...O luto antes da morte...
Em 1984, Teresa já não era a jovem que chorava escondida na saia da mãe. Um ano de casamento havia se transformado numa prisão de portas trancadas por dentro e por fora.
A pressão por um filho crescia a cada visita da sogra, a cada vizinha curiosa, a cada olhar carregado de julgamento. Mas era dentro de casa que o peso esmagava mais.
Osvaldo a procurava quase todas as noites. O toque não era carinho — era cobrança, era invasão. Teresa se encolhia por dentro, com medo do parto, com medo do corpo, com medo dele.
E mesmo assim, engravidou.
Nos primeiros meses, teve medo. Chorou em silêncio, enquanto o ventre crescia sob as roupas largas.
Mas com o tempo, o bebê se tornou sua única esperança de amor.
O corpo que carregava em si era o único que não a feriria.
Ela começou a sonhar com o pequeno, com as mãos minúsculas, com a chance de proteger alguém — e, quem sabe, de ser protegida pela primeira vez.
Naquela noite, passava das onze. Ela adormeceu no sofá com um livro no colo, esperando Osvaldo.
Quando ele entrou, bêbado, as palavras vieram como lâminas.
— Você me espera lendo, é isso? Tentando ser melhor do que eu?
Ele arrancou o livro de suas mãos, viu a capa, gritou.
A palma estalou no rosto dela.
Teresa gritou. Pediu para ele parar.
Mas ele não soube ouvir.
Puxou-a pelos cabelos. A sala virou um campo de guerra.
Chutes. Socos.
Um golpe na barriga.
Outro.
Teresa parou de gritar. Fechou os olhos.
Rezou.
Protegeu a barriga como pôde.
Mas não foi suficiente.
Quando ele terminou, foi tomar banho.
Deitou e dormiu como se nada tivesse acontecido.
Ela ficou ali, no chão, com o sangue escorrendo pelas pernas.
Ligou para a mãe com dedos trêmulos.
— Mãe... vem me buscar.
Um médico da família foi chamado às pressas.
No hospital, veio a confirmação.
Teresa havia perdido o filho.
O filho que, no início, não quis...
Mas que aprendeu a amar com todo o corpo, com toda a dor.
Osvaldo disse que a culpa era dela.
— Você não me ama. Você não me respeita. Você matou nosso filho.
E Teresa acreditou.
As pessoas também acreditaram.
Ele era o marido. O advogado. O homem respeitável que “bebia demais, coitado, por causa da esposa difícil”.
Ela se calou.
Ele continuou bebendo.
Aos poucos, deixou de trabalhar.
Teresa, ainda se recompondo da perda, começou a trabalhar numa loja de tecidos. Vendedora. Silenciosa. Invisível.
Sustentava a casa. Sustentava Osvaldo.
E, à noite, quando voltava, ainda recebia tapas, insultos — e os beijos forçados que vinham depois.
Ela já não chorava.
O coração de Teresa estava duro.
Amargo.
Calcificado pela dor.
Osvaldo foi diagnosticado com cirrose um ano depois. O fígado apodreceu antes da alma.
E quando morreu, Teresa não chorou.
Não vestiu preto.
Não desabou.
Apenas murmurou para si mesma, no silêncio do quarto:
— Que sorte eu tive. Agora, talvez… eu consiga ser feliz.
Para os outros, era só mais uma viúva jovem.
Coitada.
Cinco anos de casamento. Tão nova. Tão sozinha.
Logo arrumaria outro, diziam.
Mas Teresa sabia.
Pela primeira vez, desde que dissera "sim", ela estava livre.
A canção que Aurora não sabia cantar
Aurora sorria.
Era uma mulher casada, mãe de um menino saudável e com outro bebê a caminho — uma menina.
O sonho de um casal de filhos se realizava.
Francisco fazia questão de mimar cada centímetro daquela felicidade: buquês de flores frescas pela casa, poemas deixados entre as páginas dos livros, presentes escolhidos com carinho.
Aurora dizia, para si e para todos:
— Eu sou feliz.
E talvez fosse.
Ou talvez só repetisse o que aprendeu a acreditar.
Aos domingos, iam à missa. Francisco era um homem de fé; ela, nem tanto. Mas gostava da ideia de estar ali com a família, de ver o filho em silêncio, de sentir a paz que o ritual trazia.
Foi numa dessas manhãs que ouviu, pela primeira vez, a voz dela.
A mulher que cantava tinha algo na voz que não cabia apenas no coral — havia calor, ternura, uma melodia que atravessava os muros do peito de Aurora.
Cantava como quem confessava.
Aurora passou a prestar mais atenção nos cantos do que nas pregações.
E depois, passou a ir à missa também nas terças, nas quintas... só para ouvir aquela voz.
Era uma desculpa que ela mesma acreditava.
Um dia, começaram a conversar.
A mulher do canto tinha sorriso fácil, olhos que sabiam escutar e uma doçura que deixava Aurora inquieta.
Tornaram-se amigas.
Aurora sentia o corpo diferente ao lado dela — algo pulsava por dentro, como se o mundo ganhasse outra cor.
Mas ela ignorou.
— É só uma amiga — dizia, tentando calar o que sentia.
Até que a amiga se casou.
Parou de cantar.
Parou de ir à igreja.
E Aurora sentiu sua falta como quem perde um segredo que ainda não teve coragem de contar nem para si mesma.
Em casa, tudo seguia igual.
Francisco continuava sendo o homem ideal.
O filho crescia forte.
A gravidez avançava bem.
Mas havia uma nota silenciosa dentro de Aurora — um acorde incompleto, uma melodia suspensa no ar, que ela não sabia nomear.
Ainda não.
...🌸...
...Uma sobreviveu ao silêncio....
...A outra se perdeu numa canção....
...Duas mulheres, dois destinos... e um amor que ainda não sabem que existe. 💫...
...Se esse drama delicado, intenso e cheio de sentimento te tocou......
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...E fica por aqui... porque o coração de Teresa e Aurora ainda tem muito a florescer. 🌷...
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Daiane
Nossa fiquei triste pela Teresa.
2025-06-23
3
Adriana Gomes
muito sofrimento e ainda ser julgada 😭
2025-07-09
1
💜🦋 Fuyuki 🐺💛
Eu leio para relaxar.
O que eu leio:
2025-06-23
1