O Primeiro Desafio

Os dias seguintes foram diferentes. Todos sabiam: o Alfa Supremo estava por perto. Ninguém o via, ninguém sabia quem ele era… E ainda assim, cada loba jovem se vestia melhor, caminhava mais ereta, falava com cuidado.

Maya, por outro lado, tentava manter-se alheia a toda essa movimentação. Evitava os comentários exagerados, os cochichos sobre o possível rei escondido entre eles. Ela se concentrava nos seus treinos, nos seus momentos com as crianças e nas conversas — cada vez mais frequentes — com Darrien, o guerreiro silencioso de olhos gélidos.

Ele aparecia sempre nos momentos mais inesperados. Às vezes para ajudá-la a carregar cestos de frutas. Outras, para observá-la durante o treino e, discretamente, lhe corrigir a postura ou indicar um movimento mais eficiente. Era reservado, mas atento. Tinha um jeito de ouvir como se cada palavra dela fosse importante. E Maya, mesmo sem perceber, começou a procurá-lo com os olhos em meio à multidão.

Numa tarde de céu limpo e ventos cortantes, o chamado do conselho ecoou por toda a matilha. Todos os jovens foram convocados à clareira central. Maya chegou junto de Josh, sem entender o motivo.

O ancião mais velho levantou-se com um pergaminho na mão.

— O Alfa Supremo ordena que todas as lobas entre dezoito e vinte e cinco anos participem de 4 desafios. Aquelas que demonstrarem bravura, sabedoria e compaixão, serão chamadas à última fase, onde o próprio Alfa revelará sua identidade e escolherá sua futura companheira.

Um silêncio caiu como uma pedra no meio da clareira.

— Quatro desafios? — sussurrou Josh. — Isso parece um teste da própria deusa.

— Ou do próprio rei… — murmurou Maya, sentindo um frio na barriga.

Nayra sorriu com superioridade do outro lado da clareira. Estava pronta para brilhar. “Agora veremos se a queridinha da matilha vai aguentar pressão”, pensou.

Na manhã seguinte, o primeiro desafio foi anunciado: corrida pelas montanhas. Um percurso de resistência, velocidade e instinto, com obstáculos naturais e surpresas do terreno. A loba que chegasse ao topo antes do pôr do sol venceria.

As participantes se prepararam. Maya, apesar de não gostar de competir, decidiu que participaria. Não para vencer… Mas porque Lira, sua loba interior, queria correr.

— Você tem certeza? — perguntou Josh, preocupado.

— Nunca tive tanta.

No início da corrida, Nayra empurrou Maya disfarçadamente para o lado, fazendo-a cair no chão pedregoso. Algumas lobas riram. Maya se levantou com o joelho ralado e o orgulho ferido. Mas não desistiu.

Lira tomou o controle com suavidade, e juntas elas correram. Saltaram sobre troncos, desviaram de pedras, atravessaram riachos. Sentiam o vento no rosto e a liberdade vibrando nos músculos.

Quando chegou ao topo da montanha, Maya não era a primeira… Mas estava entre as três primeiras.

Darrien — ou melhor, Darian — a observava à distância, escondido entre os guardas. Seus olhos frios brilhavam com uma emoção estranha. “Ela caiu, foi ferida, mas se levantou. Ela não quer vencer. Quer ser livre.”

Na volta, ela foi ovacionada por muitos. Nayra apenas cerrava os dentes, furiosa por Maya ter superado as dificuldades sem perder a essência.

Ao fim da tarde, enquanto as participantes eram dispensadas para descansar, Maya procurou um canto mais silencioso perto do bosque. Precisava respirar. Sentia o corpo exausto e o coração acelerado. A adrenalina da corrida ainda pulsava em suas veias.

— Está orgulhosa de si mesma? — perguntou uma voz grave, às suas costas.

Maya se virou e encontrou o olhar firme, mas caloroso, de Alfa Khalif, seu pai. Ele usava uma túnica escura, os cabelos presos para trás, e os olhos castanhos — tão parecidos com os dela — carregavam a força de quem já havia liderado batalhas e sobrevivido a perdas profundas.

— Pai… — ela disse com um sorriso cansado, mas sincero.

Khalif se aproximou, colocando uma das mãos calejadas sobre o ombro da filha.

— Você foi incrível. Vi quando caiu… E quando se levantou.

— Não fiz por orgulho, nem por glória. Lira queria correr. Eu só segui o instinto.

— E é por isso que você se destaca entre as demais — respondeu ele, com serenidade. — Muitos correm por vaidade. Você correu por liberdade.

Maya o abraçou. Um abraço apertado, que trazia segurança e lembranças de infância. Por alguns segundos, ela deixou-se ser apenas filha.

— Preciso te lembrar de que, mesmo que não queira, está chamando a atenção — disse Khalif quando se afastaram. — Principalmente do próprio rei.

Maya suspirou.

— Eu nem sei se quero esse lugar. Não fui feita pra isso. Eu só queria viver em paz, ser livre… E talvez, só talvez, entender o que está acontecendo com meu coração.

— Darrien? — arriscou Khalif, arqueando a sobrancelha.

Ela corou levemente.

— Como sabe?

Antes que Khalif pudesse responder, Ava surgiu correndo pela trilha, esbaforida como sempre.

— Achei você! — exclamou, colocando as mãos na cintura. — Maya, você foi maravilhosa! Aquela corrida… Céus, você parecia o próprio vento!

Maya riu, sentindo-se mais leve com a energia vibrante da amiga.

— Exagerada.

— Eu estou falando sério! Até os guerreiros estavam comentando. E Nayra… Ah, Nayra quase explodiu de raiva. Se ela pudesse, te empurrava no meio da trilha.

— Ela já fez isso na largada — confessou Maya, mostrando o ralado no joelho.

Ava arregalou os olhos.

— O quê? Aquela cobra! E você ainda ficou entre as três primeiras?

— Lira não quis parar. E eu também não.

Khalif sorriu, satisfeito com a coragem da filha. Tocou o ombro dela mais uma vez.

— Vou deixá-las a sós. Mas lembre-se, Maya: a grandeza não está em ser escolhida. Está em saber escolher o próprio caminho.

Ele se despediu com um leve aceno e partiu de volta ao centro da vila. Maya ficou em silêncio, olhando-o se afastar.

— Às vezes esqueço que ele é o Alfa… — comentou ela.

— E às vezes eu esqueço que você é mais do que minha melhor amiga — respondeu Ava. — Você é destinada a algo grande, Maya. Talvez maior do que você ainda consiga imaginar.

— Eu só quero ser feliz.

— E talvez isso inclua aquele guerreiro bonitão de olhos frios — provocou Ava, com um sorriso travesso.

Maya revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o sorriso.

— Ele é… Intrigante.

— E você está encantada.

— Ava!

— Tá bom, tá bom! Mas… E se você for a escolhida?

Antes que pudesse dar voz aos próprios pensamentos, o som de um uivo distante ecoou pela mata. Era o sinal da aproximação da noite — e também o lembrete de que o segundo desafio estava logo à frente.

Um desafio que não testaria apenas sua força ou sabedoria… Mas seu coração.

Mais populares

Comments

Camila games 11

Camila games 11

a história é boa, quero muito vê os próximos capítulos!

2025-07-09

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!