônios. O silêncio, por outro lado, podia esconder armadilhas ou becos sem saída.
"Menos é mais", pensou, lembrando-se de um lema antigo da polícia. Menos informação podia significar menos perigo imediato. Ele não estava pronto para um confronto com algo grande. Pelo menos não ainda.
Virou-se e rastejou silenciosamente para o túnel mais quieto, suas garras agora mais firmes no solo irregular. A escuridão parecia se fechar em torno dele, mas seus olhos de Resquício de Imp viam a penumbra com clareza surpreendente.
O túnel se estendia por um tempo, um corredor natural que descia gradualmente. O ar tornou-se mais frio, e o som de gotejamento aumentou, ecoando pelas paredes. Roberto continuou, vigilante, cada sentido aguçado para qualquer sinal de ameaça. Ele precisava encontrar um lugar seguro para descansar, para processar tudo o que havia acontecido. E, talvez, para encontrar mais "alimento".
A vasta escuridão de Sota se abria diante dele, um mundo brutal e desconhecido. Ele era um policial de 35 anos preso no corpo de uma criatura das trevas, com o peso da perda de seus filhos e a vergonha de sua morte em seu coração. Mas ele estava vivo. E ele era um sobrevivente.
Roberto continuou sua jornada através dos túneis úmidos e silenciosos, seus novos atributos de Agilidade e Vigor tornando seus movimentos um pouco menos desajeitados. A Visão Noturna de seu corpo de Resquício de Imp era uma bênção inestimável, permitindo-lhe navegar pela escuridão quase total com uma clareza que o surpreendia. Ele era um ponto de escuridão movendo-se através de outras sombras, uma criatura insignificante em um vasto subterrâneo desconhecido.
O ar gelado começou a mudar, perdendo um pouco de sua umidade e adquirindo um cheiro diferente – algo mais seco, quase poeirento, misturado com o persistente odor de mofo e decomposição que parecia ser a essência daquele submundo. O som de gotejamento diminuiu, substituído pelo farfalhar ocasional de criaturas minúsculas nas frestas das rochas.
Ele avançava com cautela, a mente de policial em alerta constante, analisando cada sombra, cada som. Aquele mundo não perdoava fraquezas. Seus filhos, Matheus e Ruan, eram uma lembrança constante, um farol de calor em meio ao frio de Sota, impulsionando-o a sobreviver, a crescer, a talvez um dia encontrar um caminho.
De repente, o cheiro de carne – não podre, mas fresca e em decomposição recente – atingiu suas narinas. Uma versão mais potente e tentadora do odor que o havia levado ao goblin. O estômago de Roberto rugiu em resposta. Ele parou, seus sentidos aguçados captando também um som distinto: um rasgar de carne, acompanhado por grunhidos baixos e famintos.
Ele se escondeu atrás de uma formação rochosa, ativando sua [Furtividade] ao máximo. Espiou cuidadosamente.
A câmara à frente era maior, iluminada por uma fissura no teto que deixava passar uma luz lunar fraca e opaca. No centro, havia uma carcaça. Era de um Imp, maior que ele, mas claramente morto há pouco tempo, talvez vítima de um predador maior. E sobre a carcaça, havia outros dois Resquícios de Imps.
Eles eram idênticos a ele em sua aparência: pequenos, de pele preta enrugada, olhos âmbar brilhantes na penumbra. Estavam disputando a carcaça, rasgando a carne com suas pequenas garras e dentes, grunhindo e empurrando um ao outro em uma luta voraz. Era uma cena brutal de sobrevivência, pura e instintiva.
Roberto observou. Um dos Imps era ligeiramente maior e mais agressivo, dominando o pedaço de carne que parecia ser o melhor. O outro, menor, tentava se esgueirar e roubar fragmentos.
Sua mente de policial fez a conexão. Criaturas. Não monstros sem mente, mas seres com alguma forma de organização, ou ao menos hierarquia baseada na força.
A fome era um motor poderoso. Ele precisava daquela carcaça. Mas havia dois deles.
Ele ponderou por um momento, a ética do policial lutando com a brutalidade do Imp. No seu mundo, ele tentaria uma abordagem, uma negociação. Aqui... talvez eles fossem como cães selvagens.
"Ei!" Roberto tentou. A palavra saiu como um chiado rouco, uma mistura de sibilo e grasnado. Sua voz humana estava ausente, substituída por algo primitivo.
Os dois Resquícios de Imps congelaram. Suas cabeças viraram abruptamente em sua direção, os olhos âmbar brilhando com uma mistura de surpresa e agressão. Eles pararam de comer, suas pequenas bocas ensanguentadas.
O Imp maior, com um rosnado gutural que parecia grande demais para seu corpo, largou a carcaça e avançou em passos pequenos e rápidos na direção de Roberto, suas garras levantadas em uma postura de ameaça. O Imp menor, embora hesitante, seguiu o exemplo do outro, posicionando-se ao lado dele. Eles o viam como uma ameaça. Um intruso. Uma competição por alimento.
Não havia comunicação. Não havia negociação. Apenas a lei do mais forte.
Roberto suspirou, um som quase inaudível. Seus punhos, antes acostumados a segurar uma arma, agora eram apenas garras prontas para o combate. Ele havia esperado uma reação, mas a brutalidade e a imediaticidade da agressão foram mais diretas do que imaginava. Era um mundo onde a primeira impressão era sempre a mais cruel.
Aquele era Sota. E a lei aqui era clara: devorar ou ser devorado.
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