Quatro meses depois..
A porta do quarto rangeu lentamente enquanto Serena entrava ao lado da enfermeira Sabrina Santos.
-- Arthur, filho. Sua nova enfermeira chegou. Por favor, meu bem, não seja ignorante dessa vez.
Arthur apenas curvou os lábios com sarcasmo. Sabrina era décima segunda enfermeira em quatro meses desde que ele sofreu o acidente e ficou cego e com dificuldade de locomoção.
O som suave dos passos das duas mulheres ecoaram no quarto mergulhado em penumbra. Arthur, deitado na cama confortavelmente, cerrou os punhos sob o lençol de linho. Mais uma intrusa. Mais um par de olhos piedosos para fita-lo na sua nova realidade de escuridão.
-- Pode ir, mãe, -- sua voz rouca e carregada de impaciência cortou o silêncio. -- Não preciso de mais ninguém aqui.
Serena suspirou, um som cansado que se tornara familiar nos últimos meses. -- Arthur, querido, você precisa de cuidados. Sabrina é muito experiente e foi altamente recomendada. Por favor, dê uma chance a ela.
Ele virou o rosto para o lado, o maxilar tenso. A ideia de ter outra estranha invadindo sua privacidade, testemunhando sua fragilidade, era insuportável. A independência que ele sempre prezara, a capacidade de controlar cada aspecto de sua vida, havia sido brutalmente arrancada. Agora, ele era dependente, vulnerável, um fantasma na própria mansão que antes ecoava com sua autoridade.
Sabrina pigarreou suavemente. -- Senhor Maldonado, entendo sua relutância. Mas estou aqui para ajudá-lo a recuperar sua autonomia, dentro do possível. Sou enfermeira, e meu objetivo é tornar sua rotina mais confortável e facilitar sua reabilitação.
Arthur soltou uma risada amarga, sem humor. -- Minha autonomia se foi no momento em que aquele caminhão me atingiu, enfermeira. E quanto ao conforto... bem, a escuridão não é particularmente confortável.
Ele podia sentir o olhar hesitante de Sabrina sobre ele, a aura de cautela que a envolvia. Todas as enfermeiras anteriores haviam demonstrado a mesma apreensão inicial, misturada com uma dose de pena que ele detestava mais do que a própria cegueira. Elas chegavam cheias de boas intenções, tentando animá-lo, encorajá-lo. Mas seus sorrisos forçados e palavras de consolo soavam vazios, ecos distantes de um mundo que ele não podia mais ver.
-- Sei que este é um momento difícil, senhor Maldonado, -- Sabrina continuou, a voz calma e firme, sem o tom excessivamente compassivo que ele tanto detestava. -- Mas a recuperação leva tempo e esforço. Estou aqui para guia-lo nesse processo.
-- Não preciso de guias, -- Arthur retrucou, o tom cortante. -- Preciso da minha visão de volta. E isso, ninguém pode me dar.
O silêncio se instalou novamente no quarto, pesado e carregado de tensão. Serena colocou uma mão hesitante no braço do filho, mas ele se encolheu ao toque.
-- Arthur... por favor... -- ela implorou, a voz embargada.
Ele suspirou, cedendo minimamente. -- Tanto faz. Que ela fique. Mas que não espere gentileza da minha parte.
Sabrina manteve a compostura, apesar da hostilidade evidente. -- Não espero nada além de cooperação profissional, senhor Maldonado. Estou aqui para fazer meu trabalho.
Arthur virou-se novamente, dando as costas para as duas mulheres. A presença delas no seu santuário de escuridão era uma irritação constante, um lembrete palpável da sua impotência. Ele podia sentir os olhos de Sabrina em suas costas, mas se recusou a falar novamente com ela. Em sua mente, ela era apenas mais um obstáculo, mais um rosto indistinto na sua nova e sombria realidade. E ele não tinha paciência para mais um espectador da sua desgraça.
-- Senhorita Sabrina, por favor vamos ao escritório. -- Serena convidou olhando para a enfermeira, -- Filho, daqui a pouco Sabrina retornará, seja gentil meu bem..
Arthur permaneceu em silêncio escutando o som da porta do quarto se fechando..
Quatro meses vivendo na escuridão.. Quatro meses meses sem ver a luz do dia.. Arthur se recusava a passar novamente pelo médico. Dois especialista já havia falado que o caso dele era muito complicado e as chances de voltar a enxergar de novo eram muito pequenas. Ele convivia com o medo de ter outro diagnóstico negativo, e assim vivia solitário, no seu mundo de escuridão.
Sabrina entrou no escritório da mansão que Arthur morava acompanhada pela mãe dele. Serena agora administrava a empresa, tendo em suas mãos, uma grande responsabilidade.
-- Sente-se senhorita Santos. Como viu, meu filho não é um bom paciente. Ele sempre agiu dessa maneira com todas as outras enfermeiras que já passaram por aqui. Nenhuma delas conseguiu concluir um mês de trabalho. Mas eu acredito que você seja diferente. Meu filho tem uma personalidade forte e se recusa a ser cuidado por alguém, até mesmo por mim, que sou a mãe dele.
Sabrina com os seus olhos atentos e ouvidos aguçados prestava atenção nas palavras de Serena.
-- Sra. Maldonado, no hospital cuidamos de pacientes com personalidades parecidas com a do seu filho. Na realidade, o que acontece é que ele está querendo viver no seu "mundinho" por achar que as pessoas estão ao lado dele apenas por pena. Vou fazer o meu melhor para conseguir o que as outras enfermeiras não conseguiram.
-- Ótimo, -- exclamou Serena com um sorriso discreto. -- Como já sabe, terá que morar aqui e sua folga será no sábado. Receberá seu salário a cada quinze dias. Se precisar sair para resolver algo importante no horário de trabalho, terá que comunicar pelo menos doze horas antes.
-- Sim, estou de acordo -- respondeu Sabrina confiante. -- Meu telefone estará disponível para quando precisar ligar a qualquer informação. Eu tenho minha casa, mas estou por aqui ultimamente para cuidar de Arthur. Mas as coisas na empresa tem se complicado bastante aumentando a minha responsabilidade, e agora será muito difícil ter tempo para cuidar dele.. Tomara que você consiga, -- ela disse com voz de choro, -- meu filho construiu uma empresa sólida e bem estruturada, mas sem a administração dele, a empresa tem passado momentos de difíceis.
-- Não prometo ser a profissional que mudará o jeito frio do Sr. Maldonado, mas prometo me empenhar muito para conseguir que ele tenha uma boa recuperação.
- Obrigada por sua coragem Srta. Santos. Agora vou chamar a senhora Vera que é a governanta da casa. Arthur é muito apegado a ela. Tudo que precisar, é só falar com a governanta Vera.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Leitora compulsiva
assim que td começa, vamos ver ela ser o oposto do que ele imagina que ela seja 🤭
2025-07-16
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Simone Silva
parabéns autora pelo seu livro
2025-07-07
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Dulce Gama
coitado isso foi castigo ele tava sonhando da moça que disse que tinha se.apaixonado por ele KKK sei que isso é uma história mas serve de exemplo pra muitos 🌟🌟🌟🌟♥️♥️♥️♥️♥️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍
2025-07-05
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