ᯓA Linguagem dos Livros.
Na manhã seguinte, Yure mal conseguia pensar em outra coisa além da noite anterior.
A memória falhada. A sombra se manifestando.
E… o sorriso de Toshio no fim de tudo.
Aquilo ficou ecoando dentro dele mais que qualquer assombração.
No fim da aula, ele voltou para casa na pressa.
Pegou o caminho mais silencioso, atravessou a rua das cerejeiras e enfim … ali estava.
Finalmente em casa.
Entrou rapidamente e foi para o quarto,tomou um banho e se vestiu. Por fim...atravessou a parede do quarto.
Assim que cruzou a parede mágica, sentiu o ar diferente.
Era como se a própria estrutura da biblioteca soubesse que ele estava voltando.
As velas se acendiam sozinhas, os degraus se iluminavam.
E no andar principal, entre colunas e fileiras de livros intermináveis, estava Toshio.
Dessa vez, debruçado sobre uma mesa, com papéis espalhados, um mapa antigo e um objeto estranho que parecia… uma bússola feita de vidro e tinta flutuante.
Yure se aproximou em silêncio, mas Toshio falou antes:
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Sabia que viria.
*Disse ainda concentrado nos papéis que estavam sobre a mesa.*
𝐘𝐮𝐫𝐞 𝐍𝐚𝐤𝐚𝐦𝐮𝐫𝐚
— Como?
*Perguntou Yure se aproximando.*
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Os vivos carregam a urgência. Os mortos, não.
𝐘𝐮𝐫𝐞 𝐍𝐚𝐤𝐚𝐦𝐮𝐫𝐚
— Vim aprender. Você disse que ia me mostrar como usar a biblioteca…
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— E eu vou.
*Toshio respondeu, endireitando a postura.*
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Mas antes precisa entender: Isso aqui não é só um lugar. E uma criatura. Viva. E ela só se revela a quem confia.
Toshio estendeu a mão e mostrou o estranho objeto circular.
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Isso se chama Orilogia. Um medidor de memórias.
𝐘𝐮𝐫𝐞 𝐍𝐚𝐤𝐚𝐦𝐮𝐫𝐚
*Yure franziu o cenho, curioso.*
— E o que ele mede?
Toshio girou o aro da bússola.
Dentro dela, pequenas gotas de tinta azul começaram a se mover como se dançassem em espiral.
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Ele mede a força de uma lembrança. Quanto mais azul… mais viva.
Mas se ficar cinza… ela está morrendo.
Yure observava fascinado, os olhos fixos no objeto.
Toshio se aproximou, ficando bem ao seu lado,tão perto que seus ombros quase se tocavam.
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Quer tentar?
*Ele perguntou.*
Yure assentiu.
Toshio pegou a mão dele devagar o toque era quente, firme.
Guiou os dedos de Yure até a parte central da Orilogia.
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Pense em uma lembrança forte. Algo que a ligue a ela. Algo bonito. Mas verdadeiro.
𝐘𝐮𝐫𝐞 𝐍𝐚𝐤𝐚𝐦𝐮𝐫𝐚
Yure fechou os olhos.
Imaginou sua irmã rindo alto, os pés descalços na varanda, os dois comendo pão com geleia de uva em uma tarde de chuva.
Ela pegando a última fatia só para provocar e depois oferecendo de volta, rindo, como se fosse um jogo eterno entre eles.
Quando abriu os olhos, a Orilogia estava vibrando
A tinta azul dentro dela girava com tanta força que parecia virar luz líquida.
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
*Toshio sorriu.*
— Isso é raro.
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— A maioria só consegue trazer lembranças comuns. Você... faz elas dançarem.
Yure desviou o olhar, sem saber o que dizer. Mas não soltou a mão dele.
𝐘𝐮𝐫𝐞 𝐍𝐚𝐤𝐚𝐦𝐮𝐫𝐚
— O que mais posso fazer com isso?
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Pode seguir os rastros das memórias. Usar essa luz para localizar livros perdidos. Para restaurar o que foi apagado.
E…
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
*Toshio hesitou, os olhos brilhando com algo mais profundo.*
— Pode usar isso para proteger. Inclusive a si mesmo.
Por um segundo, o silêncio entre eles foi mais intenso que qualquer explicação.
As velas da biblioteca piscaram, como se estivessem prestando atenção.
Yure olhou para ele, de verdade.
Não como o guardião misterioso, ou o conhecedor dos mortos.
Mas como alguém que, apesar de tudo… estava ali.
𝐘𝐮𝐫𝐞 𝐍𝐚𝐤𝐚𝐦𝐮𝐫𝐚
— Você já perdeu alguém, não é?
*Ele perguntou, a voz baixa.*
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
*Toshio demorou a responder.*
— Já.
Mas o que me destruiu… foi quando esqueci como era a voz dela
Yure apertou a Orilogia entre os dedos, como se pudesse protegê-lo também.
𝐘𝐮𝐫𝐞 𝐍𝐚𝐤𝐚𝐦𝐮𝐫𝐚
— Então vamos encontrar a voz da minha irmã. Antes que ela desapareça também.
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
*Toshio assentiu.
Mas antes de se afastar, seu olhar ficou preso no de Yure por mais tempo do que deveria.*
𝐓𝐨𝐬𝐡𝐢𝐨
— Você… me lembra algo que pensei ter perdido.
*Diz ele com voz baixa,mas não o suficiente para que fosse ouvido.*
*E então Toshio, virou-se, seus passos ecoando pelos corredores.*
Yure não respondeu.
Mas o coração… esse, não parou de bater forte nem por um segundo.
𝐒𝐫𝐭. 𝐄𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚 (𝐄𝐮)
Espero que tenha aproveitado o capítulo,esse foi mais curto que os outros,mas fiz bastante dedicação.
𝐒𝐫𝐭. 𝐄𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚 (𝐄𝐮)
Até breve,e tenha um Bom dia/Boa tarde/Boa noite ou Madrugada!🍃
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