📖 Capítulo 4
Kaelya acordou assustada.
Seu peito queimava. Como se algo por dentro estivesse tentando sair.
O suor escorria pela nuca. O ar ao seu redor estava denso, quase sólido.
E a floresta... estava em silêncio.
Um silêncio estranho. Nem os pássaros ousavam cantar. Nem o vento movia as folhas.
Era como se o tempo tivesse prendido a respiração.
Ela levantou devagar, os pés descalços tocando o chão gelado. Seus olhos prateados brilhavam intensamente, mesmo com o sol apenas começando a nascer.
Kirya, sua loba interior, estava inquieta.
Mais do que nunca.
> “Hoje não é um dia comum”, murmurou Kaelya, sentindo o sussurro dentro dos ossos.
Como em transe, atravessou a mata espessa, guiada por uma força invisível. Os passos dela pareciam flutuar. A terra a reconhecia. As raízes se afastavam para deixá-la passar.
Seguiu por uma trilha esquecida que não lembrava existir — mas que o coração parecia conhecer.
Depois de quase meia hora andando, chegou a uma clareira circular escondida entre carvalhos antigos e espinhos de prata. O centro da clareira tinha uma árvore caída, com raízes secas envolvendo algo.
Um brilho.
Sutil.
Pulsante.
Kaelya se aproximou.
Ajoelhou-se.
E sentiu seu coração disparar.
Enterrado sob terra úmida, folhas e um pedaço de tecido envelhecido… havia uma caixa negra envolta em raízes esbranquiçadas como fios de cabelo.
Era pequena, de metal antigo, decorada com símbolos lunares.
Símbolos que ela já vira em seus sonhos.
Com mãos trêmulas, tocou a caixa.
E as raízes se desfizeram ao seu toque.
O metal estava frio como gelo. Mas parecia vibrar em resposta à presença dela.
Ao abrir a tampa, um sopro de ar saiu de dentro, como um suspiro que esperou por décadas.
Dentro, havia:
– Um colar de prata escura com uma pedra oval de luz lilás, viva, quase respirando.
– Um pergaminho enrolado em tecido vermelho.
– Um pedaço de couro com um nome: Elyra Myrak.
Kaelya sentiu as lágrimas subirem. Elyra era o verdadeiro nome de sua mãe.
Nunca soube o sobrenome dela.
Agora sabia que sua mãe vinha da linhagem perdida da Alcateia Myrak.
Ao tocar o colar, uma onda de energia atravessou seu corpo.
A mente foi puxada para outro lugar.
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🌫️ A Visão
Ela estava em um templo circular, construído com pedras negras e pilares cobertos por runas brilhantes. No centro, uma mulher de cabelos prateados e olhos lilás – como os dela – mantinha os braços erguidos sob a lua.
Várias alcateias estavam ajoelhadas diante dela.
Lobos de todas as cores, de todas as tribos, unindo-se em um só clã.
> “Ela é a portadora do Coração da Lua”, dizia uma voz.
“A guardiã da linhagem perdida. A filha da Luz Oculta.”
De repente, o templo tremeu. Gritos. Correria.
Um homem encapuzado surgia das sombras, apunhalando a mulher no peito.
A pedra lilás no colar dela se partiu…
E a visão sumiu.
---
Kaelya acordou no chão da clareira, ofegante, o coração disparado.
O colar ainda brilhava, agora mais forte.
Gravado em sua parte de trás, havia uma mensagem em linguagem antiga que ela compreendia instintivamente:
> “Quando a filha da lua sangrenta renascer, a loba será uma só com o sangue. A verdade será sua arma. E o mundo, sua herança.”
As palavras ecoavam na alma.
Sua mãe era guardiã de um legado esquecido.
E ela… era a herdeira.
Kirya rugiu dentro dela.
Não como antes.
Agora não era apenas um sussurro.
Era uma presença viva, completa, exigindo sair.
> “Não ainda,” sussurrou Kaelya, os olhos cheios de lágrimas.
“Eu preciso entender. Preciso lembrar quem sou. Preciso estar pronta.”
Mas uma certeza se formava dentro dela:
A morte da mãe nunca foi um acaso.
A separação das alcateias não foi natural.
Alguém — ou algo — queria impedir que ela chegasse até aqui.
E agora, era tarde demais para deter o destino.
Com o colar no pescoço, o pergaminho enrolado sob a capa, e a respiração firme, Kaelya se levantou.
Olhou para o céu.
A lua ainda não estava cheia.
Mas quando estiver… ela estará pronta.
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🌫️ Do outro lado da montanha...
Rhydian, sentado em silêncio no Trono de Pedra, abriu os olhos repentinamente.
Blend, o lobo dentro dele, soltou um rosnado baixo.
O ar ao redor se tornava pesado. A montanha… tremia.
> “Você sentiu isso?”, perguntou ele em voz baixa.
Ninguém respondeu. Ele estava só. Como sempre.
Mas algo no ar carregava o cheiro do destino.
Era doce e selvagem. Antigo e novo.
> “Ela está viva,” murmurou Rhydian.
“Ela está… perto.”
Por um momento, seus olhos verdes cintilaram em luz.
E um nome ecoou dentro de sua mente, vindo do fundo de alguma memória esquecida:
“Kaelya.”
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Atualizado até capítulo 50
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