O dia amanhecera com céu claro e o perfume suave das flores de primavera flutuando no ar. Elara já estava pronta antes mesmo que os sinos da capela soassem a primeira hora. Vestia um delicado vestido esverdeado, leve e fluido, com detalhes bordados à mão. Os fios do cabelo, antes indomáveis, estavam presos em duas tranças finas que se encontravam atrás da cabeça, exatamente como sua mãe costumava usar.
Mas o mais importante estava pendurado sobre seu peito: um medalhão dourado, antigo e um pouco desgastado, com o retrato em miniatura de Amaris.
Na noite anterior, Elara treinara seu sorriso no espelho, lembrando-se de como sua mãe sorria em cada pintura - gentil, acolhedora, encantadora. Ela queria ser a memória viva de sua mãe, e agora estava pronta.
Ela sabia exatamente onde o rei estaria pela manhã. Toda primavera, ele passava um tempo sozinho nos jardins internos, junto ao canteiro de lavandas. Diziam que eram as flores preferidas da mãe dele e também de Amaris.
Atravessar o palácio sem ser vista pelos primos foi o primeiro desafio. Ela andava com passos leves e rápidos, sempre com os olhos atentos aos corredores. O risco de ser detida por um dos tios ou primos mais velhos era real. Mas a vantagem de ser pequena era que ninguém prestava atenção nela. E desta vez, ela usava isso a seu favor.
Ao alcançar os jardins, sentiu o coração acelerar.
Ali, à sombra das ameixeiras floridas, estava o rei. De pé, com as mãos cruzadas nas costas, observava as lavandas como quem observa o passado. Seus cabelos estavam mais brancos do que ela se lembrava, mas o semblante era o mesmo: severo, mas melancólico.
Elara respirou fundo e se aproximou com discrição. Ajoelhou-se diante das flores e começou a tocá-las com cuidado, como se estivesse apenas ali por acaso, sem notar a presença do rei. Ela fingia estar distraída, mas cada gesto era calculado. Seus dedos deslizavam pelas pétalas como uma prece silenciosa, e seus olhos, mesmo fingindo naturalidade, buscavam captar o instante certo.
E então... ela o sentiu. O olhar do rei pousado sobre ela.
Devagar, ela se levantou e, com a graciosidade que tanto praticara, virou-se para ele. Deu dois passos para trás e fez uma reverência impecável, segurando a barra do vestido com os dedos e inclinando o corpo com delicadeza.
- Bom dia, alteza - disse, com a voz clara, mas doce.
O rei permaneceu em silêncio por um instante, como se tentasse entender o que via. Os olhos dele se apertaram, examinando os traços da menina.
- Quem é você? - perguntou, com a voz grave, mas curiosa.
Elara ergueu os olhos, permitindo que o medalhão dourado pendesse para frente, bem à vista. Ela o segurou com as duas mãos e abriu devagar, revelando a imagem de Amaris.
- Minha mãe escolheu meu nome - disse, com um sorriso tímido. - Elara. Ela me chamou assim por causa de uma estrela que ela gostava de ver no céu, quando era pequena.
A menção à estrela não era aleatória. Elara lembrava de ouvir, uma vez, Juno contar que o rei e Amaris costumavam observar as estrelas juntos quando ela era menina. Era uma memória distante, mas preciosa.
Ao ver a imagem de Amaris, os olhos do rei se suavizaram. Uma sombra de dor passou por seu rosto. E quando Elara, com os olhos já úmidos, apertou o medalhão contra o peito, ele deu um passo à frente.
- Você... se parece muito com ela - murmurou.
Elara assentiu com a cabeça, sem conseguir esconder a emoção.
- Eu queria conhecê-la mais. Mas ela... partiu logo depois que eu nasci. Às vezes, sinto que tudo que posso fazer é lembrar por meio dos outros. Ou através das flores que ela amava.
As palavras foram simples, mas carregadas de sentimento. O rei se aproximou devagar, quase hesitante. E, para surpresa da menina, colocou a mão sobre sua cabeça com gentileza.
- Sua mãe era luz neste palácio - disse ele. - Perdê-la foi como apagar todas as velas de uma vez.
Elara deixou uma lágrima escorrer, desta vez sem fingir. O rei não recuou.
- Vossa Majestade... - ela arriscou - estarei no baile da primavera. Esta será minha primeira vez, e eu ficaria muito feliz se pudesse vê-lo lá. A senhora Juno me contou que a mamãe sempre sorria muito nesse baile.
O rei esboçou um leve sorriso.
- Sim. Amaris adorava o baile. Dançava como se os pés dela nem tocassem o chão.
Antes que Elara pudesse responder, uma voz juvenil interrompeu:
- Avô?
Um menino apareceu pelo arco dos jardins. Devia ter nove ou dez anos, cabelo castanho claro e olhos inquisitivos. Trazia uma espada de treino pendurada na cintura, mas sua postura era tranquila.
- Ah, aqui está você - disse o rei. - Venha cá.
Ele se virou para Elara.
- Este é meu neto, Gael.
O futuro príncipe herdeiro. Elara sentiu um frio na espinha ao ver o menino que, no futuro, morreria e levaria sua vida junto. Mas agora, ele estava ali, vivo, curioso e levemente desconfiado.
- Muito prazer - disse ela, fazendo uma reverência perfeita. - Sou Elara. E estou ansiosa para vê-lo no baile da primavera.
O menino a observou por um momento, depois deu um sorriso contido e acenou com a cabeça.
O rei, por sua vez, ainda a olhava com admiração silenciosa. Elara sabia que havia conseguido. Plantara a semente. E o rei, agora, era um possível aliado.
Mas nem todos pareciam satisfeitos. Não muito longe dali, à sombra de uma pérgola entrelaçada de heras, um homem observava a cena com os olhos semicerrados. Era o conselheiro Haldrin, um dos mais antigos da corte e conhecido por sua aversão a fantasmas do passado.
— Um espetáculo encantador… — murmurou, sem disfarçar o tom ácido, ao ser abordado por uma dama de vestido vinho. — A filha da mulher que quase machou a monarquia, agora sob as graças do rei. Devíamos talvez aplaudir. Ou preparar as muralhas.
A dama arqueou uma sobrancelha. — Ela é só uma menina.
— Uma menina disposta a seduzir a corte. Isso me parece mais perigoso do que uma mulher armada.
Ambos olharam para o rei mais uma vez, que ainda sorria para Elara. A semente estava plantada — mas não só no coração do rei. A suspeita também germinava entre os que não esqueciam.
De volta ao quarto, Elara trancou a porta e apoiou-se contra ela, soltando um longo suspiro de alívio.
Conseguira.
O rei a queria no baile. Mas, lá fora, vozes já sussurravam contra ela. E sementes, as boas e as más, por vezes cresciam sob ameaças de tempestade.
Quem ousaria impedi-la agora?
...꧁༒༻ Fim do Capítulo 4 ༺༒꧂...
Você acha que Elara conquistou mesmo o rei?
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Atualizado até capítulo 22
Comments
Isabel Bel
Creio que se ela voltou pra fazer diferença e diferente, precisa desde o início ir quebrando as barreiras e vencendo os adversários passo a passo, seria compensador e revitalizante cada pequena vitória, e o rei com certeza teve lembranças boas com a presença dela
2025-07-05
4
Duda.
Eu espero que o Baile seja uma vitória, ela mal voltou e já vai ter armadilha, deixa a pobre respirar
2025-07-07
2
Ely
como assim? ela viu ele mais velho na vida passada. como tá mais branco agora que é mais novo?
2025-07-10
0