Quatro Feras e Uma Rainha
Na Itália, o líder da Cosa Nostra e sua esposa jaziam numa enorme cama. O homem não parava de beijá-la enquanto riam de suas loucuras.
— Amor, cuidado com a barriga — advertiu ela, morta de rir, e ele só franzia a testa.
— Vou ficar com ciúmes, já não me amas... — ela o abraçou e o beijou; eram dois seres que se amavam com loucura, apesar de terem passado por muito para estar juntos.
O telefone do homem tocou naquela noite e, de imediato, ela contraiu o rosto. Odiava cada vez que ele ia, porque não sabia se voltaria. A mulher o amava mais do que a nada.
— Devo ir, meu amor, mas juro que volto rápido — anunciou, dando-lhe um beijo na testa e saindo rápido do lugar.
Tiziano Marconetti saiu da mansão. Seu telefone não parava de tocar: era Eleonora Alfieri, quem o chamava sem cessar desde que coincidiram em um de seus antros. O que devia ser um deslize se converteu em chantagens para obrigá-lo a estar com ela; cada vez que ela queria vê-lo, ele corria por medo de que destruísse seu matrimónio. Conhecia muito bem sua esposa, Giuliana: jamais perdoaria uma traição.
O carro de Tiziano percorria a toda velocidade as ruas da Itália. Necessitava ir colocar Eleonora em seu lugar: sua esposa o necessitava mais do que nunca e não podia estar chamando-o por estupidezes. Enquanto conduzia, sacou seu telefone, mas a mulher não atendeu. Voltou a marcar-lhe, mas não houve resposta.
O carro não se deteve; ele só pensava em arrumar as coisas para regressar com sua esposa grávida, sem saber que tê-la deixado sozinha lhe custaria muito caro.
A amante de Tiziano o assediava a toda hora. Um dia inclusive chegou à mansão para reclamar porque não tinha ido vê-la. O homem nem sequer sabia por que ainda não tinha metido uma bala nela; só por isso, a mulher pensava que ele a amava. Aquela vez que entrou na mansão, Giuliana os encontrou discutindo, e ele a apresentou como uma prima que tinha muito tempo sem ver. De facto, ficou dois dias com eles, e uma dessas noites, ele se esgueirou para estar com ela na habitação ao lado.
Isto facilitou à mulher entrar naquela noite à casa. Os guardas a deixaram passar porque já era costume que aparecesse a toda hora, e sua esposa já não suspeitava nada. A mulher subiu até à habitação e encontrou Giuliana lendo em sua cama. Tinha um conto na mão e o narrava com alegria enquanto alisava sua barriga com a outra mão livre.
— Giuliana, querida, como estás? — saudou Eleonora ao entrar no quarto, sorrindo muito convencida.
— O que estás fazendo aqui, Eleonora? A esta hora? Aconteceu algo? Meu esposo não está — respondeu com inocência, sem conhecer as intenções da vil mulher.
— Eu sei. Ele me pediu que viesse fazer-te companhia porque acreditava que ia demorar. Olha, trouxe-te isto; a criada o preparou para ti — entregou-lhe um suco que já trazia na mão desde fora e só serviu em um copo de vidro.
— Obrigada, mas não é necessário, és muito amável — Giuliana negou-se, mas Eleonora insistiu tanto que não teve outro remédio que aceitar. Bebeu-o com tranquilidade e conversaram um rato, até que Giuliana começou a ter sono e adormeceu.
Eleonora saiu da mansão sem ser vista e dirigiu-se rapidamente de volta ao seu apartamento, ainda que Tiziano apenas acabava de chegar para encontrá-lo vazio.
Tiziano maldizia e arremessava coisas ao solo.
— Sempre é o mesmo com esta mulher! Quando a vir, vou matá-la — gritava, cheio de cólera. Seu peito subia e descia, e apertava os punhos com força enquanto bufava com rudeza.
Tomou o telefone e voltou a ligar. Esta atendeu um momento para dizer-lhe que tinha saído para comprar uns comprimidos porque se sentia mal e que não demoraria.
Uns minutos mais tarde, Tiziano estava desesperado. Ao vê-la, tomou-a pelos braços e a sacudiu.
— Que diabos fazes? Como me fazes vir para logo ires-te? Estás louca! — empurrou-a, atirando-a a um sofá.— Que seja a última vez que me chamas, desgraçada, porque juro que vou matar-te! — sacou sua pistola das calças e apontou-a na testa. A mulher estava demasiado exaltada, mas inclusive se essa bala lhe escapasse, estaria feliz, porque por fim conseguiria o que queria: desfazer-se de dois estorvos.
Enquanto tudo isto passava, Giuliana dormia. O que tinha tomado tinha uma substância que a deixaria inconsciente. Duas horas depois de ter adormecido, despertou com uma forte dor; agarrava o ventre e gritava, enquanto lágrimas lhe corriam pelo rosto. Era insuportável.
Gritava chamando alguém. Chamou Eleonora, a Tiziano, mas por fim uma das empregadas a ouviu e chamou os homens do senhor para que a levassem à clínica.
Os homens chamaram Tiziano a caminho da clínica. O italiano estava desesperado; só ouvir que sua esposa se sentia mal e não estar ali o enchia de ira.
O homem conduzia como um demente, sem esperar por ninguém. Só queria que ela estivesse bem. Gritava que seria a última vez, que jamais voltaria a ver essa mulher se algo lhe acontecesse a sua esposa.
Enquanto tanto, na clínica, uma mulher entrou com o ventre pesado e o rosto pálido. As contrações chegaram como ondas violentas, arrancando-lhe o alento.
Os médicos correram, gritaram, empurraram carros metálicos e agulhas. Mas nada foi suficiente. A hemorragia estendeu-se como um rio negro e silencioso.
O doutor dizia-lhe que fizesse força, mas ela já sentia que se rasgava desde dentro; a dor era insuportável, e o peito doía-lhe ao respirar. O esforço foi imenso e, ainda assim, nada se pôde fazer. A mãe morreu antes de escutar o primeiro choro de sua filha.
Tiziano chegou pouco depois, desesperado. Pousou-se detrás do vidro e viu como o coração da mulher que amava se apagava, enquanto o choro do bebé enchia o bloco operatório como um cruel insulto. Maldizia em voz baixa por não ter estado ali, e maldizia ao bebé por ter-se salvado e ter matado o amor de sua vida.
— Sentimos muito, senhor. Não sabemos o que aconteceu; tudo estava bem e, de repente, chegou assim — o doutor que controlava Giuliana não tinha uma explicação médica para o sucedido; nos exames, nada saiu.
— És um maldito inútil! Vou matar-te! Porque salvaste a ela e não à minha mulher! Era à minha mulher, não a esse maldito engendro! — cheio de fúria, entrou para abraçar o corpo de sua esposa falecida. Pegou-a contra seu corpo enquanto as lágrimas lhe saíam do rosto; sustentou-a com força, mas nada a despertou. Deu-lhe um beijo, apesar de que ela seguia fria e inerte. Esse dia morreu com ela pelo menos uma parte dele.
Desde aquela fatídica noite, Ginevra não foi uma filha: foi a recordação cruel da morte, a culpada silenciosa da tragédia que destroçou seu pai. Para ele, cada batida da menina era um eco do último suspiro de sua esposa.
Essa noite foi para casa sem a menina. Os homens a levaram no dia seguinte. Era atendida por criados; a ele não lhe interessava se comia ou não. Sonhava com que sua esposa tivesse-se salvado e o "engendro", como lhe dizia a sua filha, tivesse morrido.
Concentrou-se em seus negócios e em desquitar sua dor deitando-se com Eleonora. Isto fez com que a deixasse grávida, e um ano depois de que sua esposa tinha falecido, nasceu sua nova filha. Teve que trazer Eleonora para viver com ele e fazê-la sua esposa. Este só foi o começo do inferno para a pequena Ginevra; pelo menos respeitou o nome que queria sua mãe para ela.
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Atualizado até capítulo 95
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