A fogueira estalava baixo no centro do acampamento improvisado. Ao redor, a floresta do Eco Velado sussurrava palavras em línguas esquecidas, como se o próprio tempo estivesse curvado ali.
Zara assava raízes sobre uma pedra aquecida, enquanto Nyla desenhava um círculo no chão com cinzas e pó de cristal. Reigorr observava de longe, braços cruzados, de olhos fechados, como se sentisse algo familiar demais naquele lugar.
Irien estava inquieto. Havia um nó estranho em seu peito. Não era medo — era saudade.
Zara
— Não precisa fazer essa cara — disse Zara, mordendo um pedaço da raiz —, não vamos te machucar… ainda.
Nyla olhou para ela sem expressão.
Nyla
— Ele precisa entrar no Círculo. Se quiser despertar de verdade, tem que se encarar. De frente.
Iren
— Que tipo de ritual é esse? — Irien perguntou.
Zara se aproximou e apontou para o símbolo que Nyla acabava de terminar. Era um círculo imperfeito, com marcas cruzando o centro como rachaduras.
— Isso aqui é um Eco Fraturado. Uma memória do mundo. Ou da sua alma. Entra nele… e vai ver o que não quer lembrar.
Irien respirou fundo. Reigorr abriu os olhos — e fez menção de interferir, mas Nyla falou antes:
Nyla
— Se ele não conseguir... não estará pronto pro que vem depois.
Irien entrou no círculo.
O mundo ficou cinza.
As árvores sumiram. O som da fogueira cessou. A única coisa que existia era a névoa... e passos. Dois pares de passos.
Irien olhou ao redor. Não controlava o corpo. Estava mais alto… mais velho.
Do seu lado, uma voz:
Sombra
— Você sempre entra em silêncio. Nunca me avisa que está aqui.
Ele virou.
Uma garota negra de tranças douradas o encarava com um sorriso cansado. Seus olhos estavam cheios de tristeza, mas havia ternura neles.
Sombra
— Eu gosto de ouvir seu silêncio. Ele fala mais do que você imagina — respondeu uma segunda voz, mais distante.
Uma outra menina surgiu das sombras. Cabelos presos, olhar calmo. Ela tocou o ombro da irmã e depois olhou diretamente para ele. Para Kaien.
Nyla
— Quando você morrer, vamos lembrar. Sempre. E um dia… te acharemos.
Zara se aproximou
Zara
— Você salvou a gente. E esqueceu. Mas a alma… nunca esquece.
Kaien/Iriem tentou falar, mas o mundo começou a desmoronar. Estalidos, estilhaços, vento violento.
E então…
Irien arfou, abrindo os olhos. Estava no chão, com o círculo apagado ao redor e as mãos tremendo.
Zara estava ajoelhada à sua frente. Tocava seu rosto com os dedos sujos de cinza.
Zara
— Você lembrou, não lembrou?
Irien assentiu devagar. Lágrimas nos olhos.
Nyla apareceu atrás, agachando-se em silêncio. Tocou sua testa com os dedos gelados.
Nyla
— O elo está ativo. Agora você sente o que sentimos.
Reigorr caminhou até eles, silencioso, e olhou para Irien com um misto de preocupação e curiosidade.
Reigorr
— O que viu?
Irien respondeu, ainda atordoado:
Zara sorriu. Mas não era um sorriso provocador — era cheio de saudade.
Comments
Girl lạnh lùng
A autora escreve com tanta sensibilidade, me emocionou!
2025-06-25
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