QUANDO TE ENCONTREI...

"Quando o seu destino já é traçado, não adianta fugir dele dando voltas e mais voltas, por que num simples cruzamento, ele te encontrará!"

...PASSADO....

Naquela tarde, eu estava com vontade de ir ao parquinho perto de casa. Meu pai ainda não queria sair, estava muito abatido desde a cerimônia, e minha Tia Kathy estava ocupada guardando algumas coisas da mamãe na casa dela, que ficava do outro lado da vizinhança. Então, decidi ir sozinha, pedi permissão ao papai e ele acabou deixando.

Fiquei feliz porque não era longe, nem perigoso. Ele parecia tão cansado que talvez até tenha achado bom eu sair um pouco.

Enquanto caminhava, me lembrei dos piqueniques que costumava fazer com a mamãe no fim da tarde. Era o meu momento favorito com ela, sempre estendíamos um pano xadrez no chão, cheio de coisas gostosas pra comer, e ficávamos deitadas olhando o céu. O melhor era assistir ao pôr do sol. A visão era mágica, quase como se o céu pintasse um quadro novo só para a gente.

— O sol tá indo embora pra onde, mamãe? — eu perguntei beliscando uma uva.

Ela ria e começava a explicar sobre como o sol se escondia pra dar espaço pra lua. Eu nunca entendi direito, mas isso não importava. Pra mim, o sol estava apenas dando "Tchau" enquanto a lua e as estrelas vinham com o seu brilho dizer "Olá". Eu gostava de imaginar que eles eram amigos brincando de se revezar pra falar comigo.

Mamãe me ensinou tantas coisas sobre o céu. Ela sempre dizia que o céu era como um grande mapa, cheio de histórias e segredos, dizia que cada estrela tinha uma razão para estar lá, que todas brilhavam para nos contar algo.

Um dia, enquanto estávamos deitadas na grama, ela apontou para cima e falou com a voz doce que só ela tinha:

— Tá vendo ali, Allison?

Eu franzi a testa, tentando enxergar através da escuridão. Mamãe segurava minha mão, guiando-a com o dedo para o lugar certo. Demorei um pouco, mas, quando finalmente vi, meu coração quase saltou de alegria.

— Tô vendo, mamãe!! — exclamei, fascinada com o brilho daquelas estrelas.

— Aquele é a constelação de Escorpião! — explicou, com um sorriso cheio de orgulho.

Os olhos dela brilhavam mais que qualquer estrela naquela noite. Foi como se ela tivesse compartilhado um segredo que só nós duas poderíamos entender.

Desde então, toda vez que olhava pro céu à noite, a primeira coisa que procurava eram aquelas estrelas. Era como se a constelação de Escorpião fosse um pedacinho dela que ficava lá em cima, sempre esperando para me dar um abraço luminoso.

Agora, mesmo sem ela, eu sabia exatamente onde procurar. A lembrança de sua voz suave e do toque de sua mão ainda estava viva em mim e todas as noites, enquanto o céu se iluminava, eu olhava para aquelas estrelas e sentia como se mamãe ainda estivesse comigo, contando suas histórias e me ensinando a enxergar a beleza do mundo.

Foi tudo tão especial.....

[...]

Ao chegar no parquinho, sentei em um dos balanços. O lugar estava quieto, algumas crianças brincavam longe. Fechei os olhos e deixei o vento balançar o meu cabelo, senti o vento frio da tarde.

Não havia sol se pondo ainda mais na minha memória, ele já estava lá, colorindo o céu só pra gente. Era como se eu pudesse ouvir a voz dela de novo, quase conseguia ouvir a risada da mamãe, como se ela ainda estivesse ali comigo, segurando o balanço para me empurrar mais alto.

Meu peito apertou de saudade, o céu começava a mudar de cor e isso me confortou. Era como se ela estivesse mandando o pôr do sol como um abraço e que ao cair da noite, iria contar histórias sobre as estrelas para mim novamente.

As lembranças dela me traziam uma mistura de conforto e tristeza, como se ela estivesse ali e, ao mesmo tempo, muito longe.

— Ora, ora, vejamos o que temos aqui! — Ouvi uma voz familiar.

Levantei o olhar e vi um grupo de quatro garotos parando na minha frente com sorrisos maldosos no rosto.

— Essa não é a garotinha que fica chorando na escola, não é? — Disse um dos garotos cruzando os braços.

Meu peito apertou.

Eu os conhecia, eles faziam bullying com as crianças menores da escola. Normalmente, eu conseguia evitá-los, mas ali, sozinha no parquinho, não havia para onde fugir.

— O que vocês querem? — perguntei, tentando soar mais firme.

— Esse parque é nosso, sabia? — disse o garoto que parecia ser o líder deles dando um passo à frente. — Você não pode brincar aqui, chorona!

Ele tinha cabelo loiro, de um tom tão vivo que parecia dourado ao sol. Seus fios caíam na testa bagunçados e suas roupas estavam largas no corpo magro. Ele vestia uma camisa cinza do Homem de Ferro, mas ela parecia grande demais, quase caindo nele.

— Esse parque não é seu! — digo sentindo a minha garganta seca de raiva, imediatamente seguro minha boneca de pano com mais força.

Os outros meninos riram, como se eu tivesse contado uma piada. O loiro inclinou a cabeça de lado, olhando para a boneca.

— O que é isso ai? — perguntou, esticando a mão.

— Nada que te interessa!— respondi, me afastando, dando passos para trás.

Ele avançou mais rápido do que eu esperava e agarrou o pé da boneca antes que eu pudesse reagir.

— Solta! Ela é minha! — gritei, puxando a boneca pelo braço de volta mas ele puxou com mais força e nesse esforço de vai e volta, o braço da boneca começou a rasgar.

Assustada com o som do tecido se partindo, meu coração disparou, aquela boneca era a única coisa que me restava da mamãe e eu a soltei imediatamente com medo de danificá-la mais.

Meus olhos se encheram de lágrimas, mas limpei-as rapidamente, não queria que eles me vissem chorando.

— Ela me pertence! Devolve a minha boneca! — gritei desesperada.

O menino ergueu a boneca, balançando-a como um troféu para si mesma.

— Isso é uma boneca? — ele debochou, levantando a boneca no ar para os outros verem. — Parece mais um brinquedo do lixo! — Seus amigos riram alto, como se ele fosse o mais engraçado do mundo.

Minha mãe tinha feito aquela boneca pra mim, com tanto carinho, ela não era lixo era o pedaço mais precioso dela que eu ainda tinha.

Eu dei um passo à frente, tentando pegá-la de volta.

— Não é lixo! — Gritei.

Eu avanço pra cima dele mais ele foi mais rápido e me empurra com força, eu vou perdendo o equilíbrio e caio no chão. Senti a grama seca arranhar minha perna, doía e ardia, meu vestido de bolinhas pretas estava agora todo sujo de terra mas eu não me importei com isso, tudo o que eu queria era recuperar a minha boneca de volta.

Minha cabeça girava de raiva e tristeza. Tudo que eu queria era que ela estivesse aqui agora, para me proteger, para segurar minha mão e dizer que tudo ficaria bem mais ela não estava, e eu precisava enfrentá-los sozinha.

— Me devolve!! — gritei de novo.

Eu não deixaria que tirassem mais nada de mim, não agora.

Foi então que um dos outros garotos, que parecia um pouco mais velho, soltou algo que fez meu peito apertar ainda mais.

— Ainda bem que aquela bruxa morreu!

Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Minha mãe não era uma bruxa! — gritei, sentindo minha voz tremer.

Ela não era! Como podiam falar algo tão horrível?

Senti meu peito arder, meu rosto ficou quente.

— Minha mãe não era uma bruxa! Ela NÃO ERA! — gritei novamente com a voz tremendo.

Não vou deixar que eles falem dela assim!

Eu queria levantar mas minhas pernas pareciam presas no chão, queria gritar, mas minha garganta doía de tanto segurar o choro, segurei os punhos com força. Senti como se algo dentro de mim estivesse prestes a explodir, meu peito queimava e lágrimas quentes desceram pelo meu rosto, mas não era só tristeza, era raiva, muita raiva.

O garoto loiro riu, virado para os outros balançando a boneca novamente, os outros fizeram coro das minhas palavras, rindo e zombando de mim.

Aproveito que ninguém estava prestando atenção em mim naquele momento, minhas mãos procuram algo no chão, qualquer coisa. Meus dedos encontraram uma pedra, pequena mas pontuda.

— Parece uma boneca de vuldo! — Continuavam rindo.

Segurei-a firme enquanto me levantava, ignorando a dor na perna e o peso das lágrimas.

Eu não me importava com o vestido sujo, nem com o medo que sentia. Tudo o que eu sabia era que precisava pegar minha boneca de volta. Ela era tudo que eu ainda tinha da minha mãe, e eu não ia deixar ninguém tirá-la de mim.

Olhei para o garoto loiro, que segurava minha boneca com um sorriso cruel.

Você vai pagar!

Eu estava pronta para avançar, mas antes que pudesse dar o primeiro passo, uma voz surgiu, cortando o ar.

— Já chega, George! Devolve pra ela! — disse um garoto estranho, aparecendo de repente e se colocando entre nós.

Fiquei paralisada, pisquei confusa.

Estava ficando doida? Um garoto... veio me defender?

George bufou, mas não soltou a boneca.

— Ela é só uma chorona! — disse ele rindo.

— Porque você tá sendo um idiota?— Perguntou o menino cruzando os braços.

— Quem você pensa que é? — perguntou um dos garotos do grupo, estreitando os olhos.

— Alguém que não gosta de covardes — respondeu o menino impaciente. — Devolve a boneca agora!

Os outros garotos ficaram em silêncio por um momento, trocando olhares incertos. Algo no tom dele fez os outros garotos hesitarem, até George pareceu surpreso, ele olhou para o garoto, depois para mim, e eu percebi que minhas mãos ainda estavam tremendo ao segurar a pedra.

Será que eu podia confiar nele? Ou será que isso era outra armadilha? Eu deveria agir agora?....

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Comments

Kieran

Kieran

Não consigo parar de ler, estou vidrada na história!

2025-06-29

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