Capítulo 03 -

O vapor subia da banheira de cobre, envolvendo o quarto como uma névoa quente e adocicada. Elara estava sentada entre as pétalas flutuantes, os joelhos encolhidos contra o peito e os olhos fixos nas próprias mãos.

Pequenas. Frágeis.

De novo.

Era estranho estar naquele corpo outra vez. Sentir os dedos finos demais para empunhar qualquer coisa com firmeza. O mundo ao redor parecia gigantesco.

E cheio de perigos.

Mas dessa vez, ela não era ingênua. Dessa vez, ela lembrava.

Fechou os olhos, e as imagens vieram como uma enxurrada: os corredores frios, os olhares reprovadores, os sussurros maliciosos.

A forma como era sempre vigiada. A maneira como diziam que sua existência envergonhava a coroa.

O avô a ignorava.

Os primos a maltratavam

E o tio...

O tio a odiava.

Não como um inimigo declarado, mas como alguém que coloca obstáculosnas sombras.

Filha de uma princesa que ousou amar um bruxo. Neta de um escândalo que quase manchou a linhagem real.

Elara sabia o que aconteceria nos próximos anos se deixasse tudo seguir como antes. Sabia cada golpe, cada traição silenciosa, cada passo que a levaria de volta à masmorra.

Não permitiria que o ciclo se repetisse.

"Tudo começa com o rei."

Essa era a chave.

Na vida passada, ela mal o conheceu.

Seu tio-avô, o rei Aldren, era um homem silencioso e distante, envolto em camadas de poder e protocolos. Mas havia algo nele... algo que a fazia acreditar que talvez ele tivesse sido um bom homem um dia.

Ela o viu poucas vezes, e sempre de longe.

Mas em uma dessas raras ocasiões, ele a defendeu.

Foi quando descobriu que ela vinha sendo punida por "insolência" após um comentário inocente feito a um visitante nobre.

Na época, Elara já tinha catorze anos e vivia sob constante vigilância de Mardon. O castigo que sofreu foi cruel, e não foi o primeiro.

Mas o rei interveio.

E pela primeira vez, a sombra dos tios recuou.

Tarde demais, claro. O estrago já estava feito.

Mas agora...

Agora, ela podia agir antes.

Abriu os olhos e se forçou a relaxar.

Não podia parecer desesperada. Nem ressentida.

Tinha que ser cuidadosa. Inteligente. Irresistivelmente gentil.

Uma criança educada, sensível e... encantadora.

Uma neta perfeita para um rei que já perdera filhos e irmãos demais.

- Você está quieta demais aí dentro - veio a voz de Juno do lado de fora. - A água vai esfriar, pequena.

- Já estou saindo - respondeu Elara, com uma leveza ensaiada na voz. Saiu da banheira e permitiu que Juno a envolvesse em uma toalha macia, o vapor ainda acariciando sua pele.

Enquanto era vestida, Elara manteve a mente em movimento.

Como se aproxima um rei?

Não poderia simplesmente bater à porta da sala do trono e pedir carinho.

Mas ela lembrava dos horários.

Lembrava que ele passava sempre pelos jardins do sul após o almoço.

Que gostava de observar os jardineiros - e, principalmente, os filhos dos nobres brincando sob a luz do sol.

Se ela estivesse lá... acidentalmente... encantadora e sorridente...

- Juno, posso ir brincar no jardim amanhã? - perguntou com a voz mais doce que encontrou.

A babá pareceu surpresa, mas não hesitou.

- Claro, minha flor. Fico feliz que queira sair. Tem andado tão calada ultimamente.

- Quero ser diferente agora. Quero que todos me vejam de outro jeito.

Juno sorriu, mas havia uma sombra de tristeza nos olhos dela.

- Todos deviam ver você como eu vejo. Mas... não se preocupe com eles. Você é especial, e um dia o mundo inteiro vai saber disso.

Especial.

Essa palavra já foi usada contra ela antes.

Agora, seria sua arma. Afinal, se era pra ser acusada de bruxa, dessa vez ela faria bom uso dessa magia.

Elara olhou pela janela com os olhos brilhando de determinação. Ela era só uma criança.

Mas o rei veria quem ela era de verdade.

E então, os cães que a rodeavam recuariam.

O vento soprou pelas cortinas como um suspiro contido, e uma voz atravessou sua mente — tênue, arranhada pelo tempo, como se viesse de um sonho esquecido:

“Enfim... alguma centelha.”

Elara franziu o cenho, instintivamente olhando ao redor.

Mas o quarto estava vazio.

O rei - seu tio-avô - era um homem austero e reservado, mas Elara sabia algo que poucos recordavam: ele amava profundamente a mãe dela. Não por política, mas por amor sincero. A princesa Amaris, fora sua sobrinha preferida.

Amaris tinha os cabelos cor de cobre queimado, os olhos avelã e o jeito sereno que encantava até os mais duros dos homens. Elara olhou para o espelho e viu sua mãe refletida ali. Ela tinha o mesmo cabelo, quase os mesmos olhos, mas nunca aprendera a usá-los a seu favor. Até agora.

Seu plano havia começado.

꧁༒༻ Fim do Capítulo 3 ༺༒꧂

O que você faria para chamar a atenção de um rei?

Elara escolheu o caminho da estratégia - será que ele vai notar?

Se está gostando da trama, deixa um coração e sua teoria!

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Comments

Lyu Carpani

Lyu Carpani

Ser fofa e adorável dará certo... Quem resiste uma criança fofa?

2025-09-07

1

Lyu Carpani

Lyu Carpani

Eitaaa, essa voz...
Será o pai dela? Ele é um bruxo, né? /Shy/

2025-09-07

1

Lyu Carpani

Lyu Carpani

Talvez o rei fosse apenas rígido demais, e não mau.

2025-09-07

2

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 01 - O Badalar do Sino
2 Capítulo 02 -Antes da primeira cicatriz
3 Capítulo 03 -
4 Capítulo 04 - Flor Preferida do Rei
5 Capítulo 05 - Primeira Dança
6 Capítulo 06 - Rota de fuga
7 Capítulo 07 - A Garotinha e o Duque
8 Capítulo 08 - Sombras do Passado
9 Capítulo 09 - Um jardim só deles
10 Capítulo 10 - Espada de madeira e moedas de ouro
11 Capítulo 11 - Marcas Escondidas
12 O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
13 Capítulo 12 - Coincidências
14 Capítulo 13 - Um nome esquecido
15 Capítulo 14 - Pequena Chama
16 Capítulo 15 - Memórias
17 Capítulo 16 - Senhor Fofoqueiro Mor
18 Capítulo 17 - Espadas e Promessas
19 Capítulo 18 - Vigiando
20 Capítulo 19 – Mais um degrau
21 O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
22 Capítulo 20 - Espadas, sabão e drama escolar
23 Capítulo 21 - Elara de Aldrenya
24 Capítulo 22 - Teste
25 Capítulo 23 - Ruivinho
26 Capítulo 24 - Cadete
27 Capítulo 25 - "Não aqui... não agora"
28 Capítulo 26 - Segredos
29 Capítulo 27 - Mais um Pavão
30 O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
31 Capítulo 28 -Três Espadas
32 Capítulo 29 - Desaparecidos
33 Capítulo 30 - Sob a Luz da Tocha
34 Capítulo 31 - Confusão
35 Capítulo 32 - Escola para Nobres
36 Capítulo 33 - Leilão de carne fresca
37 Capítulo 34 - Garotas espertas
38 O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
39 Capítulo 35 - Caça e montaria
Capítulos

Atualizado até capítulo 39

1
Capítulo 01 - O Badalar do Sino
2
Capítulo 02 -Antes da primeira cicatriz
3
Capítulo 03 -
4
Capítulo 04 - Flor Preferida do Rei
5
Capítulo 05 - Primeira Dança
6
Capítulo 06 - Rota de fuga
7
Capítulo 07 - A Garotinha e o Duque
8
Capítulo 08 - Sombras do Passado
9
Capítulo 09 - Um jardim só deles
10
Capítulo 10 - Espada de madeira e moedas de ouro
11
Capítulo 11 - Marcas Escondidas
12
O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
13
Capítulo 12 - Coincidências
14
Capítulo 13 - Um nome esquecido
15
Capítulo 14 - Pequena Chama
16
Capítulo 15 - Memórias
17
Capítulo 16 - Senhor Fofoqueiro Mor
18
Capítulo 17 - Espadas e Promessas
19
Capítulo 18 - Vigiando
20
Capítulo 19 – Mais um degrau
21
O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
22
Capítulo 20 - Espadas, sabão e drama escolar
23
Capítulo 21 - Elara de Aldrenya
24
Capítulo 22 - Teste
25
Capítulo 23 - Ruivinho
26
Capítulo 24 - Cadete
27
Capítulo 25 - "Não aqui... não agora"
28
Capítulo 26 - Segredos
29
Capítulo 27 - Mais um Pavão
30
O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
31
Capítulo 28 -Três Espadas
32
Capítulo 29 - Desaparecidos
33
Capítulo 30 - Sob a Luz da Tocha
34
Capítulo 31 - Confusão
35
Capítulo 32 - Escola para Nobres
36
Capítulo 33 - Leilão de carne fresca
37
Capítulo 34 - Garotas espertas
38
O Espelho de Aldrenya - Capítulo Bônus
39
Capítulo 35 - Caça e montaria

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