Rascunhos de Um Começo
A noite caiu silenciosa sobre a cidade de Shizuoka.
Em seu quarto pequeno, com as paredes cobertas por pôsteres de bandas e partituras coladas com fita, Yui Tanaka encarava seu caderno de músicas como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.
Ela o abriu com cuidado, as mãos ainda trêmulas. No canto da página anterior, a mesma frase piscava como uma piada cósmica:
> “Mesmo que você nunca me note, meu coração canta o seu nome em silêncio.”
Agora ele tinha notado. E confundido tudo.
Yui Tanaka
— Como isso aconteceu...?
Murmurou, deitada de bruços, o rosto afundado no travesseiro.
Haruki Sakamoto. Popular, bonito, sorridente… e completamente fora do seu mundo.
Yui mal conseguia falar direito perto dele, e agora ele estava pedindo que ela escrevesse uma música só pra ele?
Era como se tivesse sido colocada no palco de um show que nunca ensaiou.
No dia seguinte – Escola Fujihara, portão principal
O sol mal tinha subido, e Mika já estava à porta da escola, esperando Yui com um sorriso que misturava empolgação e caos.
Mika Arai
— Você vai escrever a música pra ele?!
Ela perguntou assim que Yui apareceu.
Yui Tanaka
— Eu... ainda nem sei o que responder. Eu mal conheço o Haruki...
Mika Arai
— E ele mal te conhece! Quer coisa mais romântica que isso?! É tipo destino!
Yui Tanaka
— Isso é um grande mal-entendido, Mika. Eu não queria que ninguém visse aquela letra...
Mika, no entanto, tinha outros planos. Ela pegou a mão da amiga e puxou com força:
Mika Arai
— Então é hora de você conhecer ele de verdade. Começando hoje.
Haruki chegou pontualmente pela primeira vez no semestre. Estava visivelmente nervoso, ajeitando a gravata a cada cinco segundos.
Quando viu Yui já sentada, parou ao lado dela, sorrindo de forma...
Haruki Sakamoto
— Bom dia, Tanaka-san!
Yui o olhou, surpresa com o tom formal. Ele raramente falava assim com alguém.
Haruki se inclinou para falar mais baixo:
Haruki Sakamoto
— Sobre a música... você não precisa fazer se não quiser. Só... achei muito legal você escrever aquilo.
Ela sentiu as bochechas queimarem. Quis dizer algo inteligente, mas tudo que conseguiu foi um aceno tímido.
Haruki Sakamoto
— Se quiser, posso... te contar sobre mim. Pra você ter material, sabe? Tipo... inspiração?
Yui piscou algumas vezes.
Yui Tanaka
— Você quer... me contar sobre você?
Haruki Sakamoto
— Acho que... seria uma boa troca. Você escreve músicas, e eu... posso ser seu "personagem", sei lá...
Yui, que sempre escrevia sobre sentimentos imaginados, ficou em silêncio. Pela primeira vez, alguém queria participar da criação. E, estranhamente, isso parecia... certo.
Ela fechou o caderno e olhou diretamente nos olhos dele.
Yui Tanaka
— Tudo bem. Mas... só se não for correndo.
Yui Tanaka
Quero te conhecer... devagar.
Haruki sorriu. Um sorriso torto, quase infantil.
Haruki Sakamoto
— Devagar é meu segundo nome.
Mika, observando de longe, derrubou seu suco de caixinha no colo de tanta empolgação.
Mika Arai
— MEU DEUS! ELES ESTÃO ALMOÇANDO JUNTOS!! ISSO É UM SHIP NASCENDO AO VIVO!
Ao seu lado, Tomo Ishikawa — melhor amigo de Haruki e seu “rival auto-declarado” — bufou.
Tomo Ishikawa
— Esse idiota nem sabe o que está fazendo. Vai acabar escrevendo o nome dele errado na música...
Mika levantou a sobrancelha.
Mika Arai
— E por que você tá tão irritado com isso, hein?
Tomo Ishikawa
— Não tô irritado. Tô... analisando.
Mika Arai
— Analisando? Ou tá com ciúmes?
Tomo desviou o olhar, corando até as orelhas.
Tomo Ishikawa
— Cala a boca, Arai.
Jardim da escola, fim da aula
Yui e Haruki sentam no banco de pedra ao lado das cerejeiras. Ele começa a contar histórias bobas da infância:
Como já caiu de bicicleta na frente da escola, como odeia pimentão, e como aprendeu a tocar violão só pra parecer mais interessante (e falhou miseravelmente).
Yui ri mais do que esperava. Pela primeira vez em muito tempo, sente que talvez... só talvez, a vida real também possa render boas letras.
Ela abre o caderno, pega uma caneta, e escreve:
> “Notas tímidas começam a soar... quando os corações desafinam juntos.”
Comments