Christopher
Meu nome é Christopher Lancaster. Tenho trinta e dois anos, sou formado em Direito por Harvard e pós-graduado em Administração em Londres. Desde muito jovem, trabalho na Lancaster Group. Meu pai nunca me deu privilégios — acreditava que eu precisava provar meu valor. Então comecei do zero, em cargos básicos, passando por todas as áreas, para mostrar que merecia estar onde estou hoje.
Cresci em uma mansão com mais salas do que abraços.
Richard Lancaster, meu pai, era um homem feito de regras e aço.
Já minha mãe… ela era a única luz naquele lugar — mas era uma luz que vivia apagada. Porque ele não deixava que ela brilhasse.
Lembro como se fosse ontem.
Eu devia ter uns seis anos. Estava chorando porque tinha caído e machucado o joelho. Minha mãe correu até mim no jardim, abaixou-se para me abraçar. Antes que seus braços me alcançassem, a voz do meu pai ecoou pelo corredor da varanda:
— Não o toque. Ele precisa aprender a ser forte. Choramingar é para fracos.
Ela recuou como se tivesse levado um tapa.
E eu, com os olhos molhados e as mãos sangrando, entendi que fraqueza não seria tolerada.
A partir daquele dia, me tornei um bom aluno.
Um filho exemplar.
Um homem calculista.
Mas a verdade é que… mesmo sem poder abraçá-la, eu sempre amei minha mãe.
Ela me olhava com um carinho silencioso, me entregava afeto nos pequenos gestos. Na maneira como dobrava minha gravata na adolescência. Na forma como deixava meu chocolate favorito escondido na gaveta da escrivaninha.
A única forma de amor que ela conseguiu me dar — às escondidas.
E talvez por isso, por nunca ter tido amor suficiente, eu tenha aprendido a não confiar em ninguém.
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Depois da morte do meu pai, todos esperavam que eu assumisse a empresa sem amarras. Mas ele me deixou um último veneno:
"Sem casamento, sem herança completa."
Um jogo imundo.
E do outro lado, Lucas — meu primo serpente — que não mede esforços para me ver tropeçar.
— Precisamos de alguém fora do radar — Matteo sugeriu. — Alguém sem conexão com sua imagem, sem interesse pela sua fortuna. Alguém com uma motivação real.
Ele sempre soube como me falar as verdades.
Confio em Matteo há mais de uma década. Me salvou de escândalos, traições internas, erros de investimento e problemas com a imprensa.
Três dias depois, ele entrou no meu escritório com um olhar sério e um dossiê grosso.
— Achei ela.
Ergui as sobrancelhas.
— Quem?
— Estava no hospital visitando minha avó quando ouvi a conversa dela com o médico. A mãe está em estado grave. Precisa de uma cirurgia cardíaca urgente. A garota não implorava… mas estava se desfazendo por dentro. Mesmo assim, se manteve erguida.
Peguei o dossiê das mãos dele.
— Estudante de Direito na NYU, bolsa parcial, monitora na biblioteca. Mora sozinha num apartamento apertado no Brooklyn. Pai ausente. Nenhuma rede de apoio. Perfil baixo. Digno. Nunca se envolveu com nada escandaloso. Nenhuma tentativa de se promover. Tudo limpo.
Li tudo com cuidado. O silêncio na sala era denso.
Matteo me encarou.
— Se existe alguém com quem isso pode funcionar sem virar um desastre… é ela.
Fechei o dossiê. Olhei para ele.
Minha voz saiu grave, firme:
— Será que essa pessoa existe mesmo, Matteo? Uma mulher sem ganância? Que não esteja fingindo pureza só pra ganhar alguma vantagem? Que ainda saiba o que é dignidade… mesmo quando tudo desmorona?
Fui até a janela. As luzes de Manhattan começavam a piscar na tarde nublada.
— O que eu aprendi é que todo mundo tem um preço. Amor, lealdade, honra… tudo isso é frágil quando o dinheiro entra em cena. Acreditar em alguém só traz decepção. Eu vi isso a vida inteira.
E se minha mãe me ensinou algo, mesmo sem palavras, é que esperança é para os tolos.
Pausa.
— Ainda assim… marque a reunião.
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Ela chegou dois dias depois.
Blusa branca simples, calça jeans gasta, o cabelo preso de forma prática. Havia cansaço em seu rosto — mas nenhum sinal de submissão.
Sentei-me diante dela.
Observando cada reação.
— Vou ser direto. Não gosto de rodeios. Preciso de uma esposa. Por um ano. É um acordo legal. Nada emocional. Nenhuma relação de verdade. Apenas aparência. Em troca, cubro o tratamento da sua mãe, sua faculdade e ofereço um bônus ao final.
Ela escutou. E, para minha surpresa, não disse sim.
Pediu tempo.
Pegou meu cartão e saiu com a cabeça erguida — como se eu tivesse oferecido uma corda e ela ainda estivesse decidindo se valia a pena segurá-la.
Claro que não aceitou. É óbvio.
Provavelmente vai querer mais. Um salário maior. Garantias. Um apartamento.
Talvez esteja só ganhando tempo para formular as exigências.
Todo mundo quer mais.
Até os que fingem que não querem.
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No dia seguinte, meu celular vibrou. Número desconhecido. Atendi.
— Melissa?
— Sim. Estou ligando para dizer que aceito. Mas nas minhas condições. Eu não sou um enfeite, senhor Lancaster. Se quer que isso funcione, vai ter que me respeitar. Eu sou mais do que um papel assinado.
Silêncio.
Depois, respondi com firmeza:
— Christopher. E eu não costumo contratar pessoas sem pulso firme. Considere seu emprego garantido.
— Ótimo. Só mais uma coisa…
— Diga.
— Não se acostume a mandar em mim. Isso aqui é uma troca. Não uma compra.
Ela desligou antes que eu pudesse responder.
Fiquei encarando o celular.
Pela primeira vez em muito tempo…
alguém me intrigava.
E isso era tão perigoso quanto necessário.
Mal terminei de guardar o celular no bolso quando Matteo entrou novamente na sala.
— Só um aviso… — ele disse, hesitando.
— O que foi agora?
— Sarah está ligando. Várias vezes. Deve ter descoberto algo.
Revirei os olhos.
— Ótimo. Era só o que faltava.
Sarah Lemoine. Herdeira da família Lemoine e ex-modelo internacional. Tivemos um breve relacionamento anos atrás. Ela tem um corpo de dar inveja, um jeito de quem sabe o que quer — e odeia perder.
Ela nunca aceitou muito bem o fim.
— Se ela descobrir que você vai se casar, mesmo que por contrato… — Matteo começou.
— …ela vai surtar. E vai atrás disso com unhas e dentes. — completei, seco.
Fui até o bar no canto da sala, servi um gole de uísque.
— Ela não pode descobrir que é um contrato, Matteo. Senão eu perco tudo.
Sarah sempre achou que, um dia, voltaria.
Que era só uma fase.
Que bastava esperar.
Mas agora, Melissa estava prestes a ocupar um lugar que Sarah sempre quis.
E mesmo que fosse uma farsa…
Ela não iria perdoar.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Marcia Cristina
mal começou já tem cobra 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 a caminho
2025-07-22
1
Lavínia Maria machado
está Sara não saber ter amor próprio
2025-07-24
1
Benedita Lourdes
lá vem a 🐍 aff
2025-07-18
1