O campo ainda fumegava quando Irien ergueu os olhos para o céu. O cheiro de carne espectral queimada se misturava à névoa densa que agora se recolhia às florestas.
Reigorr limpava o sangue escuro do machado. Seu olhar estava distante.
Reigorr
— Isso foi só o primeiro aviso — murmurou ele. — E já chegou longe demais.
Irien respirou fundo. Sua espada fragmentada havia sumido — mas sentia a energia ainda pairando ao redor, como se as memórias estivessem observando cada passo.
Iren
— Pra onde vamos agora? — perguntou, quebrando o silêncio.
Reigorr virou o rosto, olhos rubros cortando a penumbra.
Reigorr
— Para o norte. Há algo que você precisa ver. Mas antes… preciso deixar meu reino protegido.
⛰️ Dias depois – Portões de Obsidiana, Reino de Lirvath
As muralhas do reino demoníaco eram vivas. Escamas negras pulsavam como um organismo que respirava. Soldados de pele cinza e olhos infernais se curvaram quando Reigorr passou, mas Irien sentia os olhares desconfiados pousando sobre si.
Iren
— Eles ainda me odeiam — sussurrou.
Reigorr
— Eles odeiam tudo — respondeu Reigorr com frieza. — A si mesmos, ao mundo… e principalmente a mim.
No trono negro do salão central, um homem mais jovem os aguardava. Tinha traços semelhantes aos de Reigorr — os mesmos olhos rubis, mas sem os chifres. Seu corpo era coberto de placas prateadas, e sua aura era menos sombria… mas não menos perigosa.
Reigorr
— Arkael, meu irmão — disse Reigorr, parando diante dele. — Vou sair por tempo indeterminado. O trono é seu até meu retorno.
Arkael arqueou uma sobrancelha.
Arkael
— Isso é sobre ele? — seus olhos se viraram para Irien. — Ou sobre o que está voltando com ele?
Reigorr
— Ambos.
Houve um momento tenso. Mas Arkael assentiu.
Arkael
— Que os gritos do abismo te guiem, então. E tragam respostas.
🌫️ Na Floresta do Eco Velado – Fronteira com o Círculo de Névoa
A viagem foi longa. Árvores retorcidas, fungos que cantavam à noite, sombras que caminhavam sem corpos. Reigorr parecia guiado por instinto. Irien, cada vez mais inquieto.
Foi então que ouviram os sussurros.
— ...ele voltou...
— ...a alma quebrada...
— ...coração trino...
Irien parou. O ar ficou pesado. O som... parecia vivo.
Do nevoeiro, duas figuras surgiram em sincronia — idênticas, mas completamente opostas.
Uma usava tranças douradas e botas sujas de lama. A outra, coque alto e olhos frios como o silêncio.
Iren
— Vocês... são reais? — Irien murmurou.
A de tranças sorriu. A voz era firme, provocadora:
Zara
— Depende. Você é o mesmo que morreu aqui, séculos atrás?
A outra completou, com um tom calmo:
Nyla
— Se não for, não importa. Sua alma lembra. E isso basta.
Reigorr firmou o machado, desconfiado.
Reigorr
— Quem são vocês?
Zara
— Zara.
Nyla
— Nyla.
Nyla
— Guardiãs do Eco Distorcido — disseram em uníssono.
Zara
— Guardiãs do Eco Distorcido — disseram em uníssono.
Zara então deu um passo à frente, olhos âmbar brilhando com intensidade.
Zara
— Fomos enviadas para te encontrar, Irien. Ou melhor… Kaien.
Nyla
— E dessa vez — disse Nyla —, não vamos deixá-lo morrer sozinho.
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