CAOS TOTAL

...KAYLA...

Minha cabeça parecia um tambor prestes a explodir, latejando sem parar. Fechei os olhos, tentando ignorar o enjoo persistente que parecia revirar meu estômago como um furacão.

Virei-me na cama, procurando uma posição que trouxesse algum alívio, mas cada movimento só piorava. O cheiro azedo ao lado da cama me fez torcer o nariz. Meu olhar parou no balde já quase cheio.

"Ai..." soltei um gemido fraco, exausta dessa sensação horrível. "Que horas são?"

Estiquei o braço com cuidado, tentando evitar qualquer movimento brusco que pudesse me fazer vomitar no chão, e alcancei o celular na cômoda ao lado da cama. Meus olhos semicerrados focaram na tela, onde os números brilhavam claramente: 12h07 da tarde.

O alarme disparou na minha mente. Justin ia me matar. Já era a terceira vez que eu faltava no treino, e ele não era exatamente o tipo de pessoa que deixava essas coisas passarem sem um sermão.

Como se meus pensamentos invocassem o problema, o celular começou a vibrar na minha mão. Olhei para a tela, e lá estava: Justin. Seu nome piscava como uma sentença de morte.

Minha primeira reação foi hesitar. Eu realmente precisava atender e ouvir aquele sermão longo que certamente viria? Soltei um suspiro resignado antes de apertar na tela.

"Kayla?" Sua voz saiu direta, com aquele tom que me fez imaginar a expressão de frustração em seu rosto.

"Oi, Justin. Sou eu," respondi, já tentando mentalmente me preparar para o discurso.

"Você não foi ao treino de novo?" Ele manteve o tom calmo, mas não era preciso muito esforço para sentir a bronca se formando na base de suas palavras.

"Sim... Acordei meio mal hoje. Não tô muito bem," murmurei, forçando a voz a soar mais fraca, como se isso fosse convencer alguém.

"Hm." Ele fez uma pausa, mas eu já sabia que ele não tinha acreditado. "Será que é porque ontem você exagerou? Mesmo depois de eu te alertar para não exagerar?"

Travei. Minhas palavras sumiram. Ele sabia. Claro que sabia.

"Talvez..." soltei, sentindo a vergonha pesar no peito.

Justin suspirou do outro lado da linha, e eu podia imaginar sua expressão desapontada. "Você consegue ir na gravação hoje?" Sua voz tinha mudado, agora carregava um tom impaciente.

"Olha, eu—"

Ele cortou antes que eu terminasse. "Ótimo. Vou ter que cancelar." O tom seco nas suas palavras só piorava minha culpa. Ouvi o som familiar de sua cadeira girando enquanto continuava. "Kayla... já é a terceira vez. Ontem, tudo bem, foi um momento especial, mas você não pode continuar com isso, entendeu?"

"Entendi. Me desculpe," falei baixinho, antes que ele encerrasse a ligação.

A linha ficou muda. Soltei o celular ao meu lado na cama, encarando o teto com um sentimento pesado me afundando ainda mais no colchão.

"Droga..." sussurrei, sentindo a onda de náusea subir novamente.

Antes que fosse tarde demais, me curvei para alcançar o balde.

Forcei demais dessa vez. E agora, tudo o que me restava era pagar o preço.

Eu precisava de um banho urgente. O cheiro do balde ao lado da cama parecia impregnar o ar, e só de olhar para ele, senti um nó no estômago. Aquilo só fazia minha sensação de sujeira piorar.

Com dificuldade, forcei meu corpo a se erguer. Minha mão foi direto à boca, como se pudesse conter qualquer resquício de enjoo que insistisse em subir novamente.

Sem coragem de encarar o balde, agarrei-o com cuidado, desviando o olhar para o chão enquanto caminhava até o banheiro. O som do líquido sendo despejado na privada foi seguido imediatamente pelo alívio do barulho da descarga. "Acabou," pensei, mas meu corpo ainda estava exausto, e a fraqueza parecia grudar em mim como um peso invisível.

Sem perder mais tempo, comecei a me despir. Cada peça parecia pesar toneladas, e meus movimentos lentos deixavam claro que até o menor esforço era uma batalha. Apoiei-me contra a parede fria do banheiro, sentindo o contraste gelado contra minha pele quente e cansada.

Assim que terminei de tirar a última peça, deixei meu corpo seguir por instinto, praticamente cambaleando até a banheira. Por pouco não tropecei em mim mesma, mas consegui me apoiar na borda antes de cair de cara.

Com um cuidado exausto, sentei-me na banheira e alcancei a torneira. A água quente começou a escorrer, envolvendo minha pele gradualmente, e eu me encostei na borda, permitindo que o calor começasse a aliviar as dores e a náusea.

A água subia devagar, mas o som do fluxo constante era quase terapêutico. Respirei fundo e fechei os olhos, deixando que aquele momento de paz tomasse conta, ainda que por alguns instantes.

...SOPHIE...

Entro no apartamento e o silêncio reina absoluto. Pelo visto, Kayla ainda estava desmaiada – ou morta – na cama. Nada além do barulho dos meus próprios passos preenchia o espaço.

As meninas estavam fora. Yuna e Haley tinham ido gravar um comercial juntas – claro, o público adorava a dinâmica entre as duas. Já Minji estava em uma sessão de fotos. E eu? Livre para finalmente treinar a minha voz. Isso, claro, se a alcoólatra do grupo não tivesse me sido jogada no colo para cuidar como uma espécie de babá substituta.

Justin ligou, praticamente ordenando que eu ficasse de olho em Kayla. Como se eu fosse mãe dela. "Por que não a Minji?", pensei pela quinta vez. Ela e Kayla se dão muito melhor e, com certeza, Minji teria bem menos vontade de sufocá-la com o travesseiro.

Solto um suspiro de frustração. Bem, pelo menos ela deve estar apagada, o que me dá algum tempo para relaxar. Aproveito e vou direto para o meu quarto, ignorando solenemente a porta do quarto dela.

No banheiro, tiro rapidamente as roupas suadas e entro no chuveiro, deixando a água quente lavar a tensão do meu corpo. Ao sair, me enrolo na toalha, dando uma rápida olhada no celular. Uma notificação de Yuna aparece na tela.

"Como a Kayla está?"

Ótimo. Preciso mesmo checar como está a adorável fonte de problemas.

Ignoro a mensagem por enquanto e procuro algo confortável para vestir: uma camiseta larga e um shorts. Coloco o celular na cama e, ainda esfregando a toalha nos cabelos, saio do quarto e sigo para o de Kayla.

Minha mente já imagina o pior cenário possível: será que ela vomitou no quarto inteiro?

Abro a porta lentamente, mas paro ao ver a cama arrumada e vazia. Franzo o cenho. Aonde ela foi parar?

Um som de água correndo ecoa pelo apartamento e noto marcas molhadas pelo chão, como se alguém tivesse arrastado pés molhados dali até o corredor.

Mais que...!?

Meu coração acelera. Corro em direção ao banheiro, já preparada para o caos. Assim que abro a porta, a visão é catastrófica. O chão está alagado, mais parece uma piscina, e o vapor de água toma conta do ambiente.

"Kayla!?" grito, tentando localizar a causa disso. Vejo um reflexo na porta de vidro da banheira. Meu Deus. Não pode ser...

Puxo a porta com força e a encontro. Lá está Kayla, submersa no vapor e dormindo profundamente dentro da banheira transbordando. A água continua a jorrar como se estivesse destinada a criar um oceano ali mesmo.

"Você só pode estar brincando..." murmuro enquanto fecho rapidamente a torneira. Aproximo-me, o olhar dividido entre irritação e preocupação.

"Kayla?" digo, segurando seu ombro nu. Ela não reage. Meu peito aperta. Será que ela está bem?

"Kayla!!" chamo novamente, desta vez com mais força, quase sacudindo seus ombros. Finalmente, um gemido escapa dos lábios dela.

"Ain..." Ela abre os olhos, inchados e visivelmente confusos.

Solto um suspiro profundo, misto de alívio e fúria contida. "Mais que diabos você está fazendo!?" digo, minha voz carregada de incredulidade. "Tem noção da MERDA que você quase fez!?"

Ela pisca lentamente, como se processar o que estou dizendo exigisse um esforço sobre-humano. "O que aconteceu?" pergunta, ainda zonza.

Cruzo os braços, mordendo os lábios para não soltar o palavrão que estava na ponta da língua. Respiro fundo.

"Nada..." respondo, irônica. "Você só quase transformou o apartamento todo em um oceano."

Levanto-me, esfregando a mão no rosto, tentando me recompor.

Meu Deus, dá pra acreditar nisso?

"Eu... caí no sono," Kayla murmura, claramente falando o óbvio. Reviro os olhos, meu limite de paciência quase esgotado.

"Sério? Nem percebi," retruco com sarcasmo, encostando-me na parede para não cair. O chão inundado já alcançava meus tornozelos, e a sensação do piso escorregadio e molhado era tão incômoda quanto tudo naquele momento.

Volto minha atenção para Kayla no exato momento em que ela tenta se levantar. É uma tentativa miserável. Seu corpo escorrega de volta para a banheira, fazendo quase toda a água transbordar para o chão.

Será que eu mesma devo afogar essa mulher? Senhor... me ajuda a não cometer um crime aqui.

Respiro fundo, aproximo-me dela e estendo a mão, oferecendo ajuda. Kayla, parecendo mais drogada do que acordada, alterna o olhar entre minha mão e meu rosto, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.

"Vamos lá, Kayla," digo, tentando manter a paciência. Finalmente, ela pega minha mão com uma hesitação que só torna tudo mais frustrante. Seguro com firmeza enquanto ela tenta sair da banheira, usando minha força para se apoiar.

Perfeito, ótimo plano: ser arrastada para a bagunça.

Enquanto ela começa a se levantar, desvio os olhos instintivamente, forçando minha atenção para qualquer coisa que não fosse o corpo nu e molhado dela. Quando finalmente está em pé, ela murmura um "obrigada," a voz baixa e fraca. Não respondo. Apenas mantenho minha mão firme na dela, imaginando como limpar a catástrofe no banheiro.

Mas, claro, nada com Kayla é simples.

" Eii!" grito quando percebo seu equilíbrio falhar. Ela pisa em falso ao tentar sair da banheira, a perna escorrega, e o caos parece iminente. Meu reflexo é rápido. Solto sua mão e seguro sua cintura com força, impedindo-a de cair no chão alagado como um saco de batatas.

Sua pele quente e úmida encosta na minha camiseta, molhando o tecido no mesmo instante. Eu deveria estar focada em salvá-la, mas o incômodo da sensação me faz revirar os olhos de novo.

"Por favor, Kayla, é só andar em linha reta. Não é tão difícil!" exclamo, tentando estabilizá-la.

Ela se recupera, segurando-se em mim. Por um momento, tudo parece sob controle. Até que não está.

Sinto seu corpo tensionar, e ela se vira ligeiramente para mim. Seus olhos, desesperados, me alertam do inevitável, mas é tarde demais.

"Uéhhhhhh!"

O som é seguido por uma onda quente descendo pela minha camiseta.

Paro. O cheiro, a sensação... Tudo me atinge de uma vez.

Olho para cima, procurando por um último resquício de paciência. Talvez um milagre. Anjos poderiam começar a cantar, enviar ajuda celestial, alguma coisa. Mas tudo o que recebo é a realização de que acabei de ser vomitada.

Fico imóvel, as mãos ainda segurando sua cintura, enquanto ela termina.

"Kayla," digo com a voz baixa, tensa, tentando não explodir ali mesmo. "Você... acabou de vomitar em mim."

Ela levanta os olhos para me encarar, envergonhada.

"Desculpa..."

A palavra mal pronunciada é a última gota. Solto seu corpo e dou um passo para trás.

"Isso. É. Inacreditável," murmuro para mim mesma, tirando a camiseta lentamente, tentando não espalhar ainda mais o estrago.

Kayla tropeça, equilibrando-se na borda do balcão. Ainda pálida e com a expressão derrotada, ela sussurra novamente: "Eu realmente... sinto muito..."

"Não. Nem começa," digo, caminhando em direção à porta, a camiseta ensopada de água e outras coisas pendurada na minha mão. "Vou me trocar. E depois disso, VOCÊ vai limpar isso aqui."

Fecho a porta atrás de mim com força, deixando Kayla no caos que ela mesma criou.

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