O aroma de café forte mal conseguia mascarar o cheiro de tensão que pairava no meu escritório. A vista panorâmica de Palermo, geralmente um bálsamo para minha mente inquieta, hoje parecia um lembrete do caos lá fora. Meu punho batia ritmicamente na mesa de ébano, cada batida ecoando a raiva que fervia dentro de mim.
“A carga, Dante. Desapareceu como fumaça,” vociferei, a voz baixa e perigosa. Meus olhos, fixos nos de Dante, buscavam alguma explicação que ele não tinha. Ele, meu braço direito, meu irmão de sangue, estava tão perplexo e furioso quanto eu.
Dante, com sua cicatriz discreta na sobrancelha – um souvenir de uma briga de rua em Nápoles, muitos anos atrás – passou a mão pelo cabelo escuro.
“Checamos todas as rotas, Tommaso. Cada um dos nossos. Não faz sentido. Ninguém de fora teria conseguido uma operação tão limpa.”
“Exato,” respondi, o tom gélido. “O que nos leva a uma única e repugnante conclusão: temos um rato na toca. Um traidor.”
A palavra pairou no ar, pesada como chumbo. Traição, no nosso mundo, era a sentença de morte mais lenta e dolorosa. A carga de Medellín não era apenas dinheiro; era poder, era reputação. E, pior, era a prova de que alguém de dentro estava nos vendendo.
Dante se recostou na cadeira, o maxilar trincado. “Quem? Quem teria a audácia?”
“Essa é a questão, meu amigo. E vou descobrir. Custe o que custar.” Minha mente já trabalhava em mil direções, revisitando rostos, conversas, cada pequeno deslize. A lista de suspeitos, por mais impensável que fosse, começava a se formar. Ninguém estava acima de suspeita agora. Nem mesmo os mais leais, até prova em contrário.
A porta do escritório se abriu de repente, sem aviso, e uma lufada de perfume adocicado invadiu o ambiente, quebrando a bolha de tensão que nos envolvia. Era Lívia, minha secretária pessoal. Seus cabelos loiros, sempre impecáveis, e um decote que desafiava a gravidade eram sua marca registrada.
Ela exibia um sorriso que ela claramente considerava sedutor, mas que para mim era apenas... inconveniente.
“Senhor De Santis? Desculpe interromper, mas o pessoal da D’Angelo está ligando novamente sobre aquele contrato de logística. E eu… eu trouxe um café fresquinho para o senhor. Especialmente para você,” ela disse, a voz arrastada, os olhos fixos em mim. Ela colocou a xícara na minha mesa, demorando-se mais do que o necessário para soltar.
Dante revirou os olhos discretamente, mas Lívia estava ocupada demais tentando chamar minha atenção para notar. Ela era uma funcionária eficiente, não podia negar, mas sua constante busca por algo mais sempre me irritava. Ela flertava descaradamente, alheia à verdadeira natureza do meu trabalho, do meu mundo. Para ela, eu era apenas o CEO inacessível e bem-sucedido. O Don estava bem escondido sob a máscara corporativa.
“Lívia, por favor,” eu disse, minha voz um pouco mais áspera do que o usual. “Peça a D’Angelo para agendarem uma reunião para amanhã. E não, obrigado, não preciso de café agora.”
O sorriso dela vacilou, mas ela recompôs-se rapidamente. “Ah, claro, Senhor De Santis. Como quiser. Algo mais?”
“Não. É só isso.”
Ela assentiu, um pouco desapontada, e saiu, fechando a porta atrás de si. O cheiro de seu perfume demorou a se dissipar.
Dante soltou uma risada abafada. “Essa aí não desiste, hein?”
Eu suspirei, voltando meu olhar para o mapa mental dos meus problemas. “Ela não sabe com quem está lidando. Ninguém nessa empresa sabe. E é assim que tem que continuar.”
“Acha que ela suspeita de alguma coisa?”
“Não. Ela vê o que quer ver. Mas isso não significa que não possa ser um problema. Precisamos resolver isso do traidor antes que mais alguma coisa vaze. E se ele for alguém próximo à guila8? Alguém que tenha acesso a ela?” A última pergunta pesou mais que as outras. O pensamento de Guilia em perigo, ou pior, de que a linhagem dela pudesse estar envolvida de alguma forma, me gelou o sangue.
O que Tomasso para encontrar o traidor, e como isso pode afetar seu relacionamento com Guilia ?
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Atualizado até capítulo 62
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