📖 Capítulo 2
O sol já estava alto quando Giulia terminou de organizar os últimos itens em sua mala. Sentia o estômago apertado, não pelo medo da viagem, mas pelo que precisava fazer antes de embarcar: olhar nos olhos dos filhos e contar que estava indo embora por um tempo — e que era uma decisão definitiva.
Vestiu-se com simplicidade, mas com um toque de elegância que nunca abandonara. Colocou um lenço azul claro no pescoço — presente da filha, há alguns anos — e saiu de casa com o coração pulsando em um ritmo novo.
Ela foi primeiro à casa do filho mais velho, André. Casado, pai de dois, vivia imerso no mundo dos negócios. Mesmo assim, ao vê-la na porta, abriu um sorriso sincero.
— Mãe? Que surpresa! Entra.
Ela entrou, respirando fundo. Olhou para os netos, jogando no chão da sala, e o coração deu uma leve estremecida. Mas não havia mais volta.
— Filhinho… vim aqui porque preciso te contar algo.
— Aconteceu alguma coisa? — ele franziu a testa.
— Não. Ou talvez sim. Eu decidi viajar.
— Viajar? Agora?
Ela assentiu, serena.
— Há dois anos eu tento sobreviver a uma dor que não passa. A morte do seu pai… você sabe o quanto me destruiu. E eu me perdi tentando continuar a vida. Mas agora… eu preciso ir.
André a encarou em silêncio. Viu firmeza em seus olhos. Viu também dor. Mas havia algo novo ali: um brilho suave, quase imperceptível.
— Vai pra onde, mãe?
— Itália. Toscana. Uma vila chamada Monteverdi. Quero paz. Quero silêncio, mas um silêncio diferente… um que me permita me ouvir de novo.
Ele não discutiu. Apenas a abraçou. Forte. Demorado.
— Se é isso que seu coração pede, então vai. Mas promete que vai se cuidar?
— Prometo. E vou ligar, sempre.
—Saindo dali, seguiu para a casa da filha, Bianca Ela era mais sensível, e Giulia sabia que o impacto seria maior.
— Mãe, está linda hoje. Mas por que essa cara de despedida? — Bianca perguntou, antes mesmo que ela dissesse qualquer coisa.
Giulia sorriu com ternura.
— Porque é mesmo uma despedida, minha filha.
— O quê?!
— Eu estou a ir embora. Itália. Preciso respirar. Preciso reaprender a viver.
—Bianca tentou argumentar, segurou as lágrimas, mas no fundo... ela sabia. A mãe precisava disso. Precisava muito mais do que a presença física de quem a ama — precisava da presença dela mesma em sua própria vida.
Elas se abraçaram longamente. Bianca chorou. Giulia também. Mas quando saiu dali, o coração já estava mais leve. As despedidas haviam sido feitas. E agora era hora de seguir.
Horas depois, Giulia estava no aeroporto de Guarulhos. A mala seguia à frente, silenciosa, como um fiel companheiro de jornada. Ela observava tudo com olhos atentos, como se visse o mundo pela primeira vez em anos.
Fez o check-in, passou pela imigração, e caminhou até o portão de embarque. Não levou muitos pertences. Levava livros, um caderno, uma nécessaire com o perfume favorito de Daniel, e um colar que ele lhe dera em seu último aniversário juntos.
Enquanto o avião decolava, ela segurou o braço da poltrona com força. Fechou os olhos. Era como se uma porta estivesse sendo trancada dentro de si — e outra, desconhecida, estivesse se abrindo.
Depois de doze horas de voo e uma conexão em Roma, o avião finalmente pousou em Florença. A cidade a recebeu com céu limpo, brisa suave e uma luz dourada que fazia tudo parecer tirado de um sonho.
Ao sair do aeroporto, sentiu o ar diferente. Mais leve. Mais doce. Os sons da língua italiana ao redor a reconectavam com memórias de infância, da avó contando histórias enquanto trançava o cabelo dela.
Pegou um táxi. O motorista, simpático, puxou conversa. Ela respondeu pouco, ainda envolta numa mistura de cansaço e emoção.
— Monteverdi? É um lugar muito bonito — disse ele. — Silencioso, pequeno… bom pra quem quer paz.
Giulia sorriu pela primeira vez em muitos meses.
— É tudo que eu quero.
Enquanto o carro seguia pelas estradas que serpenteavam entre colinas verdes e campos dourados, ela apoiou a testa na janela. Sentiu os olhos marejarem, mas não de dor.
Era alívio. Era recomeço.
E mesmo sem saber o que a esperava naquela vila escondida entre vinhedos e pedras antigas… ela sentia que finalmente estava viva outra vez.
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Atualizado até capítulo 34
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