O vapor subia da banheira de cobre, envolvendo o quarto como uma névoa quente e adocicada. Elara estava sentada entre as pétalas flutuantes, os joelhos encolhidos contra o peito e os olhos fixos nas próprias mãos.
Pequenas. Frágeis.
De novo.
Era estranho estar naquele corpo outra vez. Sentir os dedos finos demais para empunhar qualquer coisa com firmeza. O mundo ao redor parecia gigantesco.
E cheio de perigos.
Mas dessa vez, ela não era ingênua. Dessa vez, ela lembrava.
Fechou os olhos, e as imagens vieram como uma enxurrada: os corredores frios, os olhares reprovadores, os sussurros maliciosos.
A forma como era sempre vigiada. A maneira como diziam que sua existência envergonhava a coroa.
O avô a ignorava.
Os primos a maltratavam
E o tio...
O tio a odiava.
Não como um inimigo declarado, mas como alguém que coloca obstáculosnas sombras.
Filha de uma princesa que ousou amar um bruxo. Neta de um escândalo que quase manchou a linhagem real.
Elara sabia o que aconteceria nos próximos anos se deixasse tudo seguir como antes. Sabia cada golpe, cada traição silenciosa, cada passo que a levaria de volta à masmorra.
Não permitiria que o ciclo se repetisse.
"Tudo começa com o rei."
Essa era a chave.
Na vida passada, ela mal o conheceu.
Seu tio-avô, o rei Aldren, era um homem silencioso e distante, envolto em camadas de poder e protocolos. Mas havia algo nele... algo que a fazia acreditar que talvez ele tivesse sido um bom homem um dia.
Ela o viu poucas vezes, e sempre de longe.
Mas em uma dessas raras ocasiões, ele a defendeu.
Foi quando descobriu que ela vinha sendo punida por "insolência" após um comentário inocente feito a um visitante nobre.
Na época, Elara já tinha catorze anos e vivia sob constante vigilância de Mardon. O castigo que sofreu foi cruel, e não foi o primeiro.
Mas o rei interveio.
E pela primeira vez, a sombra dos tios recuou.
Tarde demais, claro. O estrago já estava feito.
Mas agora...
Agora, ela podia agir antes.
Abriu os olhos e se forçou a relaxar.
Não podia parecer desesperada. Nem ressentida.
Tinha que ser cuidadosa. Inteligente. Irresistivelmente gentil.
Uma criança educada, sensível e... encantadora.
Uma neta perfeita para um rei que já perdera filhos e irmãos demais.
- Você está quieta demais aí dentro - veio a voz de Juno do lado de fora. - A água vai esfriar, pequena.
- Já estou saindo - respondeu Elara, com uma leveza ensaiada na voz. Saiu da banheira e permitiu que Juno a envolvesse em uma toalha macia, o vapor ainda acariciando sua pele.
Enquanto era vestida, Elara manteve a mente em movimento.
Como se aproxima um rei?
Não poderia simplesmente bater à porta da sala do trono e pedir carinho.
Mas ela lembrava dos horários.
Lembrava que ele passava sempre pelos jardins do sul após o almoço.
Que gostava de observar os jardineiros - e, principalmente, os filhos dos nobres brincando sob a luz do sol.
Se ela estivesse lá... acidentalmente... encantadora e sorridente...
- Juno, posso ir brincar no jardim amanhã? - perguntou com a voz mais doce que encontrou.
A babá pareceu surpresa, mas não hesitou.
- Claro, minha flor. Fico feliz que queira sair. Tem andado tão calada ultimamente.
- Quero ser diferente agora. Quero que todos me vejam de outro jeito.
Juno sorriu, mas havia uma sombra de tristeza nos olhos dela.
- Todos deviam ver você como eu vejo. Mas... não se preocupe com eles. Você é especial, e um dia o mundo inteiro vai saber disso.
Especial.
Essa palavra já foi usada contra ela antes.
Agora, seria sua arma. Afinal, se era pra ser acusada de bruxa, dessa vez ela faria bom uso dessa magia.
Elara olhou pela janela com os olhos brilhando de determinação. Ela era só uma criança.
Mas o rei veria quem ela era de verdade.
E então, os cães que a rodeavam recuariam.
O vento soprou pelas cortinas como um suspiro contido, e uma voz atravessou sua mente — tênue, arranhada pelo tempo, como se viesse de um sonho esquecido:
“Enfim... alguma centelha.”
Elara franziu o cenho, instintivamente olhando ao redor.
Mas o quarto estava vazio.
O rei - seu tio-avô - era um homem austero e reservado, mas Elara sabia algo que poucos recordavam: ele amava profundamente a mãe dela. Não por política, mas por amor sincero. A princesa Amaris, fora sua sobrinha preferida.
Amaris tinha os cabelos cor de cobre queimado, os olhos avelã e o jeito sereno que encantava até os mais duros dos homens. Elara olhou para o espelho e viu sua mãe refletida ali. Ela tinha o mesmo cabelo, quase os mesmos olhos, mas nunca aprendera a usá-los a seu favor. Até agora.
Seu plano havia começado.
꧁༒༻ Fim do Capítulo 3 ༺༒꧂
O que você faria para chamar a atenção de um rei?
Elara escolheu o caminho da estratégia - será que ele vai notar?
Se está gostando da trama, deixa um coração e sua teoria!
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 22
Comments
Isabel Bel
Ela é parecida com a mãe, e com certeza sendo gentil e brincando entre as flores irá chamar atenção dele, ajudará a abrir o coração cansado e triste que ele tem, fará com que ele tenha interesse em protegê-la, se aproximará e isso vai mudar tudo, parabéns 👏👏👏❤️❤️
2025-07-04
3
Fabio Noronha
Eu usaria da mesma estratégia, pegar o rei pela saudade
2025-07-19
1
Lilith_
Tadinha, tô com pena dessa prota
2025-07-04
0