📖 Capítulo 2
(Alfa Primordial – O Sangue da Lua Ancestral)
A noite em que Kaelya nasceu foi marcada por um presságio que calou até os mais antigos da floresta.
A lua, outrora prateada e serena, tingiu-se de vermelho profundo. O céu parecia chorar fogo, e os ventos uivavam como se soubessem que algo havia despertado. Os mais velhos sussurravam lendas sobre essa noite — o retorno de um sangue antigo, esquecido pelos deuses, que traria caos ou renascimento.
Kaelya veio ao mundo envolta em silêncio, não chorou, não gemeu. Seus olhos abriram-se com a força de quem já sabia. Prateados. Brilhantes. Como metal derretido sob o luar.
Sua mãe, Alina, foi expulsa da própria alcateia por carregar um feto sem pai conhecido, fruto de um ritual esquecido nas pedras antigas de Draegor. Com medo da maldição, teve que fugir. Sozinha e ferida, encontrou abrigo nas raízes de uma árvore ancestral, onde o sangue da lua escorria para a terra.
Ali nasceu Kaelya.
Ali também começou sua solidão.
Criada entre o silêncio das árvores e o canto triste dos corvos, Kaelya cresceu ouvindo histórias sussurradas pelo vento. Sua mãe a ensinava a respeitar a natureza, a ouvir a floresta, a nunca confiar nos homens — nem nos humanos, nem nos lobos.
Mas a menina era diferente. Desde pequena, os animais a seguiam, as sombras a protegiam, e o fogo se acendia sem que ela o tocasse. Aos oito anos, teve o primeiro sonho com olhos lilás brilhantes. Sentia calor, proteção e força… mas ao acordar, tudo desaparecia.
Aos dez anos, tudo mudou.
Caçadores invadiram a floresta. Homens sedentos por sangue e ouro. Alina tentou fugir com Kaelya, mas foi atingida por uma flecha envenenada. A menina assistiu, em silêncio, sua mãe tombar. Não chorou. Não gritou. Apenas sentiu algo dentro de si se quebrar… ou talvez se abrir.
Naquela noite, sozinha, suja de terra e sangue, Kaelya caiu no sono sob a árvore onde nascera.
E ali, dentro dela, Kirya despertou pela primeira vez.
A loba não se mostrou. Mas sussurrou.
"Não tema. Eu sou tua carne. Tua alma. Tua fúria."
A infância que restou foi feita de sobrevivência. Aprendeu a caçar, a fugir, a se esconder. Cabelos longos e prateados como névoa da manhã, olhos que pareciam enxergar o que ninguém via. Nenhum humano se aproximava. E os lobos? A evitavam como peste. Sentiam o que ela era… e o que poderia se tornar.
Na adolescência, os sonhos aumentaram. Via um homem de olhos verdes intensos. Ele não falava, mas olhava como se soubesse quem ela era. Como se estivesse esperando.
Kaelya
Aos dezoito, seu corpo já era o de uma guerreira. Forte, ágil, esguia. Sua beleza era selvagem, indomada. Mas em seus olhos havia solidão. Ninguém pertencia a ela, e ela não pertencia a ninguém. Vivia nas margens da floresta de Myrak, próxima ao Vale Sombrio — um território proibido onde, diziam, morava o último Alfa Primordial.
Kaelya ouvia o chamado.
Vez ou outra, o som batia nos ossos. Uma canção que não vinha do mundo, mas de dentro.
Ela resistiu por anos.
Até aquela noite.
A lua cheia subiu no céu, e com ela, o ar mudou. O vento trouxe cheiro de fumaça e metal. A floresta silenciou. E então, ela ouviu:
"Venha."
Foi apenas um sussurro, mas era tudo que ela precisava.
Pegou seu manto, amarrou o punhal da mãe na cintura e partiu.
Passou pelo riacho onde os cervos bebiam. Cruzou a ponte caída, onde os mortos costumavam cantar. Atravessou o portão de névoa que separava o mundo dos vivos… do mundo dos lendas.
O Vale Sombrio a recebeu com um frio cortante. Mas Kaelya não sentiu medo.
Sentia Kirya vibrando dentro dela.
Quando pisou sobre a pedra negra do primeiro penhasco, o mundo pareceu parar.
Um uivo rasgou o céu. Forte. Antigo.
E os olhos dela se abriram em luz.
Pela primeira vez, Kirya emergiu completamente.
Kirya
Kaelya caiu de joelhos, sentindo o corpo queimar. As veias pulsaram em prata. Os olhos brilharam em lilás. E então, ela viu…
No alto da montanha, entre a névoa e o luar, ele a observava.
Alto. Escuro. Selvagem.
Rhydian.
O último Alfa Primordial.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Ana Carolina Ferreira
tô gostando da história comecei ler hj 16/07/25
2025-07-17
2