Nunca houve uma vez em que eu olhasse para ele e não sentisse aquele peso no peito. Uma mistura de desejo, medo, raiva e alguma forma distorcida de amor que só a gente entende. Amar o Sebastian sempre foi como andar em corda bamba com um fósforo aceso na boca. E eu não sei se sou viciada na vertigem ou se, de alguma forma, eu me tornei a corda, a altura e o fogo.
Ontem ele não dormiu em casa. Disse que precisava de um tempo. Tempo? Ele sempre some quando acha que está me fazendo um favor por continuar aqui. Como se dividir um teto comigo fosse caridade. Como se não fosse ele quem me implorou para ficar quando eu tentei ir embora da primeira vez.
Mas eu sou viciada nele. E ele sabe. O Sebastian nunca disse com todas as letras que me ama. Ele diz com silêncios. Com olhares demorados quando acha que eu não estou prestando atenção. Com um café forte deixado ao lado da cama depois de uma noite em que a gente gritou mais do que dormiu. Ele me ama do jeito dele. Do jeito errado. E eu aceitei isso porque o meu amor por ele também não tem forma correta.
Hoje cedo, eu fui até a sala e o vi ali. Sentado no chão, encostado na parede, como se estivesse tentando grudar em algo para não desabar. Ele me olhou com aquela expressão vazia. Aquela cara que ele faz quando está lutando contra os próprios monstros, mas ainda assim me vê como um deles.
— Você me ama? — perguntei. A voz saiu mais baixa do que eu queria. Como se eu tivesse medo da resposta.
Ele me encarou por longos segundos. Não disse sim. Não disse não. Só disse:
— O amor não salva ninguém, Selena.
E foi o suficiente pra me destruir um pouco mais.
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Passei o resto do dia com essa frase girando na minha cabeça. "O amor não salva ninguém." Talvez ele tenha razão. Talvez o amor, quando é doentio, quando é desequilibrado, quando é fome... talvez ele só arranhe, machuque, corrompa.
Mas por que ele continua aqui, então?
Sebastian tem esse jeito de me ferir com palavras frias e me curar com toques quentes. Ele sabe exatamente o que fazer pra me manter perto. É como se tivesse lido todos os meus medos, todos os meus traumas, e usasse isso como manual para me manipular.
E antes que pareça que eu sou só a vítima: eu também aprendi a manipular. Também aprendi a tocar os botões certos. Quando ele quer sumir, eu viro calmaria. Quando ele quer paz, eu viro caos. A gente se equilibra na dor.
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Eu lembro da primeira vez que a gente se beijou. Foi em uma discussão. A gente gritava um com o outro como dois loucos. Ele dizendo que eu era insuportável, eu dizendo que ele era um covarde. E de repente, ele me empurrou contra a parede e me beijou como se quisesse me matar com a boca.
Foi ali que tudo começou.
Desde então, a gente vive entre tapas e beijos. Metafórica e literalmente. Eu nunca fui o tipo de mulher que se dobra. Mas com ele... com ele eu quebro. Com ele eu me reconstruo. Com ele eu me perco de mim.
Talvez por isso eu continue aqui. Porque o Sebastian me mostra o pior de mim. E de alguma forma, eu me viciei em ver esse lado. O lado que sangra, que arde, que treme. O lado que ninguém mais conhece.
Mas tem dias em que eu me olho no espelho e não sei mais quem eu sou. Me pergunto se esse amor vale a destruição. Me pergunto se ainda há alguma parte minha que ele não tocou. Não feriu. Não moldou.
Talvez eu descubra isso no fim. Se houver fim.
Porque por mais que doa... ainda assim, quando ele entra pela porta, eu sinto meu corpo inteiro respirar alívio.
E isso me assusta mais do que tudo.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Danielle Pereira
que humilhante de mulher credo 🙄🙄🙄🙄
2025-07-19
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