O trem seguia seu caminho, embalando os dois no banco duro, onde nenhuma palavra era dita… mas muita coisa era sentida.
Yui tentava parecer tranquila. Olhava pela janela como se estivesse analisando o mundo, mas a única coisa que conseguia ver era o reflexo de Haruki.
Ele estava ali ao lado, os braços quase encostando, o olhar perdido em algum lugar entre os trilhos e os pensamentos.
Yui Tanaka
— Você tá sempre tão calado assim… ou é só comigo
Ela perguntou, com um sorriso meio nervoso.
Haruki desviou o olhar da janela e, por um segundo, seus olhos cruzaram os dela.
Haruki Sakamoto
— Eu só falo quando realmente quero dizer alguma coisa.
Yui riu baixinho, achando graça da resposta vaga. Mas quando olhou de novo, ele ainda estava olhando.
E não parecia brincadeira.
O silêncio entre os dois voltou, mas não era desconfortável.
Era um daqueles silêncios que parecem conter mais coisas do que as palavras conseguem dizer.
...
Depois de algumas estações, o trem estava quase vazio. Só os dois ainda juntos no mesmo banco, com o sol da tarde pintando o interior do vagão de dourado.
Haruki mexia no celular, mas parecia hesitar. Depois de um tempo, virou para Yui com um gesto tímido:
Haruki Sakamoto
— Posso te mostrar uma música?
Yui Tanaka
— Uma música?
Ele tirou um dos fones de ouvido e estendeu pra ela.
Ela aceitou.
A melodia era suave. Tranquila. Tinha algo de nostálgico, como um fim de verão.
Yui fechou os olhos por um momento, sentindo o som. Quando voltou a olhar pra ele, Haruki estava… sorrindo.
Um sorriso leve, pequeno. Mas real.
Yui Tanaka
— Você que compôs?
Haruki Sakamoto
— Aham. Mas nunca mostro pra ninguém.
Yui Tanaka
— Então por que pra mim?
Haruki deu de ombros.
Haruki Sakamoto
— Porque você escuta de verdade.
Yui sentiu o coração bater mais forte — aquele tipo de batida que parece vibrar na garganta, nas mãos, nos dedos.
...
O trem chegou à estação.
Quando se levantaram, os dois tiraram os fones ao mesmo tempo, e os fios se embaraçaram.
Yui riu e tentou se soltar.
Yui Tanaka
— A gente tá preso
Disse, tentando não parecer nervosa.
Haruki apenas puxou os fios com cuidado, até soltar.
Mas quando ela virou pra agradecer, ele estava ali
Tão perto que ela prendeu a respiração.
Haruki Sakamoto
— Foi legal... andar com você.
Haruki Sakamoto
— A gente devia repetir.
E antes que Yui pudesse responder, ele já estava descendo do trem com as mãos nos bolsos e o fone de volta no ouvido.
Ela ficou parada por alguns segundos, o coração acelerado e um pensamento martelando na mente:
Yui Tanaka
> “Haruki… não é só silêncio. Ele é música também.”
Comments