Capítulo 2 – Vinhos, Silêncio e Veneno

[Cenário: Mansão Moretti – ala principal. No fim do corredor forrado por colunas de mármore escuro, uma dupla de portas se abre para revelar a sala de estar do Don. Um espaço luxuoso e sóbrio: tapeçarias vermelhas, livros encadernados em couro, uma lareira crepitando. Um criado conduz Elia com passos firmes.]
Rocco
Rocco
(sem emoção): — O Don o espera. Recomendo que o senhor mantenha a língua dentro da boca. E os pés, também.
Elia Russo
Elia Russo
(com um sorriso ladeado de ironia, observando os detalhes da mansão): — Ah, mas e se a minha língua for a parte mais interessante que tenho? Seria um crime não usá-la.
[O criado bufa em silêncio e o deixa. Elia atravessa a sala com calma, como se andasse por um palco. Ele veste camisa preta levemente aberta no peito, calça justa e um colar de prata com pingente triangular. Cabelos dourados desalinhados, olhos azuis faiscando malícia. Salvatore está de costas para ele, observando as chamas da lareira.]
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
Sem se virar): — Está atrasado. Ou desafiando, de propósito?
Elia Russo
Elia Russo
(sentando-se no sofá de veludo carmesim, cruzando as pernas com um estalo leve): — Um pouco dos dois. Pensei que mafiosos fossem mais pontuais quando se trata de encontros perigosos.
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
(virando-se lentamente, taça de vinho na mão, os olhos verdes cortando o ar como lâmina): — Isso não é um encontro. Isso é um teste. Você está aqui por minha vontade, Elia Russo. Não confunda curiosidade com carinho.
Elia Russo
Elia Russo
(passando os dedos pelos lábios, fingindo surpresa): — Pena. E eu achando que já tínhamos passado da fase das ameaças sutis. Que tipo de teste começa com vinho?
[Salvatore caminha até ele, seus sapatos fazendo pouco ruído no piso de madeira. Está com a camisa branca dobrada nos antebraços, o peito levemente aberto, sem gravata. Um bracelete discreto em couro escuro no pulso. Seus dedos longos seguram a taça como se fosse parte dele.]
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
Parando à frente de Elia): — Um teste de paladar. De instinto. De submissão.
[Ele estende a taça diante do rosto de Elia, aproximando o vinho escuro dos lábios do loiro.]
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
— Beba.
Elia Russo
Elia Russo
Sem tocar a taça, ergue o olhar e fala devagar): — Veneno ou safra cara?
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
— Às vezes são a mesma coisa.
[Elia o encara por longos segundos. Depois, segura a mão de Salvatore que sustenta a taça — não com força, mas com precisão. Inclina-se e bebe direto do cristal, os lábios tocando o vidro onde antes Salvatore havia tocado. Uma gota escorre pelo canto de sua boca.]
Elia Russo
Elia Russo
(passando a língua pelo próprio lábio): — Forte. Denso. Ardente na garganta. — Quase tão perigoso quanto você.
[Silêncio tenso. Salvatore o observa como se avaliasse uma obra de arte ousada demais para estar ali.]
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
Se agacha diante dele, voz baixa): — Você sabe com quem está lidando?
Elia Russo
Elia Russo
— O nome está em todos os arquivos que hackeei. Salvatore Moretti. Filho do falecido Giancarlo. O Fantasma do Norte. Rei do submundo europeu. — Mas nada disso explica o que vi quando olhei nos seus olhos ontem.
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
(franze ligeiramente o cenho): — E o que você acha que viu?
Elia Russo
Elia Russo
(inclina-se levemente, a voz baixa como um sussurro íntimo): — Um homem que se esconde atrás da reputação. Que controla tudo — mas que não sabe lidar quando alguém toca... nele.
[Salvatore segura o queixo de Elia com força repentina, mas o loiro não recua. Ao contrário: aproxima-se mais, os seus joelhos agora tocando a coxa do outro . O silêncio que segue é carregado de algo indecifrável: desejo, ameaça, ou talvez ambos.]
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
(voz rouca): — Você brinca com fogo como quem quer morrer.
Elia Russo
Elia Russo
— Ou como quem quer se queimar e lembrar do cheiro.
[A mão de Salvatore desliza para o pescoço de Elia, não apertando, mas sentindo a pulsação.]
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
— Um dia... isso aqui vai ser o último lugar que você vai sentir vida.
Elia Russo
Elia Russo
Sorri, devasso): — Só se for com a sua mão.
[Por um momento, a sala parece conter a respiração. Então, Salvatore se levanta, gira nos calcanhares e anda até o aparador, voltando com uma segunda taça de vinho.]
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
— Você não é o que parece.
Elia Russo
Elia Russo
(ainda sentado, mais sério agora): — Nem você.
Salvatore Moretti
Salvatore Moretti
— Amanhã, vou te levar para ver o que há por trás dos portões da Família Moretti. Se você não vomitar, talvez sobreviva.
Elia Russo
Elia Russo
— Mal posso esperar para conhecer o inferno com você.
[Luzes baixam levemente. Música clássica toca ao fundo. O capítulo termina com Salvatore virando-se de costas, taça na mão, e Elia observando-o com olhos famintos — não só de poder, mas de algo muito mais perigoso.]

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