UM LADO NOVO DE SOPHIE

...KAYLA...

Sophie solta uma risada seca, o tipo que transborda exasperação, e volta ao trabalho, ignorando qualquer tentativa minha de me justificar. Quando ela pisa pela primeira vez na água que já havia alcançado o corredor, ela para, fecha os olhos e respira profundamente, como quem implora forças sobrenaturais para não explodir de raiva ali mesmo.

"Eu ainda sinto o cheiro de soju com mais soju, mesmo sem a camiseta." ela resmunga, franzindo o nariz em nojo.

Sophie avança até a porta do banheiro e me olha, os olhos faiscando tanto que por um segundo acho que ela realmente está pensando em me atirar na banheira e afogar.

"Eu já disse que sinto muito!" tento me defender, sentada na tampa da privada.

"Ah, é mesmo?" Sophie rebate com um tom tão cortante que me encolho ainda mais. "Porque isso, Kayla, ajuda demais."

Ela se vira e passa as mãos pelo cabelo, o olhar vagando como se calculasse qual das decisões a colocaria menos na cadeia por homicídio. Quando seus olhos voltam para mim, eu imediatamente desvio. Nunca mexa com Sophie quando ela estiver fora de si.

"Meu Deus," ela suspira de novo, mas dessa vez soa como se estivesse desistindo de lutar com o universo. "A água já chegou ao corredor... Merda. Merda!"

Eu fico quieta, ouvindo-a praguejar, incapaz de encontrar qualquer palavra útil que pudesse melhorar a situação. No fundo, sabia que ela tinha todo o direito de estar irritada comigo.

"Por que você ainda não pegou o rodo?" ela pergunta abruptamente, virando-se para mim com um olhar de genuína incredulidade, como se não conseguisse processar o nível da minha inutilidade.

"Pensei que... eu poderia sofrer um acidente se tentasse," respondo sinceramente, abaixando a cabeça.

Sophie me encara, boquiaberta, como se cada palavra que eu dissesse apenas adicionasse mais lenha ao fogo. Por um instante, achei que fosse estourar, mas ela apenas passou a mão pelo rosto, um sinal de que estava tentando ao máximo manter a calma.

"Claro," ela murmura, mais para si mesma do que para mim. "Sabe de uma coisa, Kayla? Fica. Sentadinha. Aí."

Ela tira o chinelo com raiva, jogando-o contra a parede com um "ploc" frustrado, e avança para o banheiro, pisando descalça na água. Meu coração dispara quando ela para ao meu lado, as mãos indo na direção do rodo, mas minhas mãos instintivamente sobem como um escudo.

" Eii calma aii!" gemo baixinho.

Ela apenas lança um olhar afiado na minha direção.

"Você não é digna nem da minha energia para isso," diz ela, pegando o rodo que estava encostado ao meu lado. Quando se levanta novamente, ela estende o dedo indicador bem próximo ao meu rosto, ameaçador. "Não. Saia. Dessa privada, Kayla. Ou, eu juro..."

Eu só consigo assentir com a cabeça, submissa, como uma criança pega no flagra.

"Ótimo." ela diz.

Sophie começa a sair do banheiro, mas de repente ela para no meio do caminho, como se tivesse lembrado de algo. Volta para o porta-toalhas, puxa uma toalha limpa e, sem me olhar, joga-a na minha direção.

"Vê se cobre isso. Tudo. Estou cansada de ver você... desse jeito, é de doer os olhos."

Franzo o rosto, sentindo o sangue pulsar nas têmporas, querendo retrucar. "O que você...?" começo a dizer, mas paro no instante em que Sophie gira a cabeça na minha direção. Seus olhos queimam como brasas, e o olhar incisivo que ela me lança é o suficiente para cortar qualquer palavra pela metade.

“Você quer falar alguma coisa?” A pergunta é simples, mas o tom faz o ar entre nós pesar.

Sacudo a cabeça imediatamente, quase engolindo em seco enquanto desvio o olhar para o chão molhado. “Perfeito,” ela diz, voltando ao trabalho de forma teatral, empurrando a água do corredor com movimentos firmes e exagerados, como se quisesse fazer o rodo atravessar o chão.

Permaneci na tampa da privada, sentada como uma criança de castigo, observando-a limpar o rastro de destruição que deixei. Sophie mantinha o foco no que fazia, o rosto sério e decidido, mas o som do rodo contra o piso não era suficiente para mascarar o tom agressivo em seus movimentos. Ela empurrava a água com uma intensidade tão grande que era como se estivesse descontando toda a sua frustração.

Quando ela se afastou para limpar o corredor, soltei um pequeno sussurro por entre os dentes, baixinho o suficiente para ela não ouvir claramente, mas o bastante para meu coração disparar. “Exagerada...”

Um barulho repentino interrompeu minha pequena rebeldia, e meu corpo ficou tenso de imediato. Virei o rosto rapidamente, temendo que ela tivesse ouvido e estivesse voltando para jogar o rodo na minha cara. Porém, o som não era dela, e eu, aliviada, apenas soltei o ar preso em meus pulmões.

Enquanto Sophie terminava de puxar toda a água do corredor, tentei olhar para qualquer outro lugar que não fosse ela. Mas era inevitável – meus olhos sempre acabavam voltando para sua figura. Seu foco, suas expressões cansadas, os fios de cabelo que escapavam de sua testa levemente suada.

Quando finalmente ela retornou para o banheiro, o vapor ainda restante do banho preenchia o espaço, deixando o ambiente abafado. Com o rosto determinado, ela retomou o trabalho de limpar o chão inundado com movimentos decididos, como quem quer se livrar logo daquela bagunça – e de mim.

Enquanto ela se mexia, reparei nos detalhes que nunca havia notado antes. Sophie estava apenas de shorts, sem camisa, pois havia perdido a dela no incidente com o vômito. Ela vestia um sutiã esportivo preto que moldava perfeitamente seu torso, deixando à mostra seus ombros esculpidos e a linha definida dos braços. Era difícil não perceber o quanto seu corpo refletia a disciplina e a força que ela colocava nos treinos.

Sem perceber, me peguei encarando-a, fascinada por cada pequeno detalhe: o movimento dos músculos dos ombros enquanto ela empurrava o rodo, a curva elegante de suas costas. Meu olhar vagou sem controle, captando as gotículas de suor que deslizavam lentamente por sua pele bronzeada.

Nunca tinha pensado nela assim antes. Para mim, Sophie sempre fora a mal-humorada do grupo, a que implicava comigo e tinha o pior temperamento. Mas agora, olhando para ela de perto, percebia outra dimensão que não havia notado. Ela não era só força e frieza – havia uma beleza natural que emanava dela, crua, quase hipnotizante.

De repente, meu peito apertou quando percebi que estava olhando por muito tempo. Droga, Kayla, ela vai perceber!, pensei, desviando o olhar com a mesma rapidez com que um ladrão esconde algo roubado. Olhei para o piso, para a parede – qualquer coisa que me fizesse parecer distraída e não alguém que acabara de ter um lapso de pensamento inesperado.

Sophie terminou de limpar o banheiro em silêncio, ainda claramente irritada. Enquanto ela se afastava para guardar o rodo, meu olhar retornou para ela por um breve instante, mas dessa vez mantive cuidado para não ser pega. Ainda assim, não pude evitar pensar que, mesmo com sua ira e frustração, havia algo nela que me prendia. Um tipo de gravidade, de força que me fazia sentir a necessidade de olhar de novo. E de novo.

"Eu não entendo por que você não deixou para o pessoal da limpeza cuidar disso", eu murmurei, incapaz de não notar o quanto ela já estava cansada.

Ela parou, com a expressão que eu conhecia bem – aquela mistura de frustração e desdém. "E você queria que eles vissem essa mer..." Ela estendeu os braços, como se procurasse uma palavra mais apropriada. "Essa bagunça?" Ela realmente estava me fuzilando com os olhos, e eu só podia esperar que a raiva não se transformasse em algo mais... difícil de lidar.

Mas Sophie não era do tipo de perder tempo com formalidades ou bondade. Como eu, ela sabia o que precisava ser feito e não se importava nem um pouco se estávamos confortáveis com isso.

Ela suspirou com impaciência, girando os olhos. "Se é que o Justin ficaria sabendo, e eu acho que você não quer ganhar mais pontos com ele, não é?"

Uma parte de mim queria retrucar, mas a outra parte, mais racional, sabia que ela estava certa. No fundo, era o mínimo que eu poderia fazer para tentar equilibrar tudo – ou, pelo menos, garantir que eu não fosse vista como uma constante dor de cabeça.

"Você tá certa", murmurei finalmente, aceitando o tom dela. "Valeu mesmo", acrescentando em um suspiro, mais sincero do que eu realmente queria que fosse.

Não éramos próximas, nunca seríamos, e eu sabia disso. Porém, naquele momento, algo me disse que Sophie talvez não fosse tão irreparável como eu costumava pensar. Ela estava só... sendo Sophie. Alguém que, no fundo, estava lidando com essa tempestade do mesmo modo que todos nós – sobrevivendo.

Ela então se levantou, ajeitando os ombros e quase sem mais palavras disse: "Eu vou tomar um banho, vê se não cai de bunda no chão dessa vez."

A ironia nos olhos dela não me escapou, mas eu só podia sorrir cansada e esfregar a testa. "Pode deixar", murmurei, observando-a sair do banheiro.

Eu ainda sentia os efeitos do meu corpo vagando entre a dor de cabeça e a tontura que parecia nunca ir embora completamente. Mas, de alguma forma, consegui encontrar forças para me levantar. O espelho à minha frente refletia uma versão de mim mesma que não conhecia – alguém um pouco perdida em sua própria bagunça, mas lutando para não afundar ainda mais.

Cautelosamente, sai do banheiro e voltei para o meu quarto. O ar lá estava um pouco mais tranquilo, mas o peso de tudo ainda estava sobre meus ombros. Abri o armário com preguiça e, depois de um momento, encontrei uma camisa confortável, simples – uma daquelas que eu usava quando queria me esconder do mundo. E, por baixo, puxei uma calça moletom surrada. A suavidade do tecido me abraçou enquanto eu a vestia.

Era como se cada peça de roupa fosse uma tentativa de encontrar alguma paz – algo mínimo que ainda pudesse ser controlado neste caos.

Tirei um segundo para olhar para a imagem refletida no espelho. A garota ali não parecia ser alguém que estava completamente à deriva, mas também não era exatamente a mais empoderada. No entanto, sabia que teria que continuar, mais por necessidade do que por vontade.

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Comments

rosicley

rosicley

mais,mais autora tá muito bom /Drool//Smile/

2025-07-01

1

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