Capítulo 2

Passaram-se oito anos desde aquela fatídica noite, em que um anjo inocente ficou sem a mãe e ganhou o desprezo do pai.

A mansão Marconetti tornou-se um mausoléu silencioso, decorado com fantasmas que ninguém vê, exceto Ginevra.

Tiziano mal a olha; quando o faz, é apenas para lhe lembrar que não deveria existir.

Eleonora evita-a durante o dia, mas à noite certifica-se de deixar claro que não é bem-vinda.

A menina, com os seus cabelos escuros e os olhos da mesma cor que os da sua mãe, passa horas no jardim, esperando que alguém se aproxime e a olhe, esperando um "amo-te" que nunca chega. O único carinho que conhece é o da senhora que cuida dela e que lhe fala do quão maravilhosa foi a sua mãe.

Às vezes, a pequena fala com uma boneca quebrada, a única herança da sua mãe. A sua ama deu-lha e ela conseguiu escondê-la de Eleonora; essa mulher não tolera nada que traga ao presente a lembrança da sua mãe.

—Mãe, achas que algum dia ele vai gostar de mim? —pergunta todas as noites antes de dormir, mas ninguém responde. A boneca fria apenas a observa como o que é: um objeto sem vida.

Cada sorriso, cada gesto amável, cada celebração é para a sua pequena irmã Elena, que é como a luz naquela casa.

Ambas as pequenas vão à escola, mas apenas se notam as conquistas da pequena Nora; Ginevra é um zero à esquerda naquela casa.

O dia de hoje é muito importante: na escola onde estudam ambas as menores celebra-se o Dia do Pai. As professoras de cada menina organizaram uma atividade para que cada estudante crie um cartão para os seus pais; também foram convidados para ver as suas filhas recitar poemas.

A carta que Elena preparou é muito bonita; encheu-a de brilhantina. A menina levantou-se surpreendida ao ver o seu pai entrar com um enorme ramo de flores para ela.

—Papá... Vieste —grita a menina cheia de emoção. O seu pai é o seu herói e tê-lo nesse dia é muito importante para ela.

A sua mãe acompanha-o, radiante como sempre, num fato elegante; são a família perfeita, pelo menos aos olhos curiosos da sociedade.

—Minha doce menina, claro que vim, não perderia por nada —envolve-a com os seus fortes braços e beija a sua cabeça. Esse momento tão especial que toda menina anseia, ela desfruta-o.

Ao terminar a atividade decide ir-se embora sem olhar para trás; não há mais nada naquele lugar que o detenha...

Enquanto isso, na sala da pequena Ginevra, ela está afastada num canto, com os olhos avermelhados.

—Mais um ano que ele não veio —murmura, olhando para a sua boneca e secando as suas lágrimas travessas.

Decide observar a janela e consegue vê-lo sair junto com a sua esposa, que leva a sua irmã Elena nos braços. Aperta os olhos enquanto na sua cabeça reclama a quem possa ouvi-la por que não pode receber uma pequena parte do afeto que toca à sua irmã.

Mais tarde, as provocações não se fazem esperar; todos pensam que ela é a criada naquela casa ou a filha de algum deslize. A menina apenas baixa o olhar e afasta-se de todos para não chorar em público, embora seja difícil.

—O teu pai, o motorista, não pôde vir hoje? —provoca um dos meninos.

—De certeza que estava levando a família Marconetti e não lhe deram permissão —diz outra menina mimada e odiosa, soltando uma gargalhada.

—A minha mãe diz que ela é a filha de uma rapariga e que, como a senhora da casa não gosta dela... —continua outra pequena que está ao lado dos atacantes.

Ginevra não aguenta as provocações e afasta-se de todos. Caminha até chegar ao fundo das escadas, o seu lugar favorito para se esconder.

Ali permanece até que deixe de ouvir as vozes dos pequenos; então permite-se chorar em silêncio. Depois seca as lágrimas e sai de novo. Para esse momento já é hora de sair, e dirige-se para onde a recolhem diariamente.

—Boa tarde, senhorita Ginevra. Como foi hoje? —pergunta o motorista com um sorriso quando a porta se fecha e o carro arranca. Ele sabe tudo o que a pequena sofre e, como conheceu a sua mãe, não gosta de como a tratam.

—O mesmo de sempre... Papá não veio ao meu ato —os seus olhos enchem-se de lágrimas e um nó atravessa a sua garganta—. Podes dizer-me por que me odeia tanto? Eu não pedi para nascer —a sua voz terna e baixa faz com que o coração do homem se enrugue como papel. Uma pontada no peito obriga-o a desviar o olhar para não continuar a ver o sofrimento desse pequeno anjo.

—Sabes uma coisa? Conheci a tua mãe e ela dizia algo muito certo —começa o homem, olhando através do espelho retrovisor.

—Não importa quem nos quer se nós próprios o fizermos... —a menina levanta o olhar e sorri.

—Como era ela? —Os seus olhinhos brilham de emoção. O motorista endireita-se e suspira.

—Ela... Era inteligente, sonhadora, mas também tinha um caráter muito forte... —solta uma pequena risada—. Quando a tua mãe se irritava, até o teu pai fugia. Tinha um lema: “Uma traição jamais se perdoa”.

A pequena Ginevra assente, limpa as suas lágrimas e já não se sente tão mal agora que ouviu mais da sua mãe.

Uma vez que chegam à mansão, a menina desce feliz. Embora não tenha ido, ela vai dar-lhe o seu presente. Dirige os seus passos para onde ouve vozes, na sala, e corre para o seu pai, abraçando-o pela perna.

—Papá, feliz Dia do Pai. Olha o que te fiz —estende as mãos com o belo presente que ela própria elaborou.

Tiziano retira-a do seu corpo com os seus fortes braços, e uma ruga sulca a sua testa. Só de a ver, tudo se revira e grita-lhe:

—Qual papá? Estou cansado de te dizer que é “senhor Tiziano Marconetti” para ti —amachuca a carta com expressão de nojo. Isso parte a alma da pequena. De imediato baixa o rosto e assente.

—Desculpa, senhor Tiziano —a sua madrasta e a sua meia-irmã riem-se, e ela corre para se trancar no seu quarto, totalmente destroçada.

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