"Pistas, Cartas e Cicatrizes”

Quando Liz saiu com a diretora do conselho tutelar, já não tinha mais esperanças. Não esperava nada de bom da vida. Cinthia havia conseguido quebrá-la por completo.

Liz passava os dias pedindo aos céus por um milagre. Desde pequena, implorava ao “Papai do Céu” para que a levasse até seu pai. Mas com o tempo, esse pedido foi silenciando em seu coração. Nos aniversários, o que desejava não era mais presentes, apenas uma resposta:

"Por que me abandonou? Por que me deixaram nascer, se não me queriam? Por que não fizeram logo o aborto?"

Andando de cabeça baixa, seguindo a diretora, Liz percebeu que ela havia parado. Ao levantar os olhos, ouviu:

— Eu vou colocar você em um bom lugar — disse a diretora, tentando transmitir tranquilidade.

— Obrigada — foi tudo o que Liz conseguiu dizer.

A diretora continuou:

— Vamos viajar para a Itália. Consegui uma vaga em um orfanato de lá para você — explicou, abrindo a porta do carro. Liz entrou em silêncio. — Você vai estudar lá mesmo. O lugar tem boas pessoas... logo você será adotada.

A mulher deu partida no carro e seguiu em frente, mas não deixou de lançar um olhar de lado para Liz. Seu semblante carregava uma tristeza profunda. Ela percebeu que a garota não derramava uma lágrima sequer, mas sofria em silêncio.

Olhando pela janela, Liz murmurou:

— Já teve vontade de morrer? Digo... de dormir e nunca mais acordar? Estou tão cansada... só queria dormir.

A diretora a olhou rapidamente, alarmada. Entendia o cansaço da menina, mas se preocupava com o que aquelas palavras podiam significar.

 

Com o passar das horas, no caminho, a diretora — chamada Mia — tentou distrair Liz, contando sobre sua vida. Falou sobre como se tornou diretora do conselho tutelar e de quantas crianças já havia ajudado. Sorria ao lembrar do marido e comentou sobre o problema que a impedia de ter filhos. Disse que estavam considerando adoção.

Mas, enquanto falava, Liz  permanecia em silêncio, sem qualquer reação.

Mia então parou o carro.

— Vamos almoçar? Estou morrendo de fome — disse, saindo do veículo.

Liz a seguiu devagar. Mia sorriu para ela, tentando transmitir alguma alegria. Entraram no restaurante. Mia fez seu pedido e o de Liz, que mantinha o olhar perdido pela janela.

Do outro lado do vidro, Liz observava um pai carregando a filha nos braços. Aquela cena simples fez seu peito doer ainda mais.

— Os policiais me entregaram esse envelope. Acho que é pra você — disse Mia, colocando o envelope sobre a mesa.

Liz o pegou e, sem abrir, o guardou no bolso do moletom que havia ganhado de Cinthia. Voltou a olhar pela janela.

Mia se levantou, dizendo que precisava fazer uma ligação, e foi até a área externa.

 

Na empresa, Caio e Lion estavam em uma reunião com novos sócios. O celular de Caio vibrou sobre a mesa. Lion fez um gesto discreto, permitindo que ele atendesse.

Caio se retirou e atendeu:

— Oi, amor. Está tudo bem? Como foi a viagem? — perguntou.

— Estou bem, sim, amor — respondeu Mia, suspirando cansada. — Ainda hoje volto para a Itália. Estou levando uma menina de 15 anos para o orfanato — disse com tristeza na voz.

Caio notou o tom de quase choro e se preocupou.

— O que aconteceu com ela? — perguntou.

— É só mais uma história triste... mas, dessa vez, a menina não está reagindo. Parou de falar. Estou com medo, Caio — confessou, enquanto olhava para Liz, que agora exibia um olhar completamente vazio.

Houve um breve silêncio.

— Está na hora, amor — disse Caio, referindo-se à adoção.

Mia não conseguiu conter as lágrimas de emoção.

— Vou desligar. Preciso alimentar nossa futura filha — falou sorrindo, olhando para Liz, que ainda não sabia de nada.

Após encerrar a ligação, Caio voltou para a sala. Lion se aproximou, curioso:

— Está tudo bem, amigo?

— Acho que já sou pai — disse Caio, sorrindo nervoso.

— Que bom. Espero ser padrinho, já que sou o pai da sua afilhada — respondeu Lion, com um sorriso triste, mas sincero pela alegria do amigo.

Antes que Caio pudesse dizer algo, Enzo entrou na sala com pressa.

— Tenho novidades sobre sua filha — anunciou, mostrando uma carta manuscrita.

— Essa letra... é daquela víbora — disse Lion, reconhecendo a caligrafia de Cinthia.

Eles entraram na sala de Lion. Enzo entregou a carta, e Lion começou a ler em voz alta:

> “Se essa carta chegou até você, meu querido Lion, então eu já estou morta. Hahaha.

Sim, fui eu quem matou sua amada esposa.

Sim, fui eu quem pegou sua queridinha filha.

Mas cuidei muito bem dela, viu? O meu objetivo era quebrar sua filha... e acho que consegui.

Hahaha.

Eu adoro ver você desesperado, correndo como um louco.

Só uma dica: sua filha deve estar por aí... em algum desses orfanatos espalhados pelo mundo.

Boa sorte, Lion. Você vai precisar.”

Ao terminar a leitura, Lion não se conteve. Derrubou tudo que havia na mesa e caiu de joelhos, chorando.

— Ela machucou minha filha... minha filhinha... — soluçou.

Caio se ajoelhou ao lado do amigo, colocando a mão sobre seu ombro.

— Nós vamos encontrá-la. Vamos dar trabalho para esse pai aí — disse, tentando animá-lo.

Lion então se levantou com o olhar firme. Encarou os dois amigos e declarou:

— Eu quero minha filha de volta. E vou encontrá-la, custe o que custar.

Enzo confirmou com a cabeça.

 

De volta ao restaurante, Mia retornou e viu Liz empurrando a comida no prato.

— Não gosta de frutos do mar? — perguntou, curiosa.

— Tenho alergia... também a nozes — respondeu Liz.

Mia chamou o garçom e pediu outro prato para a garota. Liz a olhou por alguns segundos, sentindo uma pontada no coração. Aquele gesto a aquecia por dentro, mesmo que tentasse se manter fria, lembrando que estaria sozinha de novo.

Após o almoço, seguiram viagem até o orfanato. Mia conhecia bem aquele lugar, tinha carinho por ele e sabia que Liz seria bem recebida — além de ser acompanhada por uma psicóloga.

 

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Comments

Maria de fatima Lucena

Maria de fatima Lucena

o livro está emocionante 💖

2025-06-28

1

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