O padre não tinha escolha, ele mais do que ninguém queria o acordo de paz entre as duas famílias mais poderosas da cidade e também da região, e ele como ninguém sabia que o fato daqueles dois querer a paz era um milagre que estava acontecendo. Em seus sermões nas missas aos domingos nunca perdia a oportunidade de interpretar alguns textos bíblicos para dar uma indireta aos patriarca das duas famílias. Por que embora os patriarcas que viviam em pé de guerra, mas que isso não impedia deles frequentar a igreja todos os domingos, eles eram católicos e tinham as suas crenças. Às vezes nas confissões eles perguntavam se um dia eles podiam ser perdoados pelos seus pecados?
— Porque está me fazendo essa pergunta? — Perguntava o padre Felipe para ambos que tinham os mesmos questionamentos.
— Padre, meus pecados são tantos que acredito que nunca serão perdoados.
— Por que está dizendo isso? — Perguntou padre Felipe, olhando nos olhos dele. Vendo angústia e amargura no no olhar, não tinham mais como fugir com uma certeza que estivesse se condenando pelo que os dois fizeram no passado, principalmente na juventude em que estavam marcados pelas brigas, traições, as armadilhas preparadas para os adversários que foram mortos em emboscada, os votos comprados dos agricultores iludidos com a promessa de vida melhor, a corrupção, tudo isso pesava agora na mente dos dois. Eles mesmos estavam se condenando. Então para tentar aliviar o que sentiam. Então o padre dizia: "o que é impossível para homem, mas nada é impossível para Deus".
Para sensibilizar os dois o padre Felipe usava sermões nas missas aos domingos, um desses textos bíblicos ele usava a seguinte frase.
— Havia um homem que levava seu rebanho para o campo quando de repente uma ovelha se perdeu, então o pastor deixou as 99 ovelhas no lugar e foi à procura da ovelha perdida, ao encontrar a ovelha perdida ele ficou tão feliz, tão feliz que agradeceu a Deus por ter encontrado!
— Padre, mas o que isso tem haver?
— Quero dizer que se um homem pecador se converter ele será recebido com festa pelos anjos nos reino dos céus.
— Mas eu acho que para nós não há mais salvação padre.
— E porque não? — Perguntou padre Felipe.
— Porque é impossível sermos perdoados por tantas coisas ruins que cometemos.
— Como eu disse, o que é impossível para o homem, mas que tudo é possível para Deus. Vocês nunca ouviram falar de Paulo?
— Ouvimos dizer que ele é o maior apóstolo de Cristo, mas o que tem haver com Paulo com a nossa vida?
— Pois então. Antes de ser o apóstolo Paulo, ele foi Saulo.
— Saulo? Quem é Saulo? — Perguntou Armando curioso. — Deixando o padre sem paciência com tanta falta de conhecimento bíblico, mas não estava disposto abrir mão pela luta de tentar converter os dois patriarca cabeça dura.
— Saulo era um homem pecador, um perseguidor implacável contra os cristãos depois da ressurreição de Cristo. Ele trabalhava para Pilatos governador romano naquela época. Até que um dia abriu-se uma nuvem e de lá ele ouviu uma voz que dizia. Saulo, Saulo, porque me persegue? E nisso com o clarão das nuvens Saulo ficou cego, quando a parti daquele momento ele passou acreditar em Deus e em Jesus, assim ele se tornou o maior apóstolo de Cristo até os dias de hoje.
A partir daquele momento os dois patriarca não tiravam aquela palavra sobre o que aconteceu com Saulo tornando-se Paulo. Começaram a ler a Bíblia, mas não queriam que ninguém soubesse que eles estavam pensando em mudar de vida. O coração ardia dentro do peito como se estivessem desesperados esperando pelo perdão. Não tinham mais aquela disposição de quando eram jovens que agiam acima da lei. Naquele momento eles sentiam remorsos pelos crimes cometidos na juventude em que colocavam ambição, vaidade e arrogância acima de tudo. Estavam dispostos a tudo para aliviar a culpa que carregavam, até que certo dia Armando tomou iniciativa de ligar para seu maior rival e inimigo político.
— Alô! — Do outro linha Valdomiro atendeu.
— Quem é?
— Sou eu Armando!
— Armando?
— Sim, sou eu.
— Afinal o que quer comigo?
— Gostaria de fazer um acordo de paz!
— Acordo?
— Sim, um acordo!
— Que tipo de acordo você quer? Sabendo que nunca fizemos acordo algum?
— Eu gostaria de conversar pessoalmente!
— Isso é uma armadilha?
— É claro que não, não imagina como está sendo difícil para mim ter que admitir que estou cansado dessa guerra estúpida.
— Está falando sério?
— É claro que sim, posso ser a pessoa que você mais odeia na face da terra, mas sabe que a nossa guerra sempre não foi por causa do poder e sempre jogamos limpo, frente a frente, somos adversários, e inimigos, também sei disso. O que ninguém sabe nessa cidade que a nossa guerra é pessoal por causa de uma mulher que já está morta há mais de 30 anos, e convenhamos que uma é uma guerra inútil em que ninguém perdeu e nem ganhou, é bem verdade que a cidade cresceu, que um fiscalizou o outro, e tudo que é hoje é graça as nossas batalhas, só que eu acho que ninguém mais liga para isso, você não acha?
— Pensando bem, você está certo, mas onde quer que eu te encontre?
— Estava pensando em passar aí no seu escritório, desde que ninguém nos veja.
— Está certo, estarei aguardando. — Meia hora depois, Armando estava no escritório de Valdomiro sem que ninguém a visse. Chegando lá Valdomiro recebeu bem como se fosse amigos a muito tempo. Tudo era estranho para os dois que passaram 30 anos em guerra por qualquer pedaço de terra, até mesmo terreno para construção dentro da cidade. E agora estavam um diante do outro querendo dar um fim naquela guerra.
— Então você está disposto a fazer um acordo de paz? — perguntou Valdomiro.
— Estou, cheguei a conclusão que não vale apena ficar guerreando por mais nada.
— Tem certeza que é isso mesmo que você quer? E como vamos fazer esse acordo?
— Estava pensando em casar nossos filhos caçula. A minha filha com seu filho.
— O que faz pensar que eles vão aceitar?
— Tenho um plano, se estiver de acordo vamos conversar com o padre Felipe ser a testemunha.
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Atualizado até capítulo 27
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