No Jardim das Promessas

O relógio marcava 17h58 quando Amy passou pelos portões da Villa Ferrari. O sol da tarde dourava a paisagem da Toscana, tingindo os ciprestes e os vinhedos distantes com tons quentes de despedida. Ela caminhava como quem atravessa o tempo. Cada passo ecoava com lembranças: o som da risada de Lucca quando ela caiu na lama aos seis anos, o beijo roubado entre as glicínias aos dezesseis, os sussurros de promessas sob a figueira centenária.

Vestia um vestido leve, azul-claro, como o céu sobre eles naquela tarde. Nas mãos, segurava uma flor seca. A primeira. Aquela que Isadora lhe deu no casamento de Arthur e Luiggi. Seu amuleto. Seu lembrete. Sua esperança.

O jardim da Villa continuava mágico. As glicínias, em plena floração, formavam túneis naturais entre os caminhos de pedra. As rosas misturavam-se ao perfume do capim-limão plantado ao fundo. A brisa trazia o som suave do piano que tocava no salão ao longe. E ali, no centro do jardim, estava ele.

Lucca já a esperava junto às glicínias floridas. Estava com o cabelo um pouco mais comprido, a barba rala, o corpo mais forte. Vestia calça social e camisa branca dobrada até os cotovelos. O mesmo sorriso, porém, era intacto. Era ele. Ainda era ele. O menino das promessas e o homem das realizações.

Amy parou a poucos passos. O coração parecia martelar o peito com uma força quase dolorosa.

— Você voltou — disse, a voz trêmula.

— Eu disse que voltaria. — Ele sorriu, com os olhos marejados. — Achei que você não viria.

— Eu não conseguiria ficar longe. Não de você. Não desse jardim.

Lucca estendeu a mão, e ela a segurou. O toque era o mesmo. Quente, firme, seguro. Por um momento, nada mais existia. Apenas o som do vento entre as folhas e o coração dos dois batendo em sintonia.

— Senti sua falta em cada dia, Amy. Mas precisei ir. Precisava ser digno da promessa que fiz pra você.

Amy apertou mais a mão dele. As lágrimas caíam silenciosas.

— Eu te esperei, Lucca. Mas doeu. Houve dias em que achei que tinha te perdido...

— Nunca. Nem por um segundo.

Ele levou a mão ao bolso e tirou algo pequeno. Era um pedaço de fita azul desbotada.

— Reconhece?

Amy riu entre as lágrimas. Era a fita que ela usava no cabelo no casamento de Helena, anos atrás. Ele havia guardado também.

— Achei que só eu colecionava memórias.

— Algumas memórias me mantiveram vivo.

Amy olhou para o rosto dele e o viu como se o tempo não tivesse passado. Mas o tempo tinha passado. E ali estava a beleza do reencontro: reencontrar não apenas o outro, mas a si mesma. A menina que acreditava nas flores. A adolescente que o beijou sob as estrelas. A mulher que esperou.

— Eu voltei pra cumprir aquela promessa, Amy — disse Lucca. — Mas não quero só casar com você por aquilo que dissemos quando crianças. Quero porque, depois de tudo, ainda é você. Sempre foi você.

Amy não conseguiu responder com palavras. Pulou nos braços dele e o beijou com a alma, com os anos de saudade, com o amor de toda uma vida. Seus lábios se encontraram com intensidade e doçura, como se estivessem retomando uma conversa que nunca terminou. Foi um beijo longo, profundo, cheio de emoção. As mãos dele deslizaram por sua cintura, enquanto ela segurava o rosto dele com carinho. O mundo ao redor desapareceu.

O jardim pareceu suspirar.

Quando se separaram, Amy encostou a testa na dele.

— Então vamos fazer isso direito dessa vez. Sem pressa, sem dúvidas. Mas juntos.

Lucca assentiu.

— Juntos.

— Eu guardei cada flor, Lucca. Cada pétala que você me prometeu... Eu tenho todas. Em uma caixa de madeira com tampa de vidro. Meu cofre de promessas. E eu acreditava que cada flor era uma parte do nosso destino. Acha que é loucura?

— Não. Eu acho que é a coisa mais bonita que alguém já fez por mim.

Lucca então segurou as mãos dela com força e a levou até o centro do jardim, onde havia um banco de pedra sob a figueira antiga.

— Sabe o que eu mais sonhei durante esses dois anos? Com isso. Com a gente aqui. Não importava onde eu estava no mundo. Quando fechava os olhos, eu via esse lugar. E você.

Amy se sentou ao lado dele. A brisa balançava seus cabelos dourados. Ela parecia um quadro vivo.

— Você mudou... — disse ela, tocando o rosto dele com carinho.

— E você está ainda mais linda. Mais mulher. Mais minha.

Eles riram juntos, com uma intimidade que nem o tempo conseguiu apagar.

— Sabe que meu pai ainda vai surtar quando souber que a gente se reencontrou aqui — brincou Amy.

— James nunca gostou muito de mim, né?

— Ele sempre te respeitou. Mas nunca te quis perto demais. — Ela riu. — Agora não importa. Eu cresci. Escolho por mim mesma.

— E você me escolheria de novo?

— Todos os dias.

Lucca se emocionou. Tirou do bolso uma pequena caixinha de veludo azul. Mas não a abriu. Apenas a segurou.

— Não agora. Não hoje. Mas quando chegar o momento certo... isso aqui vai estar pronto.

Amy encostou a cabeça no ombro dele. O céu da Toscana escurecia lentamente, tingindo tudo de rosa, laranja e púrpura.

— Eu quero escrever essa história com você, Lucca. Sem medo. Sem esconder. Com todas as cores.

— Então vem comigo. Vamos voltar a pintar nossa história.

E assim ficaram. Entre silêncios confortáveis, olhares que diziam mais que palavras, e lembranças que agora se tornavam planos.

— Você ainda é meu namorado, certo? — Amy perguntou, com um sorriso travesso.

Lucca se virou para ela, com um brilho nos olhos.

— Sou. E quero continuar sendo. Até ser seu noivo, depois seu marido. E, se me permitir, seu para sempre.

Ela riu, se aproximando mais uma vez, e o beijou de novo, dessa vez com mais calma. O beijo era doce, cúmplice, apaixonado. Um reencontro de almas. Um recomeço.

A promessa de infância, feita entre flores e gargalhadas, agora era um pacto entre dois corações adultos. Um novo começo. E talvez, apenas o primeiro capítulo da vida que sempre foi deles por direito.

O amor, afinal, não esquece o caminho de casa.

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Comments

Raimunda Serra

Raimunda Serra

ah que lindo ela sempre falava que ia casar com ele um amor de criança se tornou realidade lindo ❤️💖😍💖 parabéns autora ❤️

2025-07-02

3

Jocemira Castro

Jocemira Castro

O amor 💘 de infância se transformou em amor eterno /Heart//Heart//Heart/

2025-07-02

1

Abreu Ana

Abreu Ana

aí meu Deus d lindeza esse amor, puro, inocente, q cresceu jto 🥰🥰🥰

2025-07-07

0

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