Primeiro dia

POV’s Laura

Nova York — CITY

Apartamento

Na manhã seguinte — 07:00 AM

Meu patrão é sério, fechado, quase frio. Eu percebi, logo no primeiro olhar, que ele me contratou por pura pena.

Ele me proibiu de entrar nos outros cômodos do apartamento, mas não consigo ficar parada como uma estátua. Preciso me mover, sentir que sirvo para alguma coisa.

Vou até a cozinha, começo a preparar o café e resolvo fazer também a massa do pão, para colocar no forno.

— O que pensa que está fazendo na cozinha?—ouço, de repente, atrás de mim.

Levo um susto tão grande que deixo o prato de vidro escorregar das minhas mãos.

— Oh, meu Deus, perdão! — me agacho rápido para catar os cacos.

Meu patrão faz o mesmo, tentando me ajudar. Estou tão nervosa e atrapalhada — já é o segundo objeto que quebro na casa dele.

Nossos olhos se encontram, e por um instante sinto algo estranho, quase quente, dentro de mim. Nossas mãos se tocam sem querer, mas ele logo afasta, evitando o contato.

Fico ainda mais constrangida e abaixo a cabeça.

— O que faz na cozinha? — ele repete, mais sério.

— Eu estava preparando seu café, senhor.

O senhor Arthur lança um olhar rápido para a massa que deixei na bancada.

— Largue tudo — ordena com a voz grave — Largue, senhorita Laura.

Quando repete, ainda mais duro, pronunciando meu nome, sinto um nó na garganta.

— Não é esse o seu nome?

— É sim. Mas...— engulo em seco. — Onde eu morava...

— Onde você morava, senhorita Laura?— insiste, com o olhar penetrante no qual me paralisa.

— Tem algo que eu preciso contar ao senhor...— o olho com receio. — Eu sou do México, sou mexicana.

— Já havia notado, pelo seu sotaque.

— Mas existe outra coisa...— hesito, e prendo o ar. — Eu entrei nos Estados Unidos ilegalmente, eu vim em busca do sonho americano.

O meu patrão arregala os olhos, surpreso, e dá um passo para trás.

— É uma imigrante ilegal, senhorita Laura?

— Sim.— confirmo, e na hora ele recua alguns passos, indo em direção ao telefone.

— Vou ligar para a deportação. — anuncia.

O acompanho, tentando impedi-lo.

— Por favor, não faça isso! — suplico. — O senhor não sabe o que é passar fome, o que é viver na miséria...

— Eu sei muito bem o que é isso — seus olhos me atingem. — Já passei muita necessidade nessa vida, garota.

— Se sabe, então por que me olha assim? — as lágrimas de medo brotam em meus olhos.

Ele levanta o telefone, pensativo.

— Eu deveria ligar —faz a ameaça. — Seria o certo! Mas não vou destruir o sonho de ninguém, ainda mais de uma mulher.

Eu o encaro, surpresa, sentindo um misto de gratidão e choque.

— Obrigada, ninguém nunca fez isso por mim.

— Enxugue essas lágrimas, girl — pede, calmo, e eu seco o rosto com a ponta dos dedos. — Mas trate de regularizar sua situação, o mais rápido que puder.

— Sim, senhor.

Ele abaixa os olhos para meus sapatos, tão gastos que mal se aguentam.

— Que número você calça?

— Por quê? — franzo a testa, sem entender.

— Responda, senhorita Laura.

— O senhor não deveria me chamar de senhorita Laura, eu sou só uma empregada — falo, com vergonha.

— Não para mim. Eu trato todos de igual para igual e não precisa me chamar de senhor o tempo todo, pode me chamar apenas de Arthur.

— Mas eu não consigo, senhor Arthur. O senhor é meu patrão, eu preciso demonstrar respeito.

— Então, se quer me respeitar, me chame só de Arthur — insiste, com seriedade. — Combinado, senhorita Laura?

— Então não me chame de senhorita Laura — retruco, meio sem jeito.

O escuto rir, suave.

— Pois pronto, dona Laura.

Eu praticamente corro até a porta, tentando mantê-la aberta para ele passar.

— Não precisa me chamar de dona Laura — gaguejo.

Ele volta a olhar para meus sapatos.

— Você ainda não falou o número.

— 35, mas não precisa se incomodar.

— Não vou descontar do seu salário — garante.

Nossos olhares se prendem, tão próximos que sinto a respiração dele misturada à minha. Há algo naquele homem que me intriga, um mistério profundo nos olhos azuis.

De repente, somos interrompidos. Me afasto, desorientada.

— Quem é essa, tio?

A mulher loira, alta, de salto, me olha de cima a baixo, cheia de desprezo.

— Essa é Laura, Scarllet.

— Eu não lembro do senhor ter tido uma filha com a titia. De onde surgiu essa criatura?— aponta para mim, me deixando ainda menor do que já sou.

— Essa criatura...— me surpreendo quando ele segura em minha mão e o toque das nossas mãos coladas, me faz sentir um frio na barriga.— Será a minha esposa.

— O quê?— a mulher arregala os olhos. — Está caducando, tio? Vai se casar com uma mulher que poderia ser a sua filha?

Mais populares

Comments

Marlene Souza (Lena)

Marlene Souza (Lena)

estou começando a ler essa história 😄 06/07/25 e estou muito curiosa pra ver no que vai dar vai ficar muito interessante.

2025-07-06

4

Raimunda Neves

Raimunda Neves

Gente a estória está ficando boa ,mais /Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone//Plusone/ capítulos /Kiss//Kiss//Kiss//Kiss//Kiss//Kiss//Kiss//Kiss//Kiss//Kiss/

2025-07-06

4

Phillip Shakespeare

Phillip Shakespeare

pode ter sido por pena mas prove seu valor

2025-07-06

5

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!