A brisa que soprava pelas enormes janelas da mansão parecia zombar de Aurora. Suave e livre, diferente dela. Sentada diante do espelho ornamentado, os olhos perdidos no próprio reflexo, ela mal reconhecia a jovem de cabelos dourados presos em um coque perfeito, maquiagem impecável e o vestido de noivado mais caro da vitrine parisiense. Tudo nela gritava beleza e sofisticação — menos os olhos. Ali, havia apenas silêncio. E medo.
— Você está linda, querida. — A voz doce da madrasta, Clara, ecoou atrás dela como um sussurro envenenado.
Aurora não respondeu. Estava acostumada com os elogios falsos de Clara, que se tornaram frequentes desde que sua mãe morreu e o pai decidiu se casar novamente. Clara era perfeita demais, controlada demais, sorridente demais. Tudo nela parecia ensaiado.
— Está na hora — continuou a mulher, ajustando o véu que descansava sobre os ombros da enteada. — Vinícius está esperando para o ensaio da cerimônia. Ele está... encantado com você.
Vinícius.
A simples menção do nome causava calafrios em Aurora. Ele era bonito, sim. Rico, influente, educado. Mas nos olhos dele havia algo que ela não sabia nomear. Um tipo de ambição fria, somada a um desejo possessivo que a fazia sentir como uma moeda de troca.
O casamento era uma aliança empresarial. O pai de Aurora, o poderoso empresário Alexandre Delgado, queria unir sua empresa à holding de Vinícius Barreto. Negócios, lucros, poder. Aurora era apenas a peça final no tabuleiro de um jogo que ela nunca quis jogar.
— Eu não quero me casar com ele. — A voz saiu fraca, mas firme. Era a primeira vez que dizia isso em voz alta.
Clara congelou por um segundo, depois soltou uma risada baixa, elegante.
— Aurora, querida… esse casamento é maior do que você. É sobre legado. Família. Você é uma Delgado, e esse é o seu dever.
— Não é dever... é prisão — rebateu a jovem, levantando-se com a respiração acelerada. — Eu não amo Vinícius. Ele me assusta.
Clara se aproximou, séria agora. Os olhos castanhos escureceram.
— Você está sendo infantil. Seu pai já decidiu. E, sinceramente, não vejo onde está o problema. Você terá tudo. Viagens, joias, status. Vai viver como uma rainha.
— Mas não serei livre.
— Liberdade é um luxo perigoso, minha querida — sussurrou a madrasta. — E às vezes, quem busca liberdade encontra apenas o vazio.
As palavras ficaram no ar como uma maldição. Aurora saiu do quarto apressada, os saltos ecoando pelos corredores da mansão. Desceu a escadaria principal como se fugisse de uma sentença de morte. Precisava pensar. Precisava respirar.
Na estufa do jardim, entre as orquídeas que sua mãe cultivava antes de morrer, Aurora encontrou abrigo. Aquele era o único lugar onde sentia que ainda havia algo dela mesma. Tocou uma flor branca, os olhos marejados.
— Mãe… o que eu faço? — sussurrou.
Como resposta, ouviu passos atrás de si. Era Rafael, seu irmão mais novo, o único que ainda tentava defendê-la.
— Vai fugir de novo? — ele perguntou, sério, mas com um traço de preocupação no olhar.
— Se eu soubesse para onde, sim. Não aguento mais essa casa, Rafael. Nem esse casamento. Sinto que estou morrendo aos poucos.
— Papai vai te deserdar se souber. E você sabe que Clara vai fazer de tudo para te afastar se desobedecer.
— Que façam. Prefiro perder tudo a perder a mim mesma.
Rafael suspirou, olhando em volta como se temesse que alguém estivesse ouvindo.
— Tenho ouvido coisas estranhas sobre o Vinícius. Pessoas que sumiram. Empresas que quebraram depois de se aliar a ele. Acho que tem algo errado nesse acordo, Rô. Mas papai está cego pela ganância.
Aurora o abraçou com força, grata por não estar completamente sozinha.
Naquela noite, enquanto todos dormiam, Aurora olhava o céu pela janela. Um raio cortou o horizonte, seguido por trovões distantes. Pressentia que algo ruim se aproximava — ou talvez já estivesse ali, bem ao seu redor.
E no dia seguinte, enquanto a família se dirigia para uma cerimônia simbólica em um hotel afastado nas montanhas, Aurora observava as árvores pela janela do carro. A floresta parecia chamá-la. Como se prometesse refúgio. Ou talvez, destino.
Na curva mais alta da estrada, algo aconteceu. Um estrondo. Um grito. Vidro estilhaçado. E então... escuridão.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Salete Michels de Gracia
Não estou conseguindo parar de ler kkkk
autora pq vc não colocou a idade dos protagonistas??
2025-07-09
1
Baby MinMin <3
A autora(a) tem muito talento, essa história é viciante!
2025-07-02
1