Capítulo 02

\_Stella\_

Desde que me lembro, a minha casa sempre transbordou afeto. Mamãe e meu pai são inseparáveis – não por acaso, os guardiões comentam que, se algum dia se afastassem por mais de uma hora, o mundo entraria em colapso – ou, ao menos, os nossos nervos. Tenho dezoito anos, uma rotina tranquila, mas também um segredo: a minha loba interior ainda dorme...

Só os meus pais e os meus tios sabem. Segundo a minha mãe, foi justamente o anúncio da minha chegada que atiçou a fúria de Lúcifer – o meu "avô" segundo os meus pais, ele foi pai do meu pai numa vida passada. No dia em que nasci, abriu-se uma fenda perto da Barreira... Então o alfa e o supremo ergueram uma ponte de contenção. Nada como nascer sob efeitos especiais dos deuses!

Apesar do sangue incomum que corre nas veias, a minha grande paixão não envolve espadas nem luas vermelhas, mas placas de vídeo e campeonatos on-line. Quero ser jogadora profissional, daquelas que ganham troféus e patrocínio… enquanto comem pipoca na frente do monitor.

Rize é um lugar agradável, se ignorarmos a minoria que acha graça em atormentar quem carrega um sobrenome importante. Savannah, por exemplo, adora transformar o corredor da escola num ringue pessoal. Felizmente, a minha prima Analice – carisma de tempestade e punho de trovão – costuma resolver essas situações antes que eu precise abrir a boca...

Hoje ela quase colocou a filha de um ancião no bolso. Resultado: castigo imediato decretado por tia Anastácia. Enquanto eu me despedida na saída, tia Ana soltou um suspiro teatral:

— Esta sua prima ainda vai me levar à loucura, Stella… — Falou ela olhando com um olhar aguçado para o portão da escola...

— Mamãe mandou dizer que espera a senhora hoje à noite, tia.

Analice entrou no carro com a expressão de quem acabou de engolir um limão inteiro e tia Ana logo ergueu as sobrancelhas.

— Avise a sua mãe que passo amanhã cedinho. Tenho uma conferência com algumas… entidades inquietas.

Fez-me um rápido carinho e partiu em direção ao castelo. Peguei o caminho de casa imaginando se, um dia, conseguiria a metade da firmeza daquela mulher... Tia Anastácia era admirável, tanto em força, quanto em convicção.

[...]

Momentos depois...

Empurrei a porta e quase escorreguei na cena de sempre: papai e mamãe trocando beijos de cinema bem no centro da sala.

— Por favor, vocês dois — murmurei, depositando a mochila no sofá.

— Mocinha, mochila no quarto! Agora — replicou minha mãe, Amara, erguendo um dedo impetuoso. — Depois sou eu quem arrumo esta bagunça.

Meu pai – Alec, o mesmo que já moveu montanhas ao simples estalar de pensamentos – contornou-a e a abraçou pela cintura:

— Calma, minha loba estelar. Não transforme a menina em pó cósmico...

Revirei os olhos, mas obedeci, antes de lembrar o recado:

— Tia Ana avisou que não pode vir hoje. Compromisso urgente...

Mamãe suspirou fundo, mas não perdeu o humor:

— Eis o pagamento por ficar nesta alcateia – uma irmã que me troca por papéis burocráticos... Eu devia ter seguido o meu plano inicial.

Papai inclinou a cabeça e perguntou curioso:

— Plano?

— Raptar você para o outro lado do mundo numa caixa de madeira. Se fosse obediente, eu acrescentaria furos de ar na caixa e agradeça, pois eu estaria sendo piedosa.

Ele se afastou um passo, teatralmente alarmado e falou galanteador:

— Já disse que o seu espírito diplomático me encanta?

— Encanta ou apavora?

— Um pouco dos dois — respondeu ele, arrancando-lhe uma gargalhada.

—A mim só apavora! — Reverberei fazendo com que minha mãe me olhasse feio.

— A sua mãe não tem um pingo de dó de mim, filha. Ontem ela apareceu com um saco de cimento e disse: “Amarra isso na cintura e passa o dia inteiro com ele, só assim vai entender o que é gerar uma criança!” — meu pai então fez uma pausa dramática. — Quase chamei reforço do clã achando que era um ritual antigo de tortura!

A cena que eu imaginei me fez sorrir. Pouca gente imagina que esse casal poderia, num surto conjunto, evaporar metade do planeta. Ela, última das lobas milenares criadas do choque de estrelas; ele, herdeiro do poder do Leviatã e – dizem – ex filho favorito de Lúcifer.

[...]

No meu quarto...

Guardei a mochila, liguei o PC e entrei no meu universo de pixels.

Meu nick: Ravena_xt5. O dele: Exterminador_xt7. Ele nunca me contou o nome verdadeiro; então sigo a regra. Disse que moro no Texas, informação que obtive em uma busca rápida no mapa humano mais conhecido como Google maps.

Exterminador era o nick do cara que eu conversava pelo jogo, ele era simpático, engraçado e muitas vezes um calmante no final do meu dia turbulento.

Ele sabia sobre o bullying que eu sofria na escola (Só não falei o motivo real) pois não queria assustar o meu único amigo humano. Mas nós conversávamos sobre tudo!

Ele me contava as constantes cobranças que sofre do pai, a comparação com o seu irmão mais velho e eu como uma boa colega tento fazer ele se sentir melhor com comentários leves nas horas das partidas.

No início eu achei o seu Nick engraçado demais, porém quem sou eu pra julgar né?

Mais sério, Exterminador?

Hoje nós vamos jogar squad com uns amigos do Exterminador. Junto dele estavam Erick_cx e Ellie_§. Apertei o fone; a voz dele sempre soava como café quente em noite fria...

— Galera, esta é a Ravena — anunciou. — A melhor jogadora que conheço.

— Assim vai magoar a Nanda, hein — provocou Erick.

— Meu ego sobrevive — respondeu Ellie, sorrindo.

O nome dela deve ser Fernanda, ou Ellie Fernanda... Eu não soube sibilar.

Erick insistiu:

— Ravena, diz aí o seu nome verdadeiro.

Meus dedos congelaram, mas para a minha sorte o Exterminador interveio antes que eu tropeçasse:

— Relaxa, Erick. Nem todo mundo curte revelar identidade...

Senti um arrepio agradável.

— Pelo timbre, deve ser linda — continuou Erick.

— Próxima cantada sai do time — rosnou meu colega Exterminador.

O jogo começou, entre headshots e corridas... risadas ecoaram no chat, e no fim a vitória perfeita — nunca perco quando jogamos juntos.

Depois do game, ficamos a sós no canal.

— Você tem… que idade mesmo? — perguntou ele de repente me pegando de surpresa. Ele nunca havia perguntado nada do tipo antes...

— Dezoito e você? — perguntei um pouco nervosa...

— Dezenove— respondeu, num tom que soou um pouco casual demais para ele que até então não queria responder coisas simples, como o próprio nome.

Algo me dizia que havia mais a contar, mas não pressionei.

— Preciso dormir, amanhã acordo cedo.

— Boa noite, Cinderela… sonhe com a minha voz — arriscou, tropeçando nas próprias palavras.

Ri baixinho e respondi:

— Até mais, bobo.

Desliguei e fiquei girando na cadeira, olhando as estrelas adesivas coladas no teto, sentindo o coração bater rápido — não de medo das lendas sobre o meu sangue, mas de algo que nenhum treinamento de guerreiros ensina: a emoção simples de uma garota de dezoito anos que descobriu que tem alguém, lá fora, torcendo por ela.

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Curtem e comentem bastante ☺️❤️

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Continua…

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Comments

Ana Regina Fernandes Raposo

Ana Regina Fernandes Raposo

PORQUE TEM TANTAS HISTÓRIA QUE NÃO TEM COMO LER TUDO. ESTOU GOSTANDO RECOMENDO.

2025-06-29

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