A vida de Ginevra só piora com o passar dos anos; aquela pequena boneca continua sendo sua única companhia. Sua babá falece quando ela completa quatorze anos e sua vida fica cada vez mais triste, embora nem tudo seja ruim: ela tem o apoio do motorista, com quem ao menos pode conversar.
Hoje era um dia importante na mansão Marconetti, pois sua irmã mais nova, a menina dos olhos de seu pai, Elena, completava dezesseis anos. Em cada aniversário de Ginevra ninguém se lembrava; sua babá, antes de morrer, sempre lhe levava um bolo às escondidas. Agora só o motorista se lembra, presenteando-a com uma pulseira em cada aniversário. Primeiro ele mesmo as fazia, depois começou a comprá-las, e ela tem várias: de ouro, de prata… sempre tenta que seja uma diferente da outra.
Esse homem lhe ensinou muito; ele fala de como se comportam as mulheres na máfia, embora essa parte ela não goste, porque ele conta que as mulheres são simplesmente um negócio para fechar ou unir famílias e ter bebês, ou “herdeiros”, como costumam chamá-los. Ela não quer isso para sua vida: quer ser a líder da máfia, porque por lei lhe tocaria por ser a mais velha. Embora não esteja muito segura de recebê-la, porque seu pai a detesta e não imagina que ele seja capaz de dar sua preciosa máfia a ela.
A jovem Ginevra gira em seu belo vestido preto: é sóbrio, de manga curta e com um decote redondo. Ela não precisa vestir-se de maneira exagerada para sobressair; por si só, seu cabelo preto como azeviche e seus olhos de cor única fazem com que todos os olhares se fixem nela. Sua irmã é muito diferente: apesar de sua pele ser clara como a dela, seu cabelo não é; seu cabelo é loiro como o trigo e seus olhos são de um verde intenso. Não se parece em nada com ela, por sorte. É um pouco mais magra, embora tenha quase a mesma altura que Ginevra. Costuma usar vestidos curtos com grandes decotes e sua maquiagem sempre deve se destacar. Cada vez que as duas estão no mesmo lugar, Elena tenta ofuscar sua irmã mais velha para que não brilhe, e como Ginevra está acostumada à rejeição, não dá importância.
A jovem sai ao salão e percorre com seus olhos, buscando a única pessoa que lhe interessa naquele lugar: seu nome é Matteo Caruso. Ele é a mão direita de seu pai; apesar de ter só vinte e seis anos, é calculador e um dos melhores atiradores que seu pai tem. Ou ao menos, ela o vê como o ser mais perfeito que pisou na terra.
Ao encontrar-se com aqueles belos olhos verde água, seu coração se acelera, suas mãos começam a suar e ela olha para baixo para que ninguém note seu rubor, que, como é tão branca, é fácil de reconhecer.
O homem a olha um momento, se perde em seus olhos e logo desvia o olhar. Ela nega com a cabeça sutilmente para que ninguém note. Ele jamais se fixaria em mim. O que poderia ver em uma pessoa como eu?, pensa.
Matteo se afasta daquele lugar até que escuta a voz estridente de sua irmã, que ao vê-lo se joga em seus braços. Ele lhe dá um beijo na testa e a coloca de volta no chão. Ginevra deve sair rápido dali porque é tão incômodo para ela.
Ela sabe que Elena gosta de Matteo, mas não se dará por vencida: quando tiver idade para isso, tentará conquistá-lo, porque está decidida a que ele seja a única coisa que sua irmã não vai lhe tirar na vida.
Matteo se aproxima de repente dela quando são onze da noite. Ela começa a tremer, sente como a cor se vai de seu rosto e não sabe para onde olhar.
—Como está, pequenina? —lhe diz ele—. Poderia me presentear com uma dança esta noite?
A boca da jovem se entreabre e seu peito se acelera. Tenta pronunciar uma palavra, mas o que sai é um murmúrio distorcido. Sorri nervosa e logo respira para poder responder.
—Eu? —se repreende mentalmente ao se ouvir tão patética—. Óbvio que eu… certo… é a mim que você está falando… pois… sim.
Ele lhe oferece a mão e começam a dançar. Isso é algo que dois pares de olhos não podem conceber: Eleonora tem o olhar semicerrado em direção à pista, e a pequena Elena aperta o braço de sua mãe, enterrando as unhas.
—Mamãe, olha essa estúpida com quem está dançando —diz Elena.
Sua mãe sorri e lhe dá um tapinha na mão.
—Disfarça e não vá fazer um drama. Não se preocupe: durante a semana nos vingamos dela.
A pequena loira sorri de maneira maliciosa e, sem aguentar mais, rompe uma das alças que sustentam seu vestido. Passa perto do casal na pista, tropeça em um garçom de propósito e grita quando se vê um pouco o peito descoberto.
—O que você fez, estúpido?! —grita, e começa a chorar.
Claro, Matteo vai atrás dela. Ginevra não tem outra opção senão afastar-se dali. Sabia que isso ia acontecer; aliás, tinha demorado demais.
Quando tudo termina, sua irmã menor, junto com sua mãe, se aproximam dela para adverti-la a se afastar de Matteo porque ela “não tem idade para essas coisas”. A pobre não diz nada; simplesmente, como sempre, vai para seu quarto chorar. Fala com sua boneca, perguntando quando será o momento em que essas mulheres pagarão pelo que lhe fazem.
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Atualizado até capítulo 95
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