Christopher Lancaster
Eu estava sentado no banco de trás do carro, preso no trânsito de Nova York, com a mente ocupada com um único pensamento: Como contar para a minha mãe sobre o casamento que se aproximava? Não era um casamento por amor. Era um contrato. Uma exigência para assumir, de forma definitiva, os negócios da família Lancaster.
E esse contrato precisava ser mantido em segredo. Se a verdade vazasse, meu primo Lucas assumiria o controle de tudo — e ele faria qualquer coisa para que isso acontecesse.
Suspirei, fechando os olhos por um instante. Mesmo com o pai morto, minha vida continuava sendo dirigida por regras criadas por ele. Regras que continuavam ecoando pela casa como se ele ainda estivesse aqui.
Quando finalmente cheguei, respirei fundo antes de entrar. A mansão estava silenciosa, como sempre, mas não fria como antes. Desde a morte de meu pai, minha mãe tentava criar um clima mais leve, como se quisesse recuperar todo o tempo perdido entre nós.
Ela estava sentada na sala, as pernas cruzadas, com uma xícara de chá entre as mãos. Parecia tranquila, mas eu sabia que seus olhos liam mais do que deixavam transparecer.
— Mãe... vou me casar.
Ela ergueu os olhos lentamente, franzindo levemente a testa.
— Sério? Com quem? Será com Sarah? — perguntou, como se testasse meus sentimentos. — Eu nunca senti verdade entre vocês dois. Nem de você... e muito menos dela.
Eu soltei um leve sorriso, sem humor.
— Não, mãe. Não é com Sarah. É com outra pessoa.
— O casamento será em duas semanas.
Ela me encarou por alguns segundos. Havia preocupação ali, mas também algo que eu não soube identificar de imediato.
— Um casamento tão rápido assim... está certo disso?
— Está tudo sob controle. — Minha resposta veio seca. — Apenas peço que respeite essa decisão.
Ela assentiu devagar, como quem pesa memórias.
— Eu respeito... Só queria que você estivesse se casando por amor.
Nesse momento, os olhos dela se perderam por alguns segundos em um ponto qualquer da sala. Vi a respiração dela mudar — mais lenta, mais silenciosa. Ela não disse mais nada, mas percebi que a mente dela estava longe. Muito longe.
Flashback — Luísa, 19 anos
(Ela lembra, mas não conta a Christopher)
Henrique.
Seu nome ainda pesava dentro dela, mesmo depois de tantos anos.
Lembrou-se das tardes em que se encontravam às escondidas, do modo como ele sorria ao falar do futuro, sem imaginar que o deles não existiria.
Mas existia a obrigação. E o sobrenome.
— Você vai se casar com Roberto Lancaster. Isso não é um pedido — lembrava da voz firme do pai.
Ela tentou resistir. Suplicou.
— A escolha é sua, Luísa. Ou você se casa, ou a vida de Henrique será destruída. E ele nunca te perdoará.
Lembrava-se do desespero, da impotência.
Henrique a olhou nos olhos naquele último encontro e disse:
— Vamos fugir. Vamos sumir desse mundo podre.
Mas ela não pôde. Não quis arriscar o futuro dele.
— Eu não posso. Eles ameaçaram você.
Ela terminou com ele naquela noite, mentindo.
Disse que não o amava. Que tudo tinha sido uma ilusão.
Henrique a abraçou em silêncio. E partiu.
Ela se casou. Viveu em silêncio. E até hoje sorria com os olhos fechados.
Voltei ao presente quando minha mãe respirou fundo e encarou o chá entre os dedos.
— Você é adulto, Christopher. E é o meu filho.
Se essa é sua escolha, mesmo que não seja por amor... — ela me olhou — eu estarei ao seu lado.
Assenti com a cabeça.
Aquelas palavras, ditas com calma, me afetaram mais do que imaginei.
Talvez ela nunca tenha sido fria...
Talvez ela também tivesse sido uma prisioneira desse sobrenome.
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Atualizado até capítulo 47
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