No dia seguinte, o segundo desafio chegou como um trovão silencioso, carregado de expectativa. O frio da manhã parecia querer congelar os ossos, mas era dentro do peito que o gelo mais pesava. Já não bastava ser forte — agora era a mente que seria posta à prova. Sabedoria. Um teste de alma, de valores, de coração. Uma prova que nem a lâmina mais afiada poderia cortar.
As jovens lobas foram levadas até o salão ancestral, onde a sabedoria dos antigos pairava no ar como fumaça. A prova seria individual, e cada uma enfrentaria dilemas simulados — situações de moral duvidosa, onde o certo e o errado se confundiam.
Quando Maya entrou, o silêncio era profundo. Os anciãos a observavam com olhos que pareciam enxergar a alma. O ancião chefe, um lobo de pelagem branca como a neve, falou com voz serena, mas firme.
— Se você tivesse que escolher entre salvar seu companheiro ou um grupo de crianças indefesas, o que faria?
Maya não respondeu de imediato. Seus olhos vagaram pelo chão de pedra, pelas chamas baixas da fogueira no centro do salão. O silêncio durou segundos que pareceram eternos.
— Salvaria as crianças — disse por fim, a voz firme, mas os olhos marejados. — Porque um verdadeiro companheiro entenderia o motivo. E se fosse para morrer, morreria orgulhoso da minha escolha.
O salão permaneceu em silêncio. Mas havia ali um respeito profundo, silencioso, como se as próprias paredes tivessem escutado algo sagrado. Maya se levantou, com o coração leve apesar da prova difícil. Havia falado com verdade — e a verdade tem peso.
Lá fora, o céu parecia mais claro.
Nayra, por outro lado, atravessou o salão com passos calculados. Seus olhos não paravam em lugar nenhum por muito tempo. Quando lhe foram feitas as perguntas, respondeu com frases belas e articuladas, quase teatrais. Mas vazias. Seus olhos não brilhavam. Sua alma não tremia.
Ao fim da prova, saiu do salão com o queixo erguido, tentando manter a pose. Mas por dentro, havia incerteza. A máscara começava a pesar.
Do alto de uma colina, Darian observava. Seus olhos seguiam Maya sem que ele sequer notasse. Cada palavra dela o marcava. Era como se ela tivesse sido feita para despir as armaduras que ele passou a vida construindo.
“Ela está me mudando”, pensou. E essa ideia o aterrorizava.
Ele nunca teve intenção de se apaixonar. O trono precisava de uma rainha estratégica. Alguém que entendesse alianças, poder e política. Mas Maya… Maya era tempestade e primavera ao mesmo tempo. Era a lembrança de que um coração também podia ser rei.
Na clareira, as conversas borbulhavam como caldeirões ferventes.
— Você viu a resposta de Maya? — cochichou uma loba.
— Como se fosse a própria escolhida da deusa… — resmungou outra.
Nayra bufou.
— Palavras bonitas não vencem guerras. Vamos ver como ela lida com o próximo desafio.
— O que será que vai ser? — perguntou outra loba.
— Não importa — Nayra respondeu com desdém. — Estou me preparando desde que aprendi a andar. Não vou perder para uma selvagem que corre por aí falando com o vento.
As outras lobas assentiram, mas havia algo estranho nos olhos delas. Inveja, talvez. Ou dúvida.
Naquela noite, a lua cheia pintava o céu com prata líquida. Maya caminhou sozinha até a margem do lago. Sentou-se em uma pedra, abraçando os joelhos. O reflexo da lua tremia na água, como o seu coração.
— Você está se saindo melhor do que imagina — disse uma voz suave atrás dela.
Ela virou-se. Era Darrien.
Ele se aproximou lentamente, e sem dizer nada, sentou-se ao lado dela. Por um tempo, ficaram apenas em silêncio, ouvindo os sons da noite. O vento soprava entre as folhas como uma canção antiga.
— Às vezes me pergunto se estou no lugar certo — confessou ela. — Se esse título… Essa competição… É realmente o meu caminho.
— E o que você quer? — ele perguntou, com suavidade.
Maya suspirou.
— Quero ser eu. Sem máscaras, sem disputa. Só eu.
Darrien virou-se para ela. Seu rosto estava perto demais. Seus olhos, intensos demais.
— E você sendo você… Já é mais do que suficiente para qualquer trono — disse ele, com a voz baixa.
Maya sorriu, mas seus olhos estavam sérios.
— Você fala como se soubesse o que é ser rei.
— Eu conheço reis — respondeu por fim, com um leve encolher de ombros. — Alguns bons, outros cruéis. E quase todos… Solitários.
— Darrien… Quem é você de verdade?
Ele hesitou. A verdade pesava em sua língua como uma pedra. Queria contar. Queria libertá-la do jogo de aparências. Mas… E se ela o visse diferente?
— Sou alguém tentando lembrar o que é amar… Sem medo — respondeu, por fim.
Os olhos de Maya brilharam. Ela estendeu a mão, tocando de leve a dele.
— Eu também.
O mundo pareceu parar. A brisa cessou, o lago ficou imóvel. E os olhos de ambos se encontraram. Foi ali, naquela troca silenciosa, que ambos souberam. Não era apenas atração. Era amor. Um amor nascido em meio ao caos, à dúvida, ao destino.
E então, um uivo cortou a noite.
— O terceiro desafio será ao amanhecer! — anunciou um lobo mensageiro no alto da colina.
Maya levantou-se, respirando fundo.
Darrien também se ergueu, e por um instante, segurou sua mão.
— Você está pronta.
Ela assentiu. Mas dentro de si, algo havia mudado.
No caminho de volta, Maya foi surpreendida pela presença de seu irmão. Josh a esperava à frente da casa da matilha, com os braços cruzados, e um sorriso que misturava orgulho e ternura.
— Estava te observando hoje — disse ele.
Maya parou diante dele, o coração apertado pela emoção.
— E o que achou?
— Que minha irmãzinha cresceu. E que a loba que você se tornou é mais forte do que eu jamais sonhei. — Ele a puxou para um abraço apertado. — Você está desafiando não só o mundo, Maya… Mas o destino. E fazendo isso com verdade.
Ela se aninhou no abraço, como quando era pequena.
— Eu só estou sendo quem sempre fui, Josh.
— E é exatamente isso que te torna especial — disse ele, beijando sua testa. — Amanhã, não lute por um título. Lute por aquilo em que acredita. Isso… É o que faz uma rainha de verdade.
Ela assentiu, os olhos brilhando.
— Obrigada.
*☆♡♡☆°*
Enquanto isso, do outro lado da aldeia, Nayra ajeitava o cobertor ao redor dos ombros com arrogância. Estava cercada de lobas bajuladoras, que não paravam de repetir suas qualidades.
— Elas não têm ideia do que está por vir — disse Nayra com um sorriso presunçoso. — O terceiro desafio será difícil. E só uma vai se destacar.
— Você, claro — disse uma das lobas.
Nayra ergueu o queixo, os olhos brilhando com ambição.
— Ninguém vai me tirar isso. Nem mesmo Maya.
Mas no fundo, no mais íntimo de seu ser, Nayra sentia. O brilho de Maya era diferente. Não se tratava de beleza, nem de força. Era algo que nenhuma máscara poderia imitar.
*☆♡♡☆°*
Naquela madrugada, os ventos uivaram alto. As estrelas pareciam mais próximas, como se o céu estivesse prestes a testemunhar algo grandioso. Dentro das tendas, as jovens lobas mal conseguiam dormir. O peso do amanhecer era real.
No coração da floresta, algo antigo despertava. As raízes da terra pulsavam com energia. Era como se os próprios deuses observassem.
E no coração de Maya… Um pressentimento crescia. O terceiro desafio não seria apenas físico. Testaria sua alma, sua essência, seu amor.
Mas o que nenhuma loba sabia… Era que o Alfa Supremo já havia feito sua escolha.
Em silêncio, sob a luz da lua.
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Atualizado até capítulo 34
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