Capítulo 04 - Flor Preferida do Rei

O dia amanhecera com céu claro e o perfume suave das flores de primavera flutuando no ar. Elara já estava pronta antes mesmo que os sinos da capela soassem a primeira hora. Vestia um delicado vestido esverdeado, leve e fluido, com detalhes bordados à mão. Os fios do cabelo, antes indomáveis, estavam presos em duas tranças finas que se encontravam atrás da cabeça, exatamente como sua mãe costumava usar.

Mas o mais importante estava pendurado sobre seu peito: um medalhão dourado, antigo e um pouco desgastado, com o retrato em miniatura de Amaris.

Na noite anterior, Elara treinara seu sorriso no espelho, lembrando-se de como sua mãe sorria em cada pintura - gentil, acolhedora, encantadora. Ela queria ser a memória viva de sua mãe, e agora estava pronta.

Ela sabia exatamente onde o rei estaria pela manhã. Toda primavera, ele passava um tempo sozinho nos jardins internos, junto ao canteiro de lavandas. Diziam que eram as flores preferidas da mãe dele e também de Amaris.

Atravessar o palácio sem ser vista pelos primos foi o primeiro desafio. Ela andava com passos leves e rápidos, sempre com os olhos atentos aos corredores. O risco de ser detida por um dos tios ou primos mais velhos era real. Mas a vantagem de ser pequena era que ninguém prestava atenção nela. E desta vez, ela usava isso a seu favor.

Ao alcançar os jardins, sentiu o coração acelerar.

Ali, à sombra das ameixeiras floridas, estava o rei. De pé, com as mãos cruzadas nas costas, observava as lavandas como quem observa o passado. Seus cabelos estavam mais brancos do que ela se lembrava, mas o semblante era o mesmo: severo, mas melancólico.

Elara respirou fundo e se aproximou com discrição. Ajoelhou-se diante das flores e começou a tocá-las com cuidado, como se estivesse apenas ali por acaso, sem notar a presença do rei. Ela fingia estar distraída, mas cada gesto era calculado. Seus dedos deslizavam pelas pétalas como uma prece silenciosa, e seus olhos, mesmo fingindo naturalidade, buscavam captar o instante certo.

E então... ela o sentiu. O olhar do rei pousado sobre ela.

Devagar, ela se levantou e, com a graciosidade que tanto praticara, virou-se para ele. Deu dois passos para trás e fez uma reverência impecável, segurando a barra do vestido com os dedos e inclinando o corpo com delicadeza.

- Bom dia, alteza - disse, com a voz clara, mas doce.

O rei permaneceu em silêncio por um instante, como se tentasse entender o que via. Os olhos dele se apertaram, examinando os traços da menina.

- Quem é você? - perguntou, com a voz grave, mas curiosa.

Elara ergueu os olhos, permitindo que o medalhão dourado pendesse para frente, bem à vista. Ela o segurou com as duas mãos e abriu devagar, revelando a imagem de Amaris.

- Minha mãe escolheu meu nome - disse, com um sorriso tímido. - Elara. Ela me chamou assim por causa de uma estrela que ela gostava de ver no céu, quando era pequena.

A menção à estrela não era aleatória. Elara lembrava de ouvir, uma vez, Juno contar que o rei e Amaris costumavam observar as estrelas juntos quando ela era menina. Era uma memória distante, mas preciosa.

Ao ver a imagem de Amaris, os olhos do rei se suavizaram. Uma sombra de dor passou por seu rosto. E quando Elara, com os olhos já úmidos, apertou o medalhão contra o peito, ele deu um passo à frente.

- Você... se parece muito com ela - murmurou.

Elara assentiu com a cabeça, sem conseguir esconder a emoção.

- Eu queria conhecê-la mais. Mas ela... partiu logo depois que eu nasci. Às vezes, sinto que tudo que posso fazer é lembrar por meio dos outros. Ou através das flores que ela amava.

As palavras foram simples, mas carregadas de sentimento. O rei se aproximou devagar, quase hesitante. E, para surpresa da menina, colocou a mão sobre sua cabeça com gentileza.

- Sua mãe era luz neste palácio - disse ele. - Perdê-la foi como apagar todas as velas de uma vez.

Elara deixou uma lágrima escorrer, desta vez sem fingir. O rei não recuou.

- Vossa Majestade... - ela arriscou - estarei no baile da primavera. Esta será minha primeira vez, e eu ficaria muito feliz se pudesse vê-lo lá. A senhora Juno me contou que a mamãe sempre sorria muito nesse baile.

O rei esboçou um leve sorriso.

- Sim. Amaris adorava o baile. Dançava como se os pés dela nem tocassem o chão.

Antes que Elara pudesse responder, uma voz juvenil interrompeu:

- Avô?

Um menino apareceu pelo arco dos jardins. Devia ter nove ou dez anos, cabelo castanho claro e olhos inquisitivos. Trazia uma espada de treino pendurada na cintura, mas sua postura era tranquila.

- Ah, aqui está você - disse o rei. - Venha cá.

Ele se virou para Elara.

- Este é meu neto, Gael.

O futuro príncipe herdeiro. Elara sentiu um frio na espinha ao ver o menino que, no futuro, morreria e levaria sua vida junto. Mas agora, ele estava ali, vivo, curioso e levemente desconfiado.

- Muito prazer - disse ela, fazendo uma reverência perfeita. - Sou Elara. E estou ansiosa para vê-lo no baile da primavera.

O menino a observou por um momento, depois deu um sorriso contido e acenou com a cabeça.

O rei, por sua vez, ainda a olhava com admiração silenciosa. Elara sabia que havia conseguido. Plantara a semente. E o rei, agora, era um possível aliado.

Mas nem todos pareciam satisfeitos. Não muito longe dali, à sombra de uma pérgola entrelaçada de heras, um homem observava a cena com os olhos semicerrados. Era o conselheiro Haldrin, um dos mais antigos da corte e conhecido por sua aversão a fantasmas do passado.

— Um espetáculo encantador… — murmurou, sem disfarçar o tom ácido, ao ser abordado por uma dama de vestido vinho. — A filha da mulher que quase machou a monarquia, agora sob as graças do rei. Devíamos talvez aplaudir. Ou preparar as muralhas.

A dama arqueou uma sobrancelha. — Ela é só uma menina.

— Uma menina disposta a seduzir a corte. Isso me parece mais perigoso do que uma mulher armada.

Ambos olharam para o rei mais uma vez, que ainda sorria para Elara. A semente estava plantada — mas não só no coração do rei. A suspeita também germinava entre os que não esqueciam.

 

De volta ao quarto, Elara trancou a porta e apoiou-se contra ela, soltando um longo suspiro de alívio.

Conseguira.

O rei a queria no baile. Mas, lá fora, vozes já sussurravam contra ela. E sementes, as boas e as más, por vezes cresciam sob ameaças de tempestade.

Quem ousaria impedi-la agora?

...꧁༒༻ Fim do Capítulo 4 ༺༒꧂...

Você acha que Elara conquistou mesmo o rei?

Deixa seu comentário: esse baile vai ser uma vitória... ou uma armadilha?

Mais populares

Comments

Isabel Bel

Isabel Bel

Creio que se ela voltou pra fazer diferença e diferente, precisa desde o início ir quebrando as barreiras e vencendo os adversários passo a passo, seria compensador e revitalizante cada pequena vitória, e o rei com certeza teve lembranças boas com a presença dela

2025-07-05

4

Duda.

Duda.

Eu espero que o Baile seja uma vitória, ela mal voltou e já vai ter armadilha, deixa a pobre respirar

2025-07-07

2

Ely

Ely

como assim? ela viu ele mais velho na vida passada. como tá mais branco agora que é mais novo?

2025-07-10

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!