Melissa
A manhã amanheceu cinzenta, pesada como o meu coração. Acordei antes do despertador, sentindo o vazio do meu apartamento sem a presença da minha mãe. Tudo parecia esperar por algo novo, algo que eu ainda não sabia como enfrentar.
Às nove e meia, a campainha tocou. Abri a porta e dei de cara com Matteo, impecável em seu terno sóbrio, com um olhar gentil.
— Bom dia, senhorita Melissa — cumprimentou, discreto.
— Pode me chamar de Mel — respondi, tentando esconder o nervosismo.
O caminho até a mansão Lancaster foi silencioso, cortado apenas pelo som dos pneus no asfalto molhado. Matteo finalmente quebrou o silêncio.
— Christopher não é fácil de entender. Ele construiu uma armadura para se proteger — disse ele, com um tom quase confidencial. — O pai dele foi rígido demais. Mas, por trás da frieza, ele tem um coração leal. Você vai descobrir isso.
Fiquei em silêncio por um longo momento. As palavras de Matteo ecoaram no ar, e um peso se instalou no carro, como se o tempo tivesse desacelerado. Pensei no homem que estava prestes a conhecer — um homem duro, moldado pela dor e pela rigidez do passado. Seria possível haver algo além daquela casca fria?
O silêncio permaneceu até que finalmente avistamos a mansão. A imponente estrutura parecia respirar poder e distância.
Chegando à imensa casa, senti uma mistura de admiração e apreensão. O portão se abriu e entramos no hall, onde o ar era pesado, decorado com luxo, mas também distante.
De repente, das escadas, desceu uma mulher elegante, que olhou para mim com um sorriso acolhedor.
— Tia, te apresento a Mel — disse Matteo com um sorriso caloroso.
— Prazer, Melissa. Pode me chamar de Luísa — disse ela, estendendo a mão.
Respirei fundo e a cumprimentei.
Depois de alguns minutos, Matteo olhou para mim e disse:
— Vou deixar vocês agora. Tenho que ir para o escritório me encontrar com Christopher. Qualquer coisa, é só chamar.
E assim, ele se retirou, deixando o silêncio entre mim e Luísa.
Luísa sorriu gentilmente e disse:
— Venha, vou mostrar a você a casa. Sei que tudo isso pode parecer intimidador, mas quero que se sinta bem aqui.
Caminhamos pelos corredores amplos e pelas salas ricamente decoradas. Ela falava com calma, contando pequenas histórias da casa e da família.
— Christopher é um homem complicado, mas é um bom filho. Ele carrega muitas expectativas e responsabilidades — confidenciou. — Quero que você saiba que, apesar das dificuldades, ele merece ser feliz.
Enquanto ouvia, tentei imaginar o homem por trás das paredes da mansão — o homem que eu estava começando a conhecer.
Ao final do passeio, Luísa parou diante de uma porta elegante, sorriu e disse:
— Esse será o seu quarto, Melissa. Espero que se sinta acolhida aqui.
Abri a porta e entrei devagar. O quarto era espaçoso, iluminado por grandes janelas que deixavam a luz do dia entrar com suavidade. As paredes em tons claros contrastavam com o piso de madeira polida, e um tapete macio adornava o centro do ambiente.
Um grande armário de madeira escura se estendia ao longo da parede, e uma mesa delicada ficava próxima à janela, perfeita para meus estudos. No canto, havia uma poltrona confortável, convidativa para momentos de descanso.
Apesar do luxo evidente, o quarto tinha um ar austero, como se estivesse esperando que eu o preenchesse com minha própria vida e calor.
Respirei fundo, tentando absorver a ideia de que, a partir daquele momento, aquele espaço seria meu refúgio, meu novo começo.
Olhei para o relógio e percebi que Christopher ainda não havia aparecido.
Por um momento, uma dúvida me atravessou: será que ele não veio me receber de propósito? Ou será que a distância entre nós já começou antes mesmo de eu entrar naquela casa?
Sentei-me na beira da cama, o quarto amplo e frio parecia refletir o que eu sentia por dentro. Não era apenas uma mudança de endereço, era uma passagem para algo completamente desconhecido.
Fechei os olhos por um momento e deixei minha mente viajar por tudo o que vivi até ali. As noites em claro cuidando da minha mãe, os dias exaustos entre trabalho e estudos, a solidão do meu pequeno apartamento em Nova York… Tudo parecia culminar naquele instante, naquele quarto que ainda não me pertencia, mas que, de alguma forma, já começava a ser meu abrigo.
Pensei no futuro incerto, nos desafios que me aguardavam, e na promessa que fiz para mim mesma: usar aquela oportunidade para conquistar a faculdade, garantir o tratamento da minha mãe e, quem sabe, um dia, meu lugar no mundo — sem abrir mão da minha dignidade e força.
Era o começo de uma nova etapa, cheia de esperanças, medos e expectativas. E, mesmo que a sombra do desconhecido me rondasse, havia uma centelha de coragem acesa dentro de mim, pronta para enfrentar o que viesse
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Atualizado até capítulo 47
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