Capítulo 4: O Pacto Secreto e a Sombra de um Nome

Isabela passou o resto do dia imersa nos diários de Lúcia. Quanto mais lia, mais a voz de sua avó parecia ecoar nas páginas, revelando não apenas a dedicação às flores, mas também uma alma complexa, cheia de sabedoria e, agora ela percebia, segredos. As anotações sobre a Orchidaceae Scarlata se tornaram mais frequentes, não apenas como uma lenda botânica, mas como algo que sua avó buscava com fervor, quase uma obsessão. Lúcia descrevia-a como uma flor de rara beleza, pétalas de um vermelho intenso, quase vibrante, com veias douradas que pareciam pulsar vida. Dizia-se que florescia apenas em condições muito específicas e em locais secretos. A última anotação sobre a orquídea, escrita anos antes da morte de Lúcia, dizia: "A verdade da orquídea está ligada à verdade da terra. E a verdade da terra pode custar caro."

Exausta, mas com a mente fervilhando, Isabela decidiu que precisava de ar fresco. Ela saiu da floricultura e caminhou pelas ruas iluminadas de Nova Friburgo. As luzes da cidade cintilavam no vale, criando um cenário mágico. Ela chegou a uma praça no centro, onde havia um coreto antigo, de ferro forjado e coberto de hera, e alguns bancos onde casais e famílias conversavam. Isabela se sentou em um banco vazio, observando o movimento.

De repente, uma voz conhecida a tirou de seus pensamentos.

"Senhorita Fontes. Que surpresa agradável."

Era Daniel Albuquerque. Ele estava sentado em outro banco, alguns metros de distância, observando-a. Ele não estava de terno, mas com uma camisa social azul escura, com as mangas dobradas nos antebraços fortes, e calças de sarja bem cortadas. Parecia mais relaxado, mas a intensidade de seus olhos azuis ainda estava lá.

Isabela sentiu um calafrio, mas manteve a compostura. "Senhor Albuquerque. Parece que Nova Friburgo é menor do que eu pensava."

Ele riu, um som suave e grave. "Ou talvez nossos destinos estejam mais entrelaçados do que gostaríamos de admitir." Ele se levantou e caminhou até o banco dela, pedindo permissão com o olhar antes de se sentar. "Vejo que está aproveitando a noite."

"Apenas um momento de paz antes de voltar à realidade", ela respondeu, sem revelar o que havia descoberto nos diários.

Daniel a observou. "Você parece perturbada. É a floricultura? A oferta ainda está de pé, sabe. Uma saída honrosa para todos."

Isabela suspirou. "Não é tão simples. A floricultura... tem muitos segredos. E estou começando a descobrir que eles envolvem sua família também."

A expressão de Daniel mudou. Seus olhos se estreitaram levemente, e ele pareceu ficar em alerta. "Minha família? O que você quer dizer?"

Isabela hesitou. Confiar nele? Era seu "inimigo" nos negócios. Mas a verdade estava se revelando e, de alguma forma, sentia que ele poderia ser parte da solução, ou pelo menos da compreensão. "Minha avó, Lúcia, e um tal de Elias. E uma disputa de terras antiga que, de alguma forma, parece ter envolvido os Albuquerque."

O rosto de Daniel endureceu. Ele se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. "Elias... um Elias ligado à sua avó? E disputas de terra... Isso é o que meu pai nunca me contou. Ele sempre foi muito misterioso sobre o interesse na sua floricultura. Dizia que era 'pessoal'."

"Pessoal o suficiente para sua prima me ligar e me ameaçar", Isabela retrucou, observando a reação dele.

Daniel franziu a testa. "Verônica ligou para você? O que ela disse?" Havia raiva genuína em sua voz.

"Disse que 'todos temos nossos pontos fracos' e que eu 'cederia'. Aparentemente, a incorporadora não aceita um 'não' como resposta", Isabela disse, desafiadora.

Daniel se recostou no banco, massageando as têmporas. "Ela não deveria ter feito isso. Verônica é... ambiciosa demais. E ela não sabe de tudo. Nem eu." Ele fez uma pausa, e seus olhos azuis se encontraram com os dela. "Ouça, Isabela. Eu não sou como meu pai, nem como Verônica. Se há algo sobre o passado que envolve nossas famílias, eu quero saber. Eu não trabalho com ameaças veladas."

Isabela o estudou. A sinceridade em seus olhos era convincente. E a raiva em relação a Verônica era clara. "Eu encontrei recortes de jornal antigos. Falavam de uma disputa de terras abafada, envolvendo minha avó. E uma foto dela com um homem, Elias. No verso, a inscrição: 'Lúcia e Elias. Nossa Orquídea'."

Daniel pareceu chocado. "Elias? Um parente Fontes?"

"Eu não sei. Não se parece com nenhum parente que eu conheça. E o nome Elias... Não é um sobrenome Fontes, ou pelo menos não um que eu reconheça de nossa árvore genealógica."

Daniel se levantou, andando de um lado para o outro na calçada. "Isso é... estranho. Meu pai nunca mencionou um Elias. Mas ele sempre escondeu coisas sobre o passado da empresa, sobre como ele adquiriu certas propriedades." Ele parou e se virou para Isabela. "E a Orquídea Escarlate... Ele tinha uma obsessão por ela. Lembro-me de quando eu era criança, ele tentou comprar uma estufa inteira de orquídeas raras, mas não era a certa."

Isabela sentiu um arrepio. "Sua avó também tinha essa obsessão pela Orchidaceae Scarlata. Ela acreditava que era a chave para algo."

Um silêncio carregado de tensão pairou entre eles. Era como se as peças de um quebra-cabeça antigo começassem a se encaixar, revelando uma imagem maior e mais complexa.

"Eu preciso ir", Daniel disse de repente, a voz mais rouca. "Eu preciso falar com meu pai. E investigar mais a fundo." Ele olhou para Isabela, e havia uma nova luz em seus olhos, não mais apenas de interesse nos negócios, mas de uma curiosidade compartilhada, quase uma aliança tácita. "Eu acredito em você, Isabela. E se há segredos, eles precisam vir à tona. Juntos."

Isabela assentiu. Era um pacto silencioso, uma trégua inesperada. A busca pela verdade se tornava mais importante do que a rivalidade pela floricultura. Pelo menos por enquanto.

Enquanto Daniel se afastava, Isabela percebeu que a noite em Nova Friburgo havia ficado mais fria. Ela se levantou, sentindo o peso das descobertas, mas também uma estranha sensação de alívio. Ela não estava sozinha nessa batalha contra as sombras do passado. Daniel Albuquerque, o homem que ela via como seu adversário, poderia ser, ironicamente, seu maior aliado na busca pela verdade. E a orquídea escarlate, que antes era uma lenda distante, agora parecia apontar para uma história real e urgente, enterrada sob a poeira de gerações.

Capítulos
1 Capítulo 1: O Regresso e a Resistência
2 Capítulo 2: O Silêncio da Lembrança
3 Capítulo 3: A Poeira do Passado e as Sombras do Presente
4 Capítulo 4: O Pacto Secreto e a Sombra de um Nome
5 Capítulo 5: O Rato e o Gato na Cidade Serrana
6 Capítulo 6: O Enigma de Elias e a Conexão Inesperada
7 Capítulo 7: A Trilha Escondida e os Primeiros Suspeitos
8 Capítulo 8: A Caixa Secreta e o Eco de uma Traição
9 Capítulo 9: A Fuga Pela Serra e o Segredo de Armando
10 Capítulo 10: O Refúgio Secreto e o Plano de Batalha
11 Capítulo 11: A Teia de Contatos e a Primeiras Pistas Financeiras
12 Capítulo 12: A Jornalista e a Teia Exposta
13 Capítulo 13: O Furacão da Verdade e a Retaliação Implacável
14 Capítulo 14: Sob Cerco e a Busca por Testemunhas
15 Capítulo 15: Uma Visita Inesperada e um Aliado Secreto
16 Capítulo 16: O Último Trunfo e a Falsa Bandeira – Uma Teia de Enganos Mais Profunda
17 Capítulo 17: O Julgamento da Opinião Pública e a Caçada Implacável
18 Capítulo 18: Reconstrução e Resiliência em Nova Friburgo
19 Capítulo 19: O Testemunho do Tempo e Novas Sementes
20 Capítulo 20: A Sombra de um Antigo Colega
21 Capítulo 21: Pistas Subterrâneas e a Obsessão Recrudescida
22 Capítulo 22: Infiltração e A Descoberta da Rede Sombria
23 Capítulo 23: O Cerco se Fecha e a Revelação da Organização "Gênesis Verde"
24 Capítulo 24: O Enigma do "Jardineiro" e a Rede Invisível
25 Capítulo 25: O Projeto Pandora e a Teoria da "Recomposição"
26 Capítulo 26: A Contraofensiva e a Arte da Camuflagem Botânica
27 Capítulo 27: A "Conexão" da Orquídea e o Cérebro da Operação
28 Capítulo 28: A Caça à Batuta e a Vulnerabilidade do Cérebro
29 Capítulo 29: O Eco Digital da Orquídea e a Contra-Vigilância
30 Capítulo 30: A Sinfonia de Luzes e a Resposta Silenciosa
31 Capítulo 31: A Reunião Estratégica e o Plano Audacioso para Kastellorizo
32 Capítulo 32: A Melodia do Engano e a Incursão no Santuário Subterrâneo
33 Capítulo 33: O Confronto no Santuário e a Verdade da Batuta
34 Capítulo 34: A Batalha Legal e a Rede de Resgate Global
35 Capítulo 35: As Cicatrizes da Sinfonia e a Reorganização da Esperança
36 Capítulo 36: A Expansão do Legado e o Preço da Fama
Capítulos

Atualizado até capítulo 36

1
Capítulo 1: O Regresso e a Resistência
2
Capítulo 2: O Silêncio da Lembrança
3
Capítulo 3: A Poeira do Passado e as Sombras do Presente
4
Capítulo 4: O Pacto Secreto e a Sombra de um Nome
5
Capítulo 5: O Rato e o Gato na Cidade Serrana
6
Capítulo 6: O Enigma de Elias e a Conexão Inesperada
7
Capítulo 7: A Trilha Escondida e os Primeiros Suspeitos
8
Capítulo 8: A Caixa Secreta e o Eco de uma Traição
9
Capítulo 9: A Fuga Pela Serra e o Segredo de Armando
10
Capítulo 10: O Refúgio Secreto e o Plano de Batalha
11
Capítulo 11: A Teia de Contatos e a Primeiras Pistas Financeiras
12
Capítulo 12: A Jornalista e a Teia Exposta
13
Capítulo 13: O Furacão da Verdade e a Retaliação Implacável
14
Capítulo 14: Sob Cerco e a Busca por Testemunhas
15
Capítulo 15: Uma Visita Inesperada e um Aliado Secreto
16
Capítulo 16: O Último Trunfo e a Falsa Bandeira – Uma Teia de Enganos Mais Profunda
17
Capítulo 17: O Julgamento da Opinião Pública e a Caçada Implacável
18
Capítulo 18: Reconstrução e Resiliência em Nova Friburgo
19
Capítulo 19: O Testemunho do Tempo e Novas Sementes
20
Capítulo 20: A Sombra de um Antigo Colega
21
Capítulo 21: Pistas Subterrâneas e a Obsessão Recrudescida
22
Capítulo 22: Infiltração e A Descoberta da Rede Sombria
23
Capítulo 23: O Cerco se Fecha e a Revelação da Organização "Gênesis Verde"
24
Capítulo 24: O Enigma do "Jardineiro" e a Rede Invisível
25
Capítulo 25: O Projeto Pandora e a Teoria da "Recomposição"
26
Capítulo 26: A Contraofensiva e a Arte da Camuflagem Botânica
27
Capítulo 27: A "Conexão" da Orquídea e o Cérebro da Operação
28
Capítulo 28: A Caça à Batuta e a Vulnerabilidade do Cérebro
29
Capítulo 29: O Eco Digital da Orquídea e a Contra-Vigilância
30
Capítulo 30: A Sinfonia de Luzes e a Resposta Silenciosa
31
Capítulo 31: A Reunião Estratégica e o Plano Audacioso para Kastellorizo
32
Capítulo 32: A Melodia do Engano e a Incursão no Santuário Subterrâneo
33
Capítulo 33: O Confronto no Santuário e a Verdade da Batuta
34
Capítulo 34: A Batalha Legal e a Rede de Resgate Global
35
Capítulo 35: As Cicatrizes da Sinfonia e a Reorganização da Esperança
36
Capítulo 36: A Expansão do Legado e o Preço da Fama

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