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🚗 “Entre Sabores e Silêncios”
O carro de Gabriel era escuro por dentro, silencioso por fora. O motor deslizava pelas avenidas da cidade ao entardecer, e o céu, tingido de dourado e roxo, parecia cúmplice da tensão que se acumulava no banco do passageiro.
Maria entrou com naturalidade. Vestido preto, simples e ajustado, a douma feminina por cima, cabelo preso de forma desleixada — que só deixava tudo mais perigoso. O perfume dela preencheu o carro antes mesmo do motor ligar.
— Cinto, por favor — ele disse, baixo.
Ela clicou o cinto, depois cruzou as pernas com calma.
— Nunca imaginei que ia jantar numa cobertura por causa de um risoto improvisado — comentou, sorrindo.
— Não foi só pelo risoto — ele respondeu, sem pensar.
Silêncio. Longo demais.
Gabriel tossiu discretamente e completou:
— Sua disponibilidade de horário também contou. E… sua desenvoltura.
Ela sorriu de lado, olhando pela janela.
Ele dirigia firme, mas os dedos estavam tensos no volante.
— Você tem alguém? — soltou, rápido demais.
— Digo… namorado, marido… parceiro.
— Pergunto porque, bem… compromissos assim às vezes dificultam esse tipo de evento. Flexibilidade de agenda, viagens, eventos noturnos...
Maria olhou pra ele. Devagar.
— Está me perguntando sobre minha vida amorosa por razões logísticas, então?
Gabriel deu um meio sorriso, cínico.
— Logística é essencial em qualquer equipe.
— Hum.
— Então, pela logística... estou solteira.
Ele apertou o volante. Olhos fixos à frente.
— Mas… não desocupada — ela completou, tirando da bolsa um gloss vermelho e passando com calma no lábio inferior.
O mesmo vermelho de antes.
Mais denso agora.
Na chegada ao prédio, o porteiro já os esperava.
Gabriel saiu primeiro. Contornou o carro e abriu a porta para ela — um gesto formal, frio… até ela sair do veículo.
O vestido colou nas coxas quando ela se levantou. O tecido subiu um pouco, revelando pele.
O cabelo solto balançou e o batom brilhava como pecado.
Eles atravessaram o saguão sob olhos discretos e entraram no elevador espelhado.
No reflexo: os dois.
Tão perto.
Tão impossivelmente longe.
Gabriel virou o rosto para ela.
— Você… — ele disse, baixo.
— Está com…
Ele tocou o canto da boca dela com o polegar, limpando o que pensava ser um borrado de batom.
Erro fatal.
O gloss manchou o dedo dele.
Mas não saiu da boca dela.
Era daqueles que grudam.
Maria olhou para ele com um sorriso doce.
— Fixador extremo. Zero transfer.
Gabriel encarou o próprio dedo manchado.
— Ótimo — murmurou, mais para si do que para ela.
Então: luzes apagadas.
O elevador parou. Um leve tranco.
Tudo ficou escuro, exceto pelo botão de emergência piscando em vermelho.
— Queda de energia — disse ela, calma.
— Isso acontece? — ele perguntou, tenso.
— Às vezes. O prédio é antigo. Vai levar uns minutos.
Silêncio.
O espaço entre eles parecia se estreitar.
Maria tirou os sapatos, sem cerimônia.
— Sério? — Gabriel perguntou.
— Calcanhares matam mais que pressão arterial — respondeu ela, encostando-se na parede do elevador.
— Já que vamos esperar, vou aproveitar.
Ele observou.
Demais.
Os pés descalços. O vestido subindo sutilmente nas coxas.
O batom ainda perfeito.
A boca que ele não conseguiu apagar.
O elevador chiou. O tempo parou.
— Você está desconfortável, Chef? — ela perguntou, com a voz baixa, carregada de algo entre ironia e curiosidade genuína.
— Eu…
— Estou perfeitamente sob controle.
Ela sorriu.
O elevador, por enquanto, não subia.
Mas a temperatura, sim.
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🔥Do Escuro Não Se Foge"
O elevador manteve-se parado.
Luz vermelha piscando. Nenhum som além da respiração dos dois.
Então — um estalo.
Um chiado mecânico.
A luz se apagou de vez.
Escuridão total.
Maria soltou um pequeno suspiro, entre surpresa e nervosismo. E, antes que pudesse pensar…
ela se agarrou em Gabriel.
As mãos foram direto ao peito dele, os dedos apertando a camisa. O corpo colado, instintivo, urgente.
— Desculpa — ela sussurrou, colada a ele. — Foi reflexo.
— Eu… não gosto de escuro total. Dá uma sensação de…
Ela parou.
Porque sentiu.
O peito dele estava rígido, sim.
Mas mais abaixo…
também.
O quadril dele firme.
A ereção inegável.
E latejando contra o vestido dela.
Maria congelou.
Mas por um instante, não se afastou.
Gabriel manteve os braços abaixados. O rosto tenso, como se lutasse contra o próprio corpo.
— Está tudo… sob controle — ele murmurou. Mas a voz saiu mais rouca do que devia.
Mais densa.
— Tem certeza? — ela sussurrou, sem se mover. O corpo ainda contra o dele.
A mão dela subiu levemente no peito dele, quase em carinho, quase em teste.
Ele inspirou fundo. Os dedos dele se contraíram nas laterais.
Mas não a tocou.
Ainda não.
— Você deveria… se afastar — ele disse, baixo, como se cada palavra doesse.
Maria encostou o queixo no ombro dele, sem pressa.
Sussurrou junto à orelha:
— Então por que não me afasta, Chef?
A escuridão rugia ao redor deles.
O cheiro do perfume dela.
A respiração pesada dele.
O batom ainda intacto.
Ela recuou só um pouco. O suficiente para roçar os lábios — não nos dele — mas na mandíbula tensa.
A pele quente. A barba rala.
Gabriel fechou os olhos.
Ele estava no limite.
E ela sabia.
Então, com um apito súbito e quase cruel: a luz voltou.
O elevador tremeu e voltou a subir.
Maria se afastou com calma, ajeitando o cabelo.
Fez um biquinho provocador no espelho e reaplicou o gloss.
O mesmo.
Inabalável.
— Acho que agora está tudo sob controle — disse, sorrindo.
Gabriel não respondeu.
Só encarou o próprio reflexo.
E viu um homem prestes a perder a razão.
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Atualizado até capítulo 37
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